quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

CAIS



“Pelo amor de Deus chega de pessimismo. Afinal está começando um tempo novo!!!”

Tá bem, então vamos lá.

Para quê contamos o tempo? Para que nomeamos janeiro, março, abril, dia 14, sexta-feira, 2014? Apenas por uma razão: para termos a esperança de que o tempo poderá ser diferente e para melhor à frente.

Ter a lógica do tempo é, fundamentalmente, acreditar ser possível outro amanhã. A utopia de viver cada dia em direção aos sonhos e projetos idealizados e perseguidos com determinação.

Viver com os olhos postos adiante só faz sentido se for em direção a algo que nos é caro, importante, necessário, desejado e principalmente que nos remeta à abstrata felicidade.

- “Onde é?” Perguntaria Noninha com uma pronúncia doce que me enche o coração de alegria.

Onde está a felicidade que nutre a perspectiva?

Sempre, penso, na crença de que estou construindo o que melhor posso, agradecendo a cada dia por estar vivo e relativamente lúcido, buscando a crítica como contribuição à reflexão, a indignação como combustível ao Humano.

A felicidade se encontra na colheita que resulta de filhos dignos. A felicidade se encontra em netos sadios e que procuram o meu colo, por afeto.

A felicidade é um porto sem amarras para que se vá e se volte, reexperimentando-o.

A felicidade está logo ali, ao alcance da mão.

Simples, assim.

Agradeço a todos que estiveram aqui junto comigo. Tolerando-me pelas minhas idiossincrasias, meus maus estares, minhas queixas, minha modesta arte de contar tolas estórias.

Agradeço e desejo a cada um que abriu a tela em mim que encontre o caminho do porto feliz e que tenha inúmeras razões para voltar a ele e sempre.

Feliz tempo novo e que a colheita seja pródiga.


Até breve. 

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

MEDIDA



Claro está que DESTÍTULO é um destempero surreal, cortarziano, absurdo. Ninguém, nem eu mesmo, entendemos muito bem moscas quedarão inertes...

Fazer o quê? Como despertar para um real tão ou mais absurdo? Medidas divulgadas ontem darão a tônica do Governo Federal na redução dos seus gastos: o Auxílio Doença só será concedido agora após o 30º dia de afastamento e não mais após o 15º; Pensões por morte após dois anos da perda; caso o previdenciário faleça com até 44 anos não será facultada à viúva a pensão vitalícia.

"O objetivo é mais transparência, que ajuda no controle social dos programas", observou o ministro responsável pela divulgação das medidas.

Um país inteiro de 200 milhões de pessoas recebe a notícia das medidas de ajustes da economia no mesmo momento em que vão sendo nomeados 39 ministros que sangram muito mais o caixa do que as merdas das mulheres que não tinham nada que ficarem viúvas, nem esses cidadãos endêmicos que insistem em adoecerem ou os infelizes que, perdendo o emprego, recorrem ao seguro com o único objetivo de drenarem fundos importantes a serem alocados em investimentos para o engrandecimento do futuro da nação.

Moscas quedarão inertes.

É como ouvir Hilda dizer que recebeu o complemento Furacão em seu nome, não por força de seus maquiavélicos instintos carnais, mas porque era muito brava.

Pobres de nós, desesperados que observamos tudo sem a menor potência para alterar o curso.

No entanto, como em todo dezembro, nos alucinamos e damos os mesmos abraços em pessoas que não são necessariamente as mesmas, pulamos ondinhas, nos maravilhamos com as 24 toneladas de fogos que artificiam a nossa perversa alienação.

Confesso que o fato de eu ter deixado de tomar meu remedinho contra depressão não está me fazendo nada bem. Época em que tomava regularmente o comprimidinho eu escrevia posts menos cáusticos.

Se bem que recebi uma foto de Noninha que me deixou preocupado. Há mesmo algo de errado no reino da Dilmamarca.




Até breve.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

DESTÍTULO



Vamos combinar o seguinte: você fecha o ano.

Eu abro o novo. Daqui a pouco será 2015 e não se falará mais em 2014. Apenas as redes de TV e suas tradicionais resenhas fantásticas. Lembram-se dos crimes, dos acidentes, dos futebóis, dos casamentos e dos divórcios, das liberalidades sociais e das conquistas?

Pois bem, não interessam mais. Vamos aos novos crimes, aos novos acidentes, às novas partidas de futebol, aos casamentos e aos divórcios. Às novas conquistas e liberalidades sociais.

Se bem que podíamos inovar para o próximo ano.

A imprensa não noticiará mais.

Os crimes ficarão restritos aos seus espectadores imediatos. Os acidentes, idem. As partidas de futebol apenas aos torcedores presentes nos estádios. Os casamentos aos nubentes e eventuais padrinhos e parentes próximos. Os divórcios ao requerente e ao tabelião.

Não ocorrerão conquistas e liberalidades sociais. Tudo ficará como está.

Ninguém passará nenhuma informação, nem em domicílio. Tudo ficará reservado aos assistentes dos fatos. Nenhuma versão será autorizada, nem obra de ficção será escrita.

Nenhum poema virá à luz.

O cinema não passará filmes. Os teatros se calarão. Exposições de artes ficarão em museus cerrados. A TV ficará com seus chuviscos alternados por agudos sibilantes.

Não se olharão olhos nos olhos.

Ninguém irá ao trabalho, nem a supermercados, shoppings, boutiques, salões de beleza. Nem a hospitais, consultas médicas, massagens e nem sequer a manicures. Muito menos a prostíbulos, boates, bares. Restaurantes.

Os cães não latirão nos vazios da noite.

Ônibus municipais, interestaduais, nem aviões operarão. Carros não circularão.

Rios não seguirão seu curso. Não ocorrerão cheias ou marés baixas dos mares. O sol não brilhará, nem a lua. O céu ficará à nu.

Ninguém nascerá, ou morrerá. A não ser que se queira. Escolherá como, onde, com quem e por que. Dali se reduzirá ao mesmo.

Choverá à noite. Enchentes somente em lugares pré-estabelecidos e já conhecidos de todos. Não haverá rezas, nem lamúrias pelo ocorrido. Lamas ficarão expostas até o próximo período.

Ao fundo se repetirá pelos trezentos e sessenta e quatro dias do ano ininterruptamente Carmina Burana.

No último dia do ano:

Moscas quedarão inertes.

Vazio.



Até breve.

sábado, 27 de dezembro de 2014

HORIZONTE



No rádio o poeta canta que é pista vazia esperando aviões e eu, comigo, balanço o tempo. O céu borrado de traços avermelhados anuncia que o astro rei vem a qualquer momento inundar o dia.

Esgota-se mais uma quantidade compartimentada da existência, estamos por alguns instantes para encerrar mais um ano. É morno o passar das horas, apenas fermentado pela presença em casa de crianças.

Afora as perdas inexoráveis, ganhos expressivos. Olhando não enxergo tão bem como há um ano, claro que em pequenas medidas. Mesmo com novos óculos, eu vejo que a visão se esvai, um pouquinho a cada ano. No ouvido esquerdo o zumbido permanece azucrinando a escuta.

De ganho essencial, dois netos.

De fundamental algumas ilusões renovadas trazidas do macro: um Papa que interfere; uma escola de jiu-jítsu em Jerusalém que ensina crianças árabes, muçulmanas e judias a palavra convivência; uma justiça no Brasil que assinala uma limpeza, ainda que à jato.

A minha esquerda, me aguarda O Capital no século XXI, de Thomas Piketty, best seller que recebeu de Bill Gates o comentário: “Espero que seu trabalho estimule mais pessoas competentes a estudar a desigualdade de riqueza e de renda. Quanto mais entendermos das causas e curas, melhor.”

Epigrafe na introdução do livro de Piketty: “As distinções sociais só podem se fundamentar na utilidade comum” Artigo I, Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão, França, 1789.

Enunciado tão antigo quanto, a propósito no Brasil, o loteamento de cargos para sustentar a governabilidade. Trinta e nove ministérios e, entre eles, Aldo Rebelo na Ciência e Tecnologia. Pobre país desinovado.

Aqui é de todo provável que continuemos nosso espetáculo de mediocridade, quando lá atrás nos prometeram um espetáculo de crescimento: é duro de engolir 0,13% este ano.

No micro, penso em incrementar o labor profissional, também por conta das contas, que não são poucas.

No mícron, penso em continuar essas catarses, destilar meus venenos arcaicos e sem eco, minhas angústias várias, meus dissabores todos, meus olhares enviesados e desprovidos de fundamentos lógicos.

Pro ano deve de ter novas conquistas essenciais, uma helênica, quem sabe?

É o que dizem.



Até breve.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

NATALidades



Em infância era diferente.

Algo se passaria ao longo da madrugada de 24 para 25. E para tanto semanas antes era necessário construir o presépio. Minha mãe tirava do armário, embalados e colocados cuidadosamente em caixas de papelão, os personagens.

O principal deles, o protagonista, só era colocado à zero hora do dia 25.

Parece que algo acontecia entre os membros da família. As desavenças, os mal- entendidos, as pendengas eram deixadas de lado e a casa revestia-se de algo que na época chamava perdão.

Já na manhã de 24 estávamos todos ansiosos pela chegada da noite quando nos reuníamos para a ceia, a Missa do Galo, a colocação de Menino Jesus na manjedoura. A ligação das luzes do presépio de três metros de largura por cinco de comprimento. Com seus riachinhos, seus animais e na medida em que o tempo passava a aproximação dos Três Reis Magos até o estábulo onde se dava a cena épica.

Exausto pela espera, com o coração batendo forte eu aguardava tenso a colocação pela minha mãe da imagem do menino Deus, não sem antes de ouvir todas as cantorias alusivas à noite e todas as rezas pertinentes.

O natal não foi para mim época de presentes, lembro-me de ter ganhado um carrinho-de-guia (foi feito pelo meu pai) e que eu dividi com Getúlio, meu irmão dois anos mais velho do que eu. Outros presentes se houveram não me lembro. Nem sequer uma bola de futebol, talvez.

Nos tempos presentes, Jesus perdeu para Papai Noel. A prece hoje é dirigida ao consumo, à troca eufórica de todo tipo de tranqueiras e a corrida é aos shoppings para visitar o big star, Sam Nicolaw.

Noninha tem medo de tirar retratos com o “velhinho de barbas brancas todo vestidinho de vermelho”. Será por quê?

Se quiserem saber, ilusão por ilusão, eu fico com aquela vivida na infância. Estava revestida de maior glamour e encenação, todos virávamos personagens de uma história com enredo e que culminava na esperança de melhores dias.

E tudo durava até o dia seis de janeiro, quando minha mãe, solenemente retirava o Menino Deus da manjedoura, colocava-o delicada e respeitosamente na caixinha e o guardava junto às demais imagens em um armário embutido da copa.

Sempre achei aquele armário algo de sagrado.

Hoje, sem ilusões, nem Jesus e nem Papai Noel fazem a minha cabeça. Os anos legaram-me um endurecimento de espírito e a perda de significados para a data.

De qualquer forma eu fico com a possibilidade do perdão, talvez como lenitivo. Perdoem-me, de público, todos com os quais de alguma maneira faltei ou que não tenha sido segundo a expectativa.

De minha parte, não há ninguém, felizmente, a perdoar.



Até breve.

domingo, 21 de dezembro de 2014

ATRIZ



“Estou indo para Porto Alegre, de lá para Patagônia. Eu estou te deixando, Violeta. Se continuarmos juntos vamos nos destruir mutuamente... Eu não te amo mais... Eu não te amo mais”...

Em oitenta minutos de filme, Karin Aïmoz, inspirado na canção Olhos nos olhos de Chico Buarque e na majestosa e extraordinária interpretação de Alessandra Negrini, nos arrebata.

Abismo Prateado é um filme ímpar.

Boa parte das locações explicitam cenas em que a personagem de Alessandra, Violeta, está nas ruas, lugar do desamparo, do caos, da vertigem. Dos sons poucos ou estridentes, assustadores, nervosos, dantescos e perigosos como é o turbilhão de sentimentos vividos por Violeta depois de ouvir, no celular, gravação do marido com quem estava casada há mais de quinze anos.

Alessandra é uma mulher belíssima em sua dor da perda. Pungente, sanguínea, contundente, em um silêncio solitário e desesperado, ao longo de boa parte do filme, que só mesmo as atrizes especiais são capazes de transmitir enquanto personagens.

Ela está na academia de ginástica cumprindo sua rotina diária, quando ouve a gravação no celular. Sua vida organizada de mulher casada e mãe de um adolescente sofre uma reviravolta e é aí que Alessandra nos brinda com a evolução de sentimentos de uma mulher abandonada.

As horas subsequentes à notícia são filmadas em close permanente das expressões faciais e dos movimentos corpóreos da personagem. Ela gravita por lugares vários, perdida, enlouquecida, é atropelada por uma moto, sofre uma queda que lhe abre um corte na testa.

O filme em si é uma pérola de edição e montagem porque consegue retratar o trabalho magnifico de construção da personagem por Alessandra. A evolução do processo em que Violeta elabora a perda do desespero à, suponho, a aceitação é de riqueza artística sem par.

O cinema me fascina por isto. Há uma cena em que Violeta de frente ao espelho “fecha” o corte na testa com o uso de três pedaços pequenos de esparadrapo é de um valor simbólico acachapante.

O cinema me encanta por isto. Em noventa por cento do tempo do filme não há diálogos, apenas as expressões em close da atriz, e são extraordinariamente suficientes para encerrar uma linguagem que nos sufoca.

No epílogo, a música de Chico, nos joga a pá de cal.



Até breve. 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

PARADISE



Contardo Caligaris publicou hoje em sua crônica no jornal Estado de São Paulo:

“Qual é a diferença entre um preconceito e qualquer outro saber? Simples, o preconceito é invencível por definição: ele é um saber que produz uma percepção seletiva da realidade, de maneira que ele não seja desmentido nunca, mas sempre confirmado.

Ou seja, o preconceito faz com que percebamos só o que confirma nosso preconceito; o resto, nem enxergamos. E como, em geral, gostamos de "descobrir" que "tínhamos razão", é fácil entender que o preconceito é um tipo de saber altamente popular.”

Estivemos lá, eu e Ela, em 2010. E conhecemos o paraíso. Há sim uma praia nas proximidades de Cayo Largo que recebeu este nome e, podem acreditar, é mesmo paradisíaca. Na época eu prestava consultoria a um empresário e ele me que disse que jamais iria à terra de comunistas.

Cuba é deslumbrante por tudo.

Quando se tornou vitoriosa, em janeiro de 1959, a revolução cubana surpreendeu a América Latina e o mundo. No entanto, apesar do estupor inicial, quase ninguém ousava questionar seus princípios e programa. Tratava-se de derrubar uma das ditaduras mais abomináveis do Caribe, conhecida pela truculência e corrupção, a de Fulgêncio Batista.

Em 1962, aviões de reconhecimento dos EUA detectaram um carregamento de mísseis soviéticos rumo a Cuba, criando um impasse entre o presidente americano, John F. Kennedy, e Kruchev  que foi resolvido após a desistência soviética em troca da promessa dos EUA de retirar suas armas da Turquia.

De lá para cá, até ontem às 15:02 todos sabem o que rolou e, provavelmente, nunca acreditariam que veriam: que Cuba e EUA passassem por cima de todas suas diferenças políticas e históricas e que seus governos se dispusessem a estender-se as mãos sobre as águas do estreito da Flórida.

O fato ocorre meses depois que o regime cubano colocou em vigor uma nova lei para atrair investidores estrangeiros, a principal aposta do presidente Raúl Quadros para reaquecer a economia.

Pela nova legislação, implantada em meados do ano, investidores estrangeiros receberão incentivos fiscais e podem investir em todos os setores da economia, com exceção de educação e saúde.

Outra beneficiária deverá ser a iniciativa privada. Embora tenha crescido após as recentes reformas econômicas, esse setor emprega apenas 500 mil pessoas, em um país que conta com 11 milhões de habitantes.

Por outro lado, a relação cubana com os Estados Unidos continuarão restringidas pelo emaranhado de medidas em vigor sob o embargo econômico, cujo fim depende do Congresso americano, que a partir de 2015, será controlado pela oposição a Obama.

Havana continua proibida de exportar bens, como rum e tabaco – ou seja, ainda não será possível comprar legalmente um charuto cubano em terras americanas.

A expectativa das organizações de turismo é que a retomada aumente de três para nove milhões o número anual de turistas americanos na ilha.

Por causa da curta distância entre os países (a viagem de avião entre Miami e Havana leva 18 minutos e certamente eles vão colocar ferryboat para as pessoas irem de carro) o turismo ficará ainda mais fácil. Com esses seis milhões a mais de americanos, estima-se um aumento na economia de US$ 15 bilhões, cifra que representa 25% do PIB de Cuba.

As fotos abaixo tirei quando de minha visita. Vi muita alegria nas ruas e signos da resistência. Se eu fosse você e pudesse programava imediatamente uma viagem à Cuba, antes que ela fique igual a tudo que o império permite.

LÁGRIMAS NEGRAS







Até breve.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

CICLO



Não, eu não penso isso não.

Prá mim é totalmente diferente do que andam dizendo. Primeiro porque hoje ninguém pode dizer que algo seja, assim, concluído. Depois porque, se você for verdadeiro consigo mesmo, até você próprio não é do jeito que você se propõe.

Sempre num dá.

E num dá por duas razões: a primeira, porque o decurso das coisas acaba movimentando circunstâncias que desencadeiam imprevistos e a segunda porque no caminhar das horas sempre pinta outras possibilidades.

Eu chutaria o balde. O pau da barraca.

Houve uma época que era bom de ter juízo, por causa das contas. Agora, no limiar da inimputabilidade senil, ligar o esadof (*) pode ser uma. No geral, ouço muita asneira que é, de pronto, tudo aquilo que eu não entendo ou por aquilo que não tenho o menor interesse.

O mundo ficou muito largo e plano. Não há barreiras de espécie alguma. Num turbilhão de liberdades não sobra prá ninguém ter endereçamentos. Em qualquer campo.

Se bem que não é bem assim também não. Vejam os ortodoxos enquadrados em direita e esquerda, azules e vermelhos. Eu hein? Taí uma coisa que me dá canseira e me força a entrar em alfa zapeando meu álbum de fotos no IPhone.

Bom mesmo é ser light, lilás que é uma posição meio radical. Tem gente que não gosta e insiste para que você afinal se manifeste. Qualé a sua, seu merda? Assim de tão putos e inseguros.

É muito perigoso pensar.

Vai que um monte de questões comece a serem entabuladas e fazendo algum sentido. O sujeito até acredita que tenha a ver. O recolhimento absoluto é imediato, porque prá veicular qualquer novo tá meio sem chance. Já que tudo é muito novidade.

Façamos o seguinte, então: comece.

No princípio aleatoriamente, seja no campo do Real ou do Suprareal, que já será Surreal. Depois escolha um campo onde possa manobrar com desenvoltura a prática. No familiar, por exemplo, é o mais penoso, porque a turma grita.

No social é de menos, já que entre conhecidos menos íntimos qualquer cara tá valendo. Ninguém tá muito aí prá verdades puras. Qualquer superficialidade de contato mescla, rola, vale.

Com os amigos é que é mais bravo. Porque você poderá perdê-los se entrar numa de se posicionar, inclusive em relação a eles. O campo tá muito sutil. Qualquer criticazinha vira vulnerabilidades. “Por que você está falando isto? E agora?”

Num sei, vai em frente. Eu tô quase conseguindo. Sei que vou perder uns pelo caminho. Tem um, há mais tempo, que abandonei geral. Pretinha mesmo me dizia: “Como você consegue ser amigo de fulano, num tem nada a ver contigo, pai”...

Não, eu não penso isso não.

Prá mim é totalmente diferente do que andam dizendo. Primeiro porque hoje ninguém pode dizer que algo seja, assim, concluído. Depois porque, se você for verdadeiro consigo mesmo, até você próprio não é do jeito que você se propõe.

Sempre num dá.

E num dá por duas razões: a primeira, porque o decurso das coisas acaba movimentando circunstâncias que desencadeiam imprevistos e a segunda porque no caminhar das horas sempre pinta outras possibilidades.

Eu chutaria o balde. O pau da barraca.


Até breve.

(*) esadof: palavra supostamente russa, para aportuguesá-la deve ser lida da direita para a esquerda.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

CELESTE



Tenho me preocupado em buscar sínteses.

Penso que há muito, mas com pouco se diz.

E se vive.

Na prática, sobretudo, já que no discurso tudo cabe.

A opção por trazer o infinito no pouco não é pequena. Inclusive nas consequências, todas.

Veja: recolher-se quando o querem presente; não consumir nada mais do que o imprescindível, se a norma é consumir em abundância e superficialidade. Não ser, mas ser o que se escolhe.

De quando em vez travo batalhas homéricas, sem vencedores. Ocupo-me de muitas coisas e questões que me acometem, tanto sofridas no Real quanto, e hoje sobretudo, aquelas trazidas do Suprareal escancarado.

Não sendo artista, capaz de transformar este “sofrer” em Surreal, me engasgo. Há muito me acompanha uma dor de garganta.  Estive por duas vezes em diferentes momentos me consultando com médicos que me receitaram antibióticos. Eu os tomo.

Embora saiba que a bactéria seja outra.

Há, no entanto, lenitivos, compensações, esperançamentos esparsos.

Na sexta-feira passada almocei com um empresário. Conhecimento recente que não tem mais do que duas ou três horas de convívio. Só que, sabe-se lá porque, oxigenou uma possibilidade, face ao espírito que rondou os últimos posts.

Ele me disse coisas sobre mim que eu não sabia. E que, no fundo, sequer acredito. Personagem construído por uma história, tantos fazeres e acreditares em princípios trazidos de uma juventude já agora distante.

Incrível como somos o que somos para os outros. Mesmo não o sabendo.

Depois, zapeando tomei contato com uma entrevista feita pelo jornalismo da BAND com o Presidente do Uruguai José Mojica.

“Existem dificuldades que nublam a inteligência.”

“Eu venho de muito baixo e estou muito acima.”

“Pobre é aquele que precisa muito porque não alcança nada.”

De tão oportuna não quero fazer dela mais síntese. Peço que assistam-na completa.PEPE



Até breve.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

AGORA



Ontem assisti ao filme brasileiro HOJE de Tata Amaral. Vera é uma ex-guerrilheira que lutou contra a ditadura brasileira. Ela adquire um apartamento com o dinheiro recebido por indenização do Estado por reconhecer a morte e desaparecimento de seu marido também guerrilheiro.

Anteontem assisti ao documentário A INSURGÊNCIA PELA PAZ que apresenta os lideres das FARCs colocando seus propósitos de paz na Colômbia em uma guerra que já perdura por cinquenta anos.

A expansão agrícola teria expulsado milhares de pequenos camponeses para terras de menor qualidade e distantes dos centros de consumo de alimentos. Na opinião de um dos lideres entrevistados essa teria sido a razão essencial pela qual não restou àqueles camponeses banidos de seus meios de sobrevivência a alternativa que se apresentou.

O custo de produção e transporte para os centros de consumo eram maiores do que se conseguia pelo preço de venda dos produtos. Por outro lado a máfia internacional de drogas ofereceu os insumos (sementes) e a compra de tudo o que conseguissem produzir, além de cuidarem do transporte e distribuição da mercadoria.

A Comissão da Verdade, no Brasil, concluiu seus trabalhos e apontou os crimes e os responsáveis durante o período da ditadura. Na Argentina, pela primeira vez, um dos militares torturadores não só admitiu os crimes quanto indicou onde estariam enterrados vinte e cinco das vítimas da barbárie.

Foi divulgado o Relatório do MPF sobre os crimes havidos contra a economia popular e que, como disse o Procurador Geral da República: “Feriram o orgulho do povo brasileiro”.

Penso que estamos vivendo um momento crítico que poderá determinar muito do que viveremos adiante.

Em que mundo queremos afinal viver?



Até breve.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

CHUMBO



Declarações do professor associado de direito comercial da Universidade de São Paulo (USP) Erasmo Valladão Azevedo e Novaes França:

“Os Estados Unidos não tiveram um pensamento do Estado de bem-estar social, como existe no nosso direito e no direito europeu. Lá, os investidores são protegidos porque a poupança deles vai para isso. Não há uma previdência social paga pelo Estado.

No direito americano, os investidores são protegidos e as cortes americanas são muito favoráveis aos investidores. Eles estão alegando a violação da regra 10B5 da legislação da Securities and Exchange Comission (SEC, a CVM dos Estados Unidos). Essa regra diz que você tem de revelar "any material fact", ou seja, qualquer fato relevante, que possa influir na decisão do investidor de adquirir ou vender valores mobiliários. Você tem o dever de revelar e, se você não revelar, está sujeito a pagar os danos que daí decorrerem, além de multas punitivas. Eles estão pedindo na primeira ação os danos de 2010 a 2014, quando foram negociados na Bolsa de Nova York mais de 700 milhões de ADRs(*). Veja o risco!

Eles chamam lá de "class action", porque o investidor entra na Justiça dizendo para o juiz: 'É impossível reunir todos os investidores, então, estou entrando em meu favor e em favor da classe'. Provavelmente, as outras ações serão reunidas e a sentença proferida beneficiará todo mundo.

Eles alegam que a Petrobrás fez declarações falsas, enganando os investidores, porque ela inflou o valor de contratos, de maneira que pudesse tirar dinheiro desses contratos para a corrupção e, consequentemente, os valores que estavam no balanço e os valores dos ADRs foram inflados. E, mais ainda, a Petrobrás teria feito declarações falsas durante todos esses anos, de 2010 a 2014, porque ela disse que tinha um comitê de ética e uma política anticorrupção.”

Nada pode estar tão ruim que não possa piorar. A questão agora é a força institucional da Justiça dos USA que inevitavelmente penderá, com inúmeros fundamentos e contundentes provas, em prol dos investidores que tiveram seus investimentos fortemente dilapidados face à bandalha na Petrobrás.

Alguém tem dúvida nas mãos de quem cairá o boleto para pagar a demanda?

Até breve.


(*) ADRs: Um American Depositary Receipt (ADR) é um certificado de depósito emitido por bancos norte-americanos, representativos de ações de empresas sediadas fora dos Estados Unidos. Os ADRs são cotados em dólares e são transacionados diretamente nas bolsas norte-americanas, tal como as ações das empresas sediadas nos Estados Unidos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

HEIN?



Continuo com uma séria dificuldade de entender certas coisas. Por exemplo: o que quer dizer um homem quando diz que tal mulher não merece ser estuprada? Assim como a institucionalização em lei da barganha por votos, agora o estupro pode ser entendido como algo normal, incorporado à modernidade dos fatos?

Recomendação do Procurador da República do óbvio também eu não consigo entender. Em qualquer empresa em que ocorrer uma falha escabrosa de gestão os acionistas minimamente razoáveis já teriam colocado os administradores na rua, mesmo que eles não fizessem partilha na bandalha.

Será que essa turma não percebe que estão dando munição para os advogados americanos que vão correr por recuperar algo na casa de cem milhões de dólares de prejuízo em seus investimentos. Isto eu também não consigo entender.

Dizem que face à doença de atriz a personagem vai retornar à juventude nos tempos presentes.

Se bem que, de novela global, eu não entendo mesmo. Como algo igual há tantos anos consegue mobilizar tamanha audiência.

Também não consigo entender porque os funcionários da companhia aérea não quiseram ir para a cadeia depois que o juiz, tendo se atrasado, perdeu o voo. Afinal, não temos presente que há em tudo uma inversão ou perversão da justiça?

E o relatório de mais de seis mil páginas da investigação do Congresso Americano sobre as ações da CIA, mais violentas do que se supunha, na captura e tortura dos presos acusados de terrorismo nos USA. Será que foram mesmo necessárias tantas páginas para explicitar o que está acontecendo e agora em tantas outras regiões do planeta? Eu não consigo entender a vergonha americana.

Ontem facilitei um seminário sobre o Vetor Oeste da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Presentes as principais lideranças da região melhor aparelhada e de maior valor econômico (95% do PIB da RMBH). Diagnóstico: “As instituições do Vetor são desarticuladas e existem disputas políticas entre os grupos dos diferentes municípios, impedindo ações em nível metropolitano”.

Eu adoro diagnósticos, embora eu também não os entenda.

Hoje foi para isto. Para dizer que tem um monte de coisas que não consigo assimilar e entre elas: prá quê continuo insistindo em trazê-las à posts?



Até breve.

domingo, 7 de dezembro de 2014

FACHO



Ontem às vinte horas e dois minutos Antônio nasceu.

Eu estava em viagem e quando recebi a notícia de Vlad de que Fá estava às bicas de dar a luz eu só pensei em como retornar para BH a tempo de assistir.

Num deu, Antônio surpreendeu a todos, inclusive à própria médica que estimava a vinda do meu terceiro netinho para a segunda quinzena deste mês.

Perdi um dos momentos mais marcantes de minha vida, e talvez eu jamais me perdoe por acreditar nos prognósticos da médica, embora Vlad tenha nos pedido encarecidamente que não viajássemos no mês de dezembro.

Quando cheguei hoje cedo na maternidade e vi o figura bastou para deixar para lá todos os considerandos e ir direto aos finalmentes. Mais uma vez a Vida me entregou uma preciosidade.

Vlad também chegou ao mundo meio que abruptamente, um pouco antes da marca e com o peso muito parecido com o de seu filhinho. E Vlad, tanto como eu, abestalhou-se.

O importante é que Antônio está entre nós, chora como um gatinho e, tanto quanto Noninha e Tin, saberá a qual colo procurar.

Aliás, na agenda de Fá o dia reservado para a minha pajem é quinta-feira após as dezessete horas. Ela sabe, no entanto, que eu vou estar disponível mais do que um único dia na semana, até porque Antônio exigirá mais dias para estar com o vovô.

Por um momento penso como os leitores deste blog, especialmente aqueles residentes fora do país, se interessarão por este post. Algo tão particular, tão íntimo, tão próprio da minha mais recôndita vida.

Eu me adianto: cada neto meu é personagem ativo de uma proposta modesta, ainda que ideológica, de que o futuro precisa ser reescrito e uma criança que nasce renova os mais profundos desejos de que algo verdadeiramente aconteça para que tempos melhores sobrevenham.

Benvindo Antônio Souza Agulhô Lopes!



Recebi de uma amiga-irmã uma canção de Martinho da Vila. Escutem: TOM


Até breve.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

FODS



O Conselho Editorial deste blog resolveu por bem afastar, sine die, o nosso Editor de Política Nacional. Entendemos que o nosso colega acabou por carregar muito nas tintas na redação dos últimos posts.

O cara ficou insano.

Ele nos deixou com grunhidos estranhos e disse que voltará a qualquer momento para surrealizar ainda mais a cena da puslítica, na fala dele, nacional.

Coube-nos, então, a reunião de pauta. O que trazer aos nossos assíduos e eventuais leitores? Uns colaboradores foram favoráveis para que se desse espaço ao contista para que ele trouxesse um de seus contos sem pé e nem cabeça nos quais a gente entra e sai não entendendo lhufas. Um MY4747, por exemplo, agora, ninguém merece.

Chamar o avô babão para ele choramingar suas derradeiras verves, debruçando-se sobre os seus queridos netinhos, talvez. Tem gente na redação que acha que a senilidade é mesmo uma merda.

Sabem a última de Noninha? Ah, não sabem? Pois eu conto porque é a coisa mais importante que está acontecendo nessa porraqui.

Ela pegou um livro e, folheando aleatoriamente as páginas, se pôs a contar uma história para Val, Valdirene, a auxiliar de Pretinha nos afazeres domésticos. Passados alguns minutos, Noninha levantou o olhar para Val e:

- O que você achou desse livro, Val?

Quando Val ia iniciar a sua abalizada avaliação, Noninha começou a bater palminhas e, aos gritinhos:

- Muito bem!!! Muito bem!!!

Na redação alguns chegam às lágrimas ao ver a euforia do avô, embora considerem lamentável a insistência dele de que haja alguma transcendência nessas historinhas cotidianas.

O que pode dar mais acesso ao blog, contudo, é nosso cronista social e suas páginas policiais, talvez comentando as atividades do atual serial killer de plantão. Esse amador aí que iria matar 36 e matando somente seis acabou sendo preso. Esse, coitado, nem ficará marcado para as páginas da história, já que foi muito breve, pelo menos até aqui o seu feito. Depois, também, por ter matado seres inomináveis.

Quisemos saber do nosso cronista das páginas vermelhas o motivo pelo qual está ocorrendo uma predileção por decapitação. “Efeitos perversos da globalização, meu caro”, comentou um de nossos estagiários.

Melhor dar espaço para a folha ilustrada de celebridades. Noticiar que as coxas hidrogenadas da modelo estão praticamente curadas e que ela poderá, quem sabe, concorrer por uma milionária vaga de DESTAQUE na avenida no próximo carnaval. “A fama, às vezes, enche. Esse negócio de bombar a beleza tem limites, queridinha.” Teria dito uma de suas desafetas concorrentes.

Exauridos pela tarefa de pautar o post do dia os editores clamaram por convocar o horóscopo. Deu:

“Algumas mudanças se tornaram necessárias, pois, em nome do progresso que você tanto almeja e que continuamente vê protelado, você precisa aceitar que seu caminho precisa de inovações, de atitudes criativas.”

Ufa! Um dia fecham este veículo marron.




Até breve.