terça-feira, 13 de janeiro de 2015

DIADORIM



Você já ouviu falar do Anjo de Hamburgo? Aracy Moebius de Carvalho (1908-2011) era uma brasileira que, ainda jovem recém-divorciada do primeiro marido (com quem teve um filho), saiu do Brasil em 1935 para morar com uma irmã na Alemanha, levando consigo a criança então com cinco anos de idade.

Lá passou a trabalhar como Chefe do Setor de Passaportes do consulado brasileiro onde, quando a perseguição promovida por Hitler apertou, decide ajudar judeus a emigrarem para o Brasil, contrariando o regime nazista e as circulares secretas emitidas pelo governo Getúlio Vargas. Foi, por assim dizer, a “Schindler brasileira”, já que suportou toda a pressão e os riscos inerentes de seus atos para fazer aquilo que considerava correto: salvar vidas, da maneira que lhe fosse possível.

Em seu trabalho, ela ajudou diversos judeus a desembarcar no Brasil, à revelia de sua chefia. Apesar das restrições determinadas por Getúlio Vargas a entrada deles no país, Dona Aracy usou de seus artifícios para conseguir fazer com que pelo menos uma centena de judeus fugisse da Alemanha.

Única brasileira inscrita na Avenida dos Justos entre as Nações, em Jerusalém, Dona Aracy morreu de causas naturais em 2011, na cidade de São Paulo, com 103 anos.

Pois é, eu também não sabia do Anjo de Hamburgo.

No sábado assisti no canal Arte 1 ao filme documentário dirigido por Caco Ciocler  “Esse viver que ninguém me tira” e me encantei.

Ciocler, que é judeu, diretor estreante, foi convidado quando o projeto já estava em andamento. Mais do que simplesmente assinar o filme, ele o assumiu para si e, a partir de então, o transformou. Em meio às pesquisas para o documentário, percebe elos impressionantes consigo mesmo. E, através deles, abre seu coração.

O documentário aos poucos se torna sobre Ciocler. Sem demérito algum, porque a transição não diminui os feitos do Anjo de Hamburgo e ainda ressalta características típicas da sociedade atual, fazendo refletir. Um filme delicado e que surpreende pelo rumo autoral da narrativa, tão bem revelado na desconcertante e singela cena pós-créditos onde Caco Ciocler tem uma conversa franca com seu avô.

Um detalhe nas agendas de Dona Aracy chamou a atenção da roteirista do documentário: “A suástica, símbolo nazista, aparecia em todos os meses da agenda. O que significava aquilo? Segundo pesquisadores, era a menstruação dela. Eu, como mulher, e não como judia, imagino que ligar o símbolo ao sangue era uma forma de falar da loucura que é menstruar”, analisa Alessandra Paiva, que teve acesso a mais de cinco mil documentos, guardados no Instituto de Estudos Brasileiros, em São Paulo.

A atuação de Dona Aracy não ficou restrita à Segunda Guerra Mundial. Durante a ditadura militar brasileira, ela escondeu o músico Geraldo Vandré na casa dela. No Instituto de Estudos Brasileiros, estão duas cartas do compositor de “Pra Dizer que não Falei das Flores”, em que ele agradece o tempo que permaneceu clandestinamente na casa da viúva de João Guimarães Rosa.

Sim, Dona Aracy conheceu o seu “amorzinho” em Hamburgo, onde ele era Consul Adjunto na Embaixada Brasileira.




Até breve.

2 comentários:

  1. Não sabia tambem...Muito interessante! Cultura...

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  2. Gostei do post. Para mim foi informação, não sabia.

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