segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

ANTIGUIDADES



Ocorreu-me de perguntar sobre o Amor. O amor de um homem por uma mulher, não mais exclusivo, ao saber de todos, na medida em que pode o amor se dar de um homem a outro homem, de uma mulher a outra mulher.

Ficou antigo, para não dizer que acabou. Acabou aquele amor doentio, visceral, matéria de conversas entre amigos, em bares, virando ébrias e enfumaçadas tabáticas madrugadas.

Aquele amor ingênuo, inspirador de compositores e poetas, muitos falecidos do mal, pelo mal, por força do mal de amor. Mataram-se e morreram por amor. O que se escreveu e o que se compôs em boleros, sambas, MPB, apenas para ficar na produção nacional não está no gibi.

“Não está no gibi” também morreu, assim como o amor.

Era aquele que levava o sujeito a ficar horas a fio aguardando que a amada passasse pelo caminho, independentemente se chovesse ou fizesse sol. Aquele ficava ali apenas para olhar aquela que lhe fazia o coração disparar, que lhe dava tremor nas pernas, enrubescia o rosto.

O tesão era mais platônico do que de Eros, porque a beleza estava a princípio em outro lugar.

O amor era exclusivo, dirigido a uma única, mesmo que se olhasse para outras, mas o amor era único e eterno, pelo menos enquanto durasse.

Que não se faça juízo de valor se era melhor ou pior, mas que se aceite que aquele amor ficou antigo ou mesmo acabou. Diz aí quem hoje já escreveu poema em papel de maço de cigarros, mandou que o rádio tocasse a “nossa” música, pediu a alguém que vá a ela dizer que está apaixonado ou gamado por ela?

Diz aí que roda a pé um quarteirão inteiro zilhões de vezes esperando que ela surja na janela apenas para vê-la já que não se tem coragem de se dirigir a ela. Ah, esse amor ficou antigo ou morreu.

Com ele ficaram antigos ou morreram tantas humanidades ingênuas, desprovidas de superficialidades ou carregadas de mistérios. Talvez a maior mudança dos últimos tempos seja esta: o amor ficou antigo ou morreu.

Sobrou, quem sabe, a dependência de companhia. A solidão ainda é pior. Quem sabe a partilha dos custos de moradia. Não sei.

Não sei do amor de hoje.

Talvez fragmentos em Cinema Paradiso dê conta do que estou tentando dizer. Assistam em PARADISO

Em 2015 Maurice Capovilla e outros lançam o filme Nervos de Aço, filmado em Porto Alegre, terra de um dos mais fiéis cantadores desse amor, antigo e que já morreu. Vejam em NERVOS.



Até breve.

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