quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

CTI



Não é só o Amor (aquele de “você sabe o que é ter um amor meu senhor, ter loucura por uma mulher”) e a Canção (aquela de “não canto prá enganar, vou pegar minha viola, vou deixar você de lado, vou cantar em outro lugar”) que ficaram antigos, bregas ou feneceram.

A decência e o respeito também, há muito, sinaliza seu estertor.

A Presidência da República baixou decreto no último dia 28 destinando, como suplemento orçamentário, R$444,7 milhões para que sejam distribuídos entre os parlamentares para que os mesmos gerem benefícios às suas bases, o que daria em torno de R$750 mil por parlamentar.

A indecência não está só na fala de ontem do Senador, presidente do Congresso Nacional, de que todo ano isto ocorre. A indecência está que todos nós sabemos que boa parte deste recurso não chega ao seu destino, se perde na enervação corrupta. Poucos daqueles apaniguados mandam fazer cartazes em suas cidades: “Obrigado, deputado, por ter nos dado a Avenida Sanitária”; “Jamais vamos esquecê-lo por ter reformado a cantina de nossa escola”; e outros. O que é também uma indecência para sustentar votos da próxima eleição.

A indecência está no corpo do decreto que condiciona a aprovação desta verba suplementar à aprovação do Projeto de Lei que reduz de R$90 bilhões para R$10 bilhões o superávit primário, um projeto que se quer foi votado pelo parlamento. Ou seja, o toma-la-dá-cá seria agora legalizado.

O senador Pedro Simon disse que, em trinta e dois anos de mandato, nunca viu barbaridade igual. A institucionalização da barganha, do casino, por força de lei.

O risco do Projeto de Lei não ser aprovado e tudo caminha para que não seja, assim como foi com o Projeto que instituía os Conselhos Populares, é que a Presidência da República estará à descoberto em relação à Lei de Responsabilidade Civil, que é aquela que determina aos governantes a adequada aplicação dos recursos públicos.

O desrespeito, por sua vez, está denunciado no episódio protagonizado pelo Ricardo Darin no filme Relatos Selvagens. O Estado não respeita o Cidadão. Uma lei determinou que as empresas de transporte urbano devessem se adequar, no prazo de dez anos, à acessibilidade dos portadores de necessidades especiais aos seus veículos.

O prazo termina hoje. Ontem matéria jornalística acompanhou uma senhora que ficou mais de uma hora aguardando em ponto que passasse um ônibus dotado de elevador, até que, sem condições, teve que pegar um taxi.

Ontem também, uma executiva de 38 anos embarcou em Foz do Iguaçu, arrastando pela escadaria de acesso à aeronave. A companhia alegou que não tinha disponibilidade do equipamento. A mulher, altiva, pediu que não se fizesse sensacionalismo do ocorrido e que não acionaria a justiça contra a companhia aérea. Ao contrário ela pretende ajudar à companhia a aprender como lidar com seus clientes.

Pobre de ti, Pátria Idolatrada, a Educação é outra que se assemelha à analgésico para câncer.


Katya Hemelrijk da Silva tem osteogenese imperfeita, chamada de síndrome do ossos de cristal. Foto: Reprodução





Até breve.

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