“Estou indo para Porto Alegre, de lá para Patagônia. Eu estou te
deixando, Violeta. Se continuarmos juntos vamos nos destruir mutuamente... Eu
não te amo mais... Eu não te amo mais”...
Em oitenta minutos de filme, Karin
Aïmoz, inspirado na canção Olhos nos
olhos de Chico Buarque e na majestosa e extraordinária interpretação de
Alessandra Negrini, nos arrebata.
Abismo Prateado é um filme ímpar.
Boa parte das locações explicitam
cenas em que a personagem de Alessandra, Violeta, está nas ruas, lugar do
desamparo, do caos, da vertigem. Dos sons poucos ou estridentes, assustadores,
nervosos, dantescos e perigosos como é o turbilhão de sentimentos vividos por
Violeta depois de ouvir, no celular, gravação do marido com quem estava casada
há mais de quinze anos.
Alessandra é uma mulher belíssima
em sua dor da perda. Pungente, sanguínea, contundente, em um silêncio solitário
e desesperado, ao longo de boa parte do filme, que só mesmo as atrizes
especiais são capazes de transmitir enquanto personagens.
Ela está na academia de ginástica
cumprindo sua rotina diária, quando ouve a gravação no celular. Sua vida
organizada de mulher casada e mãe de um adolescente sofre uma reviravolta e é
aí que Alessandra nos brinda com a evolução de sentimentos de uma mulher
abandonada.
As horas subsequentes à notícia são
filmadas em close permanente das expressões faciais e dos movimentos corpóreos da
personagem. Ela gravita por lugares vários, perdida, enlouquecida, é atropelada
por uma moto, sofre uma queda que lhe abre um corte na testa.
O filme em si é uma pérola de
edição e montagem porque consegue retratar o trabalho magnifico de construção
da personagem por Alessandra. A evolução do processo em que Violeta elabora a
perda do desespero à, suponho, a aceitação é de riqueza artística sem par.
O cinema me fascina por isto. Há
uma cena em que Violeta de frente ao espelho “fecha” o corte na testa com o uso de três pedaços pequenos de
esparadrapo é de um valor simbólico acachapante.
O cinema me encanta por isto. Em noventa
por cento do tempo do filme não há diálogos, apenas as expressões em close da
atriz, e são extraordinariamente suficientes para encerrar uma linguagem que
nos sufoca.
No epílogo, a música de Chico, nos
joga a pá de cal.
Até breve.
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