Vamos combinar o seguinte: você fecha
o ano.
Eu abro o novo. Daqui a pouco será
2015 e não se falará mais em 2014. Apenas as redes de TV e suas tradicionais
resenhas fantásticas. Lembram-se dos crimes, dos acidentes, dos futebóis, dos
casamentos e dos divórcios, das liberalidades sociais e das conquistas?
Pois bem, não interessam mais.
Vamos aos novos crimes, aos novos acidentes, às novas partidas de futebol, aos
casamentos e aos divórcios. Às novas conquistas e liberalidades sociais.
Se bem que podíamos inovar para o
próximo ano.
A imprensa não noticiará mais.
Os crimes ficarão restritos aos
seus espectadores imediatos. Os acidentes, idem. As partidas de futebol apenas
aos torcedores presentes nos estádios. Os casamentos aos nubentes e eventuais
padrinhos e parentes próximos. Os divórcios ao requerente e ao tabelião.
Não ocorrerão conquistas e
liberalidades sociais. Tudo ficará como está.
Ninguém passará nenhuma informação,
nem em domicílio. Tudo ficará reservado aos assistentes dos fatos. Nenhuma
versão será autorizada, nem obra de ficção será escrita.
Nenhum poema virá à luz.
O cinema não passará filmes. Os
teatros se calarão. Exposições de artes ficarão em museus cerrados. A TV ficará
com seus chuviscos alternados por agudos sibilantes.
Não se olharão olhos nos olhos.
Ninguém irá ao trabalho, nem a
supermercados, shoppings, boutiques, salões de beleza. Nem a hospitais, consultas
médicas, massagens e nem sequer a manicures. Muito menos a prostíbulos, boates,
bares. Restaurantes.
Os cães não latirão nos vazios da
noite.
Ônibus municipais, interestaduais,
nem aviões operarão. Carros não circularão.
Rios não seguirão seu curso. Não
ocorrerão cheias ou marés baixas dos mares. O sol não brilhará, nem a lua. O céu
ficará à nu.
Ninguém nascerá, ou morrerá. A não
ser que se queira. Escolherá como, onde, com quem e por que. Dali se reduzirá
ao mesmo.
Choverá à noite. Enchentes somente
em lugares pré-estabelecidos e já conhecidos de todos. Não haverá rezas, nem
lamúrias pelo ocorrido. Lamas ficarão expostas até o próximo período.
Ao fundo se repetirá pelos
trezentos e sessenta e quatro dias do ano ininterruptamente Carmina Burana.
No último dia do ano:
Moscas quedarão inertes.
Vazio.
Até breve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário