quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

TERROR



Vou para Maracangaia, mas não vou de chapéu de palha. O Mundo Novo tornou-se um lugar muito perigoso. Mesmo no Velho Mundo, berço e guarda do melhor da arte, da filosofia, da beleza, do charme, do melhor que há de representação do Humano.

Triste contemporâneo que mata de forma cruel, covarde, sem chances de defesa seus melhores palhaços. Personagens do trágico cômico do que é mais do que o Real da vida: a violência de pessoas humanas contra pessoas humanas.

“Prefiro morrer de pé a viver de joelhos”, teria dito um deles. Vivendo sob escolta policial desde 2011, quando o jornal sofrera outro atentado.

Penso que devemos refletir sobre o fato a partir de distinção complexa e tênue entre a Ironia e o Humor. A Ironia tem o objetivo de denunciar, de criticar ou de censurar algo. Para tal, o autor descreve a realidade com termos aparentemente valorizantes, mas com a finalidade de desvalorizar. A ironia convida o leitor ou o ouvinte, a ser ativo durante a leitura, para refletir sobre o tema e escolher uma determinada posição.

Corrosiva e implacável, a ironia é utilizada por aqueles que demonstram a sua capacidade de indignação, de forma divertida, para fulminar abusos, castigar, rir, os costumes, denunciar determinados defeitos, melhorar situações aberrantes, vingar injustiças… Umas vezes a ironia é brutal, outras mais sutil.

Já o humor é determinado essencialmente pela personalidade de quem ri. Por isso, pode-se pensar que o humor não ultrapassa o campo do jogo ou os limites imediatos da sanção moral ou social.

Eu disse, é complicado, mas a Ironia carrega em si um “veneno corrosivo” letal enquanto o humor, provavelmente venha com um veneno que a própria vítima acaba no limite “rindo” da crítica.

Alguns entendem que a Ironia é maquiavélica, no sentido do maior mal que possa conter uma ação de alguém “contra” alguém. O Humor, por sua vez, é quase “infantil”, tolerável, admissível.

Nessa linha alguns podem entender que os cartunistas foram (mais) irônicos e não humoristas. A pena de nanquim seria mesmo uma arma com projeteis que, na guerra instalada ideológica/religiosa, se assemelharia aos fuzis dos algozes.

Em um dos cartuns em resposta ao ato há a representação da figura de um dos agressores com a arma em punho e a vítima ensanguentada no chão. A legenda diz: “Ele desenhou primeiro”. Profunda e trágica conclusão.

Vou para Maracangaia, mas não vou de chapéu de palha. Conversei com pessoas que têm parentes em Londres e amigos vivendo em Paris. Uns e outros estão apreensivos. É muito difícil estar em um ambiente onde o inimigo não se apresenta reconhecível, em uniformes, que tem suas bases militares, seus quartéis, seu ponto estratégico vulnerável. Pode ser aquele sujeito ali, de barba e cabelos sobre os ombros com quem viajo agora no Metrô. Ou aquele por quem passei ontem à tarde quando descia as escadas do prédio onde tenho instalado o meu escritório.

Pode ser o meu namorado, o meu vizinho, o meu colega de trabalho, o entregador de pizza, o balconista do supermercado. Pode ser qualquer um ou dois, no máximo três.

Estávamos começando a julgar o atentado de Boston essa semana.

Ironia Pura.



Até breve. 

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