domingo, 30 de novembro de 2014

TERMINAÇÕES



Amanhece. A câmera capta os dois ainda deitados na cama sem mostrar os seus rostos. O braço dele envolve o corpo dela, abraçando-a. As mãos dela acariciam com suavidade os braços do marido.

Ela tem oitenta anos e ele oitenta e quatro. Vivem em Tel Aviv e têm um filho, nora e um neto recém-nascido que vivem em Nova Iorque.

Naquele dia recebem a visita de uma Assistente Social do governo que investiga as condições físico-econômico-sociais do casal com o objetivo de analisar a renovação do benefício da Previdência.

As cenas que tratam da entrevista são contundentes e nos fazem refletir quando, inexoravelmente e todos, estivermos em situação semelhante.

- “Eu tenho duas laranjas. Uma eu fatio em gomos e a outra eu descasco. Quantas laranjas eu tenho”? Pergunta a pesquisadora.

- “Uma laranja descascada e uma laranja fatiada em gomos”.

- “Para quê isso?” Pergunta o homem.

- “É necessário para que eu possa concluir o processo”.

- “E se eu e minha esposa não quisermos responder”?

- “Não receberão o benefício”.

As perguntas se sucedem e, contra a vontade de ambos, o casal responde a todas com acerto. Quando a Assistente Social chegou a casa deles o marido é quem foi atende-la. A profissional disse do que se tratar a visita e ele:

- “Ande logo que temos muita coisa para fazer hoje”...

Termina a entrevista e a Assistente Social vai embora dizendo que fará todo o empenho para que o benefício seja concedido. A esposa diz que irá à farmácia comprar seus remédios e o marido permanece em casa para consertar um aparelho de TV.

O filme segue arrastado como o andar do casal denotando simbolicamente o ocaso. Ele teria sido no passado um ativista sindical e que, ainda hoje, entendia ser necessário fazer algo para “consertar o mundo”.

Passa o dia ligando para estações de rádio pedindo para que divulguem o movimento de solidariedade que ele coordenaria. Trata-se de um escambo de necessidades e potencialidades sociais que iniciaria dois dias adiante com um grande encontro de interessados em uma praça da cidade.

“A cada um segundo suas necessidades, de cada um segundo suas possibilidades”. A máxima de Marx era a sua orientadora. Ele não recebe acolhida e vai para as ruas fixar, nas vitrine de lojas, um cartazete de convocação das massas.

Ela está na farmácia, pede os seus remédios ao vendedor. No Caixa ela é informada do total da compra. Ela pede que o caixa retire remédios a cada subtotal já que o que ela tem de dinheiro não lhe permite comprar todos de que necessita. Acaba por levar apenas o remédio para dormir, deixando a insulina, o da pressão e do diabetes no balcão.

Ao deixar a farmácia, o Caixa a interpela na rua: “A senhora esqueceu este aqui.”, passando-lhe uma caixinha de insulina.

Dali ela vai para um cinema assistir Indiana Jones. Depois de terminada a sessão fica sozinha na sala de projeções até ser convidada a sair pelo gerente da casa.

Ele está em uma loja de sebo para tentar vender alguns de seus livros que carrega em um carrinho e o homem da loja diz o preço que está disposto a pagar.

- “Como só isso? São os livros mais importantes que todos deveriam ler”...

- “Ninguém mais lê isso”!

Sai dali e vai a uma loja de aluguel de roupas e negocia o empréstimo, por um dia, de um terno e um vestido.

Já em casa, ele conclui o reparo no aparelho de TV e ao fazer o teste, ocorre um estouro e a queda da energia no apartamento. Com o susto o homem é lançado ao chão, desacordado.

A esposa está em uma feira de hortifrúti e é interpelada por um bêbado que pergunta insistentemente se a senhora teria visto sua mulher. A cena dela abraçando o rapaz na solidão da feira é profunda e emocionante.

Quando ela volta para casa encontra o marido vagando pela casa com uma vela acesa na mão.

- “O que aconteceu”?

- “Estourou um fusível. Não consegui consertar o aparelho”...

- “Você e seus consertos! Ninguém quer mais saber! Nem seu filho suporta mais suas loucuras. Nós não estamos em 1937. Ninguém quer saber mais dos outros... eu já disse milhões de vezes”...


