Acordei sobressaltado nesta
madrugada. Na cena do pesadelo minha mãe repreendia-me severamente:
- “Respeite as pessoas, menino! Um dia você terá a idade dela e não
gostará nada de que façam contigo o que você está fazendo com ela agora! A
próxima vez que eu souber ou ver que você está zombando da Dona Zenólia eu vou
colocar você de castigo de cara para a parede, você me ouviu”?
Nós morávamos vizinhos a uma
numerosa família constituída por membros de várias gerações. Dona Zenólia era o
mais velho integrante dessa família e a cada dia sua senilidade tornava-se mais
aguda.
Em outras palavras: ela tinha ficado caduca.
Nada mais hilariante para um garoto
do que os atos insanos daquela senhora. Eu estava sempre lá, todos eram muitos
gentis e, embora não tivesse nenhum menino de minha idade no clã, eu gostava de
ir para lá. Claro, sobretudo, para guardar minhas gargalhadas dos disparates
absurdos de Dona Zenólia.
Lembro-me agora que os selemeleques
da pobre mulher viravam repertório para eu compartilhar com meus amigos de rua
e colegas de escola. Já bocudo, naquela época eu sempre aumentava, ou dava um
tom mais exagerado às atitudes da infeliz. E ria às bandeiras desfraldadas
junto com os meus amigos. Eles me pediam incessantemente para que eu os levasse
qualquer dia para presenciar.
Meu medo de minha mãe era tão
grande que, mesmo eu tendo pensado em cobrar ingresso para levar um par de
meninos de cada vez à casa vizinha, isto eu nunca fiz.
Era só eu chegar na roda e a turma
ia logo pedindo: “Conta aí, Lozinho... O quê
que a maluca aprontou agora”?
Ela se maquiava toda com borrões
que lhe davam um aspecto aterrorizante, colocava vestidos do lado avesso,
calçava sapatos com os pés trocados ou um de cada par, dizia disparates
incompreensíveis e, invariavelmente, quando alguém se aproximava dela ela
virava-se para o lado e perguntava a alguém que estivesse mais próximo: “Quem é?” Muitas vezes era um filho ou
uma filha ou um neto. Eu ela sempre dizia: “Quem
é este menino que não sai daqui de casa”?
Inúmeras vezes ela saia de seu
quarto e entrava abruptamente na sala de visitas e dizia: “Olha o que eu achei”! Nas mãos ela apresentava tudo o que
encontrasse pela casa. Roupas íntimas dos familiares, panelas, vassouras e todo
tipo de objetos. Do jeito que ela entrava saía da sala e de repente voltava
trazendo outro achado.
Nesta madrugada acordei
sobressaltado porque a cena do pesadelo que vivi dava conta de certa vez que
Dona Zenólia entrou na sala de visitas com um urinol (pinico) na mão e disse
com sua expressão mais ensandecida:
- “Olha a merda que eu achei”!
Será que eu estou vivendo praga de
mãe? Ou será que estou ficando caduco? Vou logo avisando a todos: quem sair aí
falando do que apresentei no último post ou em eventuais vindouros eu colocarei
todos de cara para a parede, ouviram?
Aguardem-me. Eu só vou ali e já
volto.
Até breve.
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