Ocorreu-me de perguntar sobre o
Amor. O amor de um homem por uma mulher, não mais exclusivo, ao saber de todos,
na medida em que pode o amor se dar de um homem a outro homem, de uma mulher a
outra mulher.
Ficou antigo, para não dizer que
acabou. Acabou aquele amor doentio, visceral, matéria de conversas entre
amigos, em bares, virando ébrias e enfumaçadas tabáticas madrugadas.
Aquele amor ingênuo, inspirador de
compositores e poetas, muitos falecidos do mal, pelo mal, por força do mal de
amor. Mataram-se e morreram por amor. O que se escreveu e o que se compôs em
boleros, sambas, MPB, apenas para ficar na produção nacional não está no gibi.
“Não está no gibi” também morreu, assim como o amor.
Era aquele que levava o sujeito a ficar
horas a fio aguardando que a amada passasse pelo caminho, independentemente se
chovesse ou fizesse sol. Aquele ficava ali apenas para olhar aquela que lhe
fazia o coração disparar, que lhe dava tremor nas pernas, enrubescia o rosto.
O tesão era mais platônico do que
de Eros, porque a beleza estava a princípio em outro lugar.
O amor era exclusivo, dirigido a
uma única, mesmo que se olhasse para outras, mas o amor era único e eterno,
pelo menos enquanto durasse.
Que não se faça juízo de valor se
era melhor ou pior, mas que se aceite que aquele amor ficou antigo ou mesmo
acabou. Diz aí quem hoje já escreveu poema em papel de maço de cigarros, mandou
que o rádio tocasse a “nossa” música,
pediu a alguém que vá a ela dizer que está apaixonado ou gamado por ela?
Diz aí que roda a pé um quarteirão
inteiro zilhões de vezes esperando que ela surja na janela apenas para vê-la já
que não se tem coragem de se dirigir a ela. Ah, esse amor ficou antigo ou
morreu.
Com ele ficaram antigos ou morreram
tantas humanidades ingênuas, desprovidas de superficialidades ou carregadas de
mistérios. Talvez a maior mudança dos últimos tempos seja esta: o amor ficou
antigo ou morreu.
Sobrou, quem sabe, a dependência de
companhia. A solidão ainda é pior. Quem sabe a partilha dos custos de moradia.
Não sei.
Não sei do amor de hoje.
Talvez fragmentos em Cinema
Paradiso dê conta do que estou tentando dizer. Assistam em PARADISO
Em 2015 Maurice Capovilla e outros
lançam o filme Nervos de Aço, filmado
em Porto Alegre, terra de um dos mais fiéis cantadores desse amor, antigo e que
já morreu. Vejam em NERVOS.
Até breve.
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