EPÍLOGO, filme que assistimos ontem no canal MaxPrime. Assistam. O final é emblemático.




Até breve.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

GAAAALÔÔÔÔ




Concordo com Levir que o torneio teve um dos resultados mais justos do futebol.

Venceu o melhor time, aquele que passou pelos adversários mais expressivos da competição, dois dos quais em confrontos com viradas históricas e a final com vitória contra o maior rival.

Justo por ter sido por uma vitória simples, 1x0, quando poderia ter sido por no mínimo 4x0 já que Tardelli perdeu dois gols feitos e Dátolo um. O Cruzeiro não podia tomar uma goleada e sair humilhado do Mineirão. Um time que permanece em 60 das 74 rodadas na liderança dos dois últimos brasileirões merece respeito. Afinal é Tetra.

O resultado foi justo também por consagrar dois protagonistas. Levir que soube impor sua competência, inclusive barrando, no início de seu trabalho, o outro expoente da jornada que com ele deve receber os louros da façanha, Tardelli.

Diego é hoje, e por isso está na Seleção Brasileira, um dos mais exímios bailarinos com a bola nos pés da linha do meio-de-campo prá frente em atividade no futebol mundial. Ele realmente maestra, com jogadores quase inexpressivos, um rodízio nas laterais e centro do campo que leva à loucura os seus adversários. É justo com Tardelli porque ele não teria este destino não fosse a decisão tomada há alguns anos atrás quando optou por ser família.

Desde o primeiro minuto da partida os sinais do desfecho ficaram claros e denotados nos rostos dos torcedores azuis flagrados pelas câmeras de TV, visivelmente descrentes e já entristecidos.

Penso que se o time continuar nesse ritmo estará mais próximo de ser bi do que o Cruzeiro de ser tri da Libertadores.

Com tudo isso, no entanto, não vejo razão para nós, cruzeirenses, nos entristecermos. Eu, pessoalmente, menos ainda. Vlad e Claudinho precisavam, depois dos trinta anos, viver essa experiência ímpar. Eu ficaria muito triste sim se, por força de uma derrota ontem, eles perdessem o entusiasmo em legar aos seus filhos algo em que acreditam.

Seu João, meu sogro, uma das pessoas que nutri o maior respeito (já disse aqui inúmeras vezes) foi o responsável por Vlad ter sido acometido pela doença da paixão alvi-negra. Meu pai compreenderá, tenho certeza, até porque para ele o Cruzeiro sempre será o maior time do mundo.

Tin sequer sabe o que está se passando, Antônio na barriga de Fá tem outras preocupações, mas Claudinho e Vlad seus pais encheram-se de orgulho e de esperança no que está por vir.

Sei que, no fundo, ninguém acreditou em nada do que eu disse até aqui. Eu desejava era que o Cruzeiro tivesse goleado de seis o Atlético e que, com a eliminação do São Paulo da Sul-americana, os dois últimos do G4 ficassem entre Corinthians, Grêmio ou Internacional.

Isso é verdade também, mas é que Pretinha mandou ontem uma foto de Tin que destrói toda e qualquer consideração.




Até breve.  

terça-feira, 25 de novembro de 2014

REAIS



O cotidiano segue o ritmo resultante da experiência e da maturidade.

Domingo fui à Campinas e jantei com o presidente de uma associação de classe para a qual conduzi, ontem, workshop com membros do Conselho e Diretoria. Hoje cedo reuniões com a turma da TRAMA e com a diretoria de uma instituição que cuida do planejamento da região metropolitana de Belo Horizonte.

O cotidiano é aquilo que supomos o Real. O nosso real sobre o qual traçamos o nosso tempo. Vamos fazendo a nossa vidinha, construindo nossas relações, nosso patrimônio, nosso trabalho, nossa carreira, enfim, o espaço onde gravitamos exercendo e sofrendo influência de outros e seus cotidianos.

Há, além, o supraReal. Nomeado aqui por mim para dar conta daquele espaço que nos ultrapassa, para além da nossa intervenção, mas que de uma forma ou de outra nos alcança e nos convida a reflexão, posicionamento ou até mesmo alheamento.

