sexta-feira, 14 de novembro de 2014

BARROS



Parece que hoje começa o rastelo da operação LAVA JATO. Corruptos e corruptores de diferentes empresas, regiões e partidos políticos serão procurados e presos face às conclusões da investigação realizada pelo Ministério Público e Polícia Federal.

Mais de dezenas, diretamente envolvidos em sangria de US$10 bi.

A Portuguesa de Desportos, que acabou de ser rebaixada para a terceira divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol, também vai ver alguns de seus diretores presos por terem “vendido” o rebaixamento no ano passado para a segunda divisão.

O médico patologista Paulo Saldiva, 60, que presidia a comissão que apura as denúncias de abuso sexual na USP, pediu afastamento da instituição nesta quarta (12). Saldiva afirma que "cansou de engolir sapo" e que o escândalo foi a "gota d'água" para sua saída.

“Há uma crise de conduta, de valores. Cansei de engolir sapo. A faculdade nunca fez nada. Como professor, sinto que falhei, não desempenhei meu papel. Todos os professores deveriam se sentir assim. Isso diz respeito a todos nós". "Precisamos incorporar o conteúdo de respeito à dignidade humana ao currículo. Chega de intenção. É preciso prática. E isso também tem que chegar até os professores. Não adianta só culpar os alunos".

O que seria de nós não fosse a poesia. No post de ontem fiz citação do poeta Manoel de Barros que, junto com Charles Chaplin, divide a minha mais alta admiração e referência intelectual. Se observarem com atenção muito do que escrevo está inspirado em ambos.

Apesar de todos os dias sermos enxovalhados, abusados, ridicularizados, banalizados, desconsiderados o poeta nos convida ainda à esperança. Não é possível que não cesse essa hedionda, endêmica e tenebrosa prática social bandida. Em toda e qualquer instituição (inclusive nas igrejas, templos, universidades...) o vírus corre nas veias.

“As coisas que não existem são as mais bonitas.", a citação da frase do poeta que fiz no post de ontem, inocula nas pessoas de boa vontade uma tremenda verve de esperança. Será mesmo possível construir ainda algo novo, diferente do que está aí, sadio a ponto de nos orgulharmos de fazer parte.

Todos, praticamente todos e que não são poucos, os intelectuais que têm comparecido ao programa de Eric Nepomuceno, Sangue Latino, levado às quartas-feiras no Canal Brasil quando perguntados se há no mundo ainda espaço para as utopias respondem afirmativamente.

A última entrevistada, Diretora do Museu da Memória e dos Direitos Humanos do Chile, Marcia Scantlebury foi uma das vítimas da ditadura do país. Quando presa e torturada foi perguntada pelo inquisidor porque ela havia ingressado na luta se pelas suas condições poderia ter uma vida boa. Ela o respondeu dizendo que muitas das vezes temos que arriscar até a própria vida para nela encontrarmos sentido.

Saldiva perderá, eventualmente, o emprego. O que não é muito.



Até breve.

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