Vou para Maracangaia, mas não vou
de chapéu de palha. O Mundo Novo tornou-se um lugar muito perigoso. Mesmo no
Velho Mundo, berço e guarda do melhor da arte, da filosofia, da beleza, do
charme, do melhor que há de representação do Humano.
Triste contemporâneo que mata de
forma cruel, covarde, sem chances de defesa seus melhores palhaços. Personagens
do trágico cômico do que é mais do que o Real da vida: a violência de pessoas
humanas contra pessoas humanas.
“Prefiro morrer de pé a viver de joelhos”, teria
dito um deles. Vivendo sob escolta policial desde 2011, quando o jornal sofrera
outro atentado.
Penso que devemos refletir sobre o
fato a partir de distinção complexa e tênue entre a Ironia e o Humor. A Ironia
tem o objetivo de denunciar, de criticar ou de censurar algo. Para tal, o autor
descreve a realidade com termos aparentemente valorizantes, mas com a
finalidade de desvalorizar. A ironia convida o leitor ou o ouvinte, a ser ativo
durante a leitura, para refletir sobre o tema e escolher uma determinada
posição.
Corrosiva e implacável, a ironia é
utilizada por aqueles que demonstram a sua capacidade de indignação, de forma
divertida, para fulminar abusos, castigar, rir, os costumes, denunciar
determinados defeitos, melhorar situações aberrantes, vingar injustiças… Umas
vezes a ironia é brutal, outras mais sutil.
Já o humor é determinado
essencialmente pela personalidade de quem ri. Por isso, pode-se pensar que o
humor não ultrapassa o campo do jogo ou os limites imediatos da sanção moral ou
social.
Eu disse, é complicado, mas a
Ironia carrega em si um “veneno corrosivo”
letal enquanto o humor, provavelmente venha com um veneno que a própria vítima
acaba no limite “rindo” da crítica.
Alguns entendem que a Ironia é
maquiavélica, no sentido do maior mal que possa conter uma ação de alguém “contra” alguém. O Humor, por sua vez, é
quase “infantil”, tolerável, admissível.
Nessa linha alguns podem entender
que os cartunistas foram (mais) irônicos e não humoristas. A pena de nanquim seria
mesmo uma arma com projeteis que, na guerra instalada ideológica/religiosa, se
assemelharia aos fuzis dos algozes.
Em um dos cartuns em resposta ao
ato há a representação da figura de um dos agressores com a arma em punho e a
vítima ensanguentada no chão. A legenda diz: “Ele desenhou primeiro”. Profunda e trágica conclusão.
Vou para Maracangaia, mas não vou
de chapéu de palha. Conversei com pessoas que têm parentes em Londres e amigos
vivendo em Paris. Uns e outros estão apreensivos. É muito difícil estar em um
ambiente onde o inimigo não se apresenta reconhecível, em uniformes, que tem
suas bases militares, seus quartéis, seu ponto estratégico vulnerável. Pode ser
aquele sujeito ali, de barba e cabelos sobre os ombros com quem viajo agora no
Metrô. Ou aquele por quem passei ontem à tarde quando descia as escadas do
prédio onde tenho instalado o meu escritório.
Pode ser o meu namorado, o meu
vizinho, o meu colega de trabalho, o entregador de pizza, o balconista do
supermercado. Pode ser qualquer um ou dois, no máximo três.
Estávamos começando a julgar o atentado
de Boston essa semana.
Ironia Pura.
Até breve.
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