Ontem à noite, voltando de Campinas, me encontrei com Ela e fomos ao cinema assistir ao filme RELATOS SELVAGENS do diretor e roteirista Damián Szifron, conta no elenco com o maior ator latino-americano da atualidade Ricardo Darin  que, junto com Pedro Almodóvar, faz parte também da produção.

O filme busca no real, no cotidiano de pessoas como nós, elementos para nos colocar diante de um espelho. O que me surpreendeu na sala de projeções foi a reação do público aos seis episódios que constituem os relatos. A maioria dos presentes não sabia se ria ou se exclamava um Oh! de espanto ou de mal estar. A comédia do cotidiano e suas tragédias decorrentes pelo agudo stress a que todos estamos expostos e a suas amargas consequências.

Alguns para dar conta do Real escrevem tratados acadêmicos extensos, complexos, profundos, hiperfundamentados em pesquisas. Outros fazem um filme como Relatos Selvagens que se bastam. Assistir a filmes como estes, pelo sua extraordinária contemporaneidade cobram de nós um olhar cada vez mais arguto e fino do supraReal. Assista ao trailer e à crítica em RELATOS

“Dezoito homens algemados e de uniforme azul são escoltados em fila por um grupo de combatentes com roupa camuflada e gorro preto, com diferentes tamanhos de barba. Enquanto conduzem os reféns pela gola da blusa, pegam uma faca em uma caixa de madeira. Os prisioneiros são colocados em uma fileira, sob a mira de várias câmeras. A imagem capta lentamente o movimento de um piscar de olhos ou de uma mão brincando com a lâmina de uma faca, como um thriller do cineasta chinês John Woo. Em seguida, a selvageria começa. Os terroristas apoiam os joelhos sobre as costas das vítimas indefesas, cortam sua garganta e arrancam sua cabeça. Os decapitados eram soldados do governo sírio do ditador sírio Bashhar Assad. A filmagem e a edição do vídeo são, claramente, o trabalho de um ou mais profissionais. O discurso é raso, e o propósito é propagandístico. O filme foi feito e divulgado na internet pelo grupo terrorista Estado Islâmico, que controla regiões da Síria e do Iraque, na semana passada. O objetivo é projetar um poder militar muito além da realidade e espalhar o terror pelo resto do mundo. Vamos fazer o mesmo nas ruas de sua cidade, diz um assassino mascarado no vídeo. Em outros tempos, cenas como essas levariam cidadãos dos países civilizados a protestar publicamente, exigindo do governo uma ação para dar fim à barbárie. Não é o que se vê. Por que ninguém mais se importa?”

A pergunta intitula matéria de Duda Teixeira na última edição da revista Veja .

Na semana passada, numa sinagoga de Jerusalém, religiosos ultra ortodoxos foram atacados a facadas, machadadas e tiros por dois primos palestinos. Ai de tí, Jerusalem.

A revista Veja publica ainda a notícia de que o processo de vandalismo na maior empresa brasileira implicou na perda de R$226 bilhões que equivale a 84 vezes o valor das Lojas Marisa, 13 vezes o valor da Embraer e 8 vezes o valor do Pão de Açúcar.

A questão é que supraReal e Real se comunicam e, como quer a teoria do caos, tornam-se o ambiente onde fincamos nossas raízes e agigantamos nossas antenas.

É necessário que a gente assista Relatos Selvagens com muito zelo e atenção, talvez para que ampliemos nossa compreensão do que verdadeiramente se passa.

Diante de tudo isso, há compensações imensas que o cotidiano nos presenteia. Recebi mensagem de uma amigairmã a respeito de sua filha. Legendando a foto abaixo, ela escreveu: PRIMEIRA APRESENTAÇÃO.

Eu respondi: “Como primeira? E longe de serem frágeis os sonhos dessa menina”.

Minha amigairmã me retornou: “Ah, meu querido... primeira em solo húngaro... nossa essa palavra foi tão inesperada pra mim... húngaro... nem sonhava com ela”.

Trata-se de Alice que está em Budapeste fazendo um curso com bailarinas de todo o mundo. Mais, acessem  ALICE.

Não fossem notícias reais, como as de minha amigairmã, meus sonhos seriam muito mais frágeis.





Até breve.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

PEQUENA



Seguindo a leitura da Revista Cult, já citada no post anterior, deparei-me com a publicação de um texto do Pasolini, Pier Paolo