O cotidiano segue o ritmo
resultante da experiência e da maturidade.
Domingo fui à Campinas e jantei com
o presidente de uma associação de classe para a qual conduzi, ontem, workshop
com membros do Conselho e Diretoria. Hoje cedo reuniões com a turma da TRAMA e
com a diretoria de uma instituição que cuida do planejamento da região
metropolitana de Belo Horizonte.
O cotidiano é aquilo que supomos o
Real. O nosso real sobre o qual traçamos o nosso tempo. Vamos fazendo a nossa
vidinha, construindo nossas relações, nosso patrimônio, nosso trabalho, nossa
carreira, enfim, o espaço onde gravitamos exercendo e sofrendo influência de
outros e seus cotidianos.
Há, além, o supraReal. Nomeado aqui
por mim para dar conta daquele espaço que nos ultrapassa, para além da nossa
intervenção, mas que de uma forma ou de outra nos alcança e nos convida a
reflexão, posicionamento ou até mesmo alheamento.
Ontem à noite, voltando de Campinas, me encontrei com Ela e fomos ao cinema assistir ao filme RELATOS
SELVAGENS do diretor e roteirista Damián Szifron, conta no elenco com o
maior ator latino-americano da atualidade Ricardo Darin que, junto com Pedro Almodóvar, faz parte também
da produção.
O filme busca no real, no cotidiano
de pessoas como nós, elementos para nos colocar diante de um espelho. O que me
surpreendeu na sala de projeções foi a reação do público aos seis episódios que
constituem os relatos. A maioria dos presentes não sabia se ria ou se exclamava
um Oh! de espanto ou de mal estar. A comédia do cotidiano e suas tragédias
decorrentes pelo agudo stress a que todos estamos expostos e a suas amargas
consequências.
Alguns para dar conta do Real
escrevem tratados acadêmicos extensos, complexos, profundos, hiperfundamentados
em pesquisas. Outros fazem um filme como Relatos Selvagens que se bastam.
Assistir a filmes como estes, pelo sua extraordinária contemporaneidade cobram
de nós um olhar cada vez mais arguto e fino do supraReal. Assista ao trailer e à crítica em RELATOS
“Dezoito homens algemados e de uniforme azul são escoltados em fila por um
grupo de combatentes com roupa camuflada e gorro preto, com diferentes tamanhos
de barba. Enquanto conduzem os reféns pela gola da blusa, pegam uma faca em uma
caixa de madeira. Os prisioneiros são colocados em uma fileira, sob a mira de
várias câmeras. A imagem capta lentamente o movimento de um piscar de olhos ou
de uma mão brincando com a lâmina de uma faca, como um thriller do cineasta
chinês John Woo. Em seguida, a selvageria começa. Os terroristas apoiam os
joelhos sobre as costas das vítimas indefesas, cortam sua garganta e arrancam
sua cabeça. Os decapitados eram soldados do governo sírio do ditador sírio
Bashhar Assad. A filmagem e a edição do vídeo são, claramente, o trabalho de um
ou mais profissionais. O discurso é raso, e o propósito é propagandístico. O
filme foi feito e divulgado na internet pelo grupo terrorista Estado Islâmico,
que controla regiões da Síria e do Iraque, na semana passada. O objetivo é
projetar um poder militar muito além da realidade e espalhar o terror pelo resto
do mundo. Vamos fazer o mesmo nas ruas de sua cidade, diz um assassino
mascarado no vídeo. Em outros tempos, cenas como essas levariam cidadãos dos
países civilizados a protestar publicamente, exigindo do governo uma ação para
dar fim à barbárie. Não é o que se vê. Por que ninguém mais se importa?”
A pergunta intitula matéria de Duda
Teixeira na última edição da revista Veja .
Na semana passada, numa sinagoga de
Jerusalém, religiosos ultra ortodoxos foram atacados a facadas, machadadas e
tiros por dois primos palestinos. Ai de tí, Jerusalem.
A revista Veja publica ainda a
notícia de que o processo de vandalismo na maior empresa brasileira implicou na
perda de R$226 bilhões que equivale a 84 vezes o valor das Lojas Marisa, 13
vezes o valor da Embraer e 8 vezes o valor do Pão de Açúcar.
A questão é que supraReal e Real se
comunicam e, como quer a teoria do caos, tornam-se o ambiente onde fincamos
nossas raízes e agigantamos nossas antenas.
É necessário que a gente assista
Relatos Selvagens com muito zelo e atenção, talvez para que ampliemos nossa
compreensão do que verdadeiramente se passa.
Diante de tudo isso, há
compensações imensas que o cotidiano nos presenteia. Recebi mensagem de uma
amigairmã a respeito de sua filha. Legendando a foto abaixo, ela escreveu:
PRIMEIRA APRESENTAÇÃO.
Eu respondi: “Como primeira? E longe de serem frágeis os sonhos dessa menina”.
Minha amigairmã me retornou: “Ah, meu querido... primeira em solo
húngaro... nossa essa palavra foi tão inesperada pra mim... húngaro... nem
sonhava com ela”.
Trata-se de Alice que está em
Budapeste fazendo um curso com bailarinas de todo o mundo. Mais, acessem ALICE.
Não fossem notícias reais, como as de minha
amigairmã, meus sonhos seriam muito mais frágeis.
Até breve.
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