quarta-feira, 5 de novembro de 2014

VOZ



Jô Soares abriu seu programa na segunda-feira prestando uma homenagem ao filho, Rafael Austregésilo Soares, morto na última sexta-feira, em decorrência de um câncer no cérebro.

“Eu queria contar uma história que dá uma ideia das coisas que eu aprendi com o Rafinha. Uma vez, numa livraria, ele chegou junto ao caixa carregando uma dúzia de livros. Eu estranhei, falei, ‘peraí, Rafa, é muito, escolhe seis’. Ele falou ‘não, então não quero nenhum’; Pensei que era malcriação e falei ‘como não quer nenhum?’ Ele disse: ‘prefiro não escolher’. ‘Por quê?’, perguntei. Ele disse: ‘porque escolher é perder sempre’.”

...


Senador, o senhor retornou ontem ao Congresso Nacional e teve uma acalorada recepção. Tenho escutado e lido em diferentes fontes de que o senhor, hoje, está mesmo legitimado e credenciado como o mais importante líder político de oposição.

Eu queria, no entanto, em que pese minha ingenuidade, lhe fazer uma sugestão. Não escolha esta pecha. Mesmo que ela confira algum peso, não me parece que o seu alvo seja Dilma ou o governo dela.

Peço-lhe, encarecidamente, que nos poupe disso. O bate-boca televisivo, as manchetes dos jornais esgotaram-se. O país não suporta mais tanta tranqueira. Não diga também que vai policiar os atos do governo, impedindo que novos casos de corrupção aflorem-se.

Que está disposto ao diálogo só se a outra parte vir com propostas claras e objetivas.

Proponho-lhe, Senador, outra escolha.

Com tantos anos de vida pública, no executivo e no legislativo, o senhor tem largo background (me perdoem o termo) institucional. Sabe dos meandros e dos caminhos tortuosos dos jogos de poder, conhece bem os jogadores, reconheceu recentemente de forma mais aguda e próxima essa figura diáfana ou disforme chamada povo.

Por tudo isto e mais penso que o senhor está com a oportunidade de fazer um belíssimo serviço à Nação que não é outro senão agrega-la em um esforço expressivo de construção de um projeto nacional que ultrapasse as fronteiras seculares e arcaicas das baias partidárias, das mesas do mercado casino, dos guetos, das tribos, da intelectualidade dormente, da mídia marrom ou cooptada ou vendida.

No fundo, gostaria muito que o senhor escolhesse o país como o alvo de sua manobra. Que mais do que conciliatória sua ação fosse de determinação e coragem para convencer parceiros, correligionários e opositores de carteirinha, mesmo aqueles portadores das intenções mais espúrias que é hora de todos pensarmos no Brasil.

Eu disse antes de minha ingenuidade.

No entanto, conclamo-o a honrar o meu voto e é importante saber que votei com a esperança de que o senhor governasse para o país inteiro e, mesmo não estando no executivo a sua posição institucional e acatada por todos lhe dá todas as condições necessárias para fazer esta escolha.

Estou quase certo de que o senhor não se arrependerá de ter perdido tantas outras. Especialmente a de vir a ser o líder de uma oposição vazia, mais nefasta que o próprio governo.




Até breve. 

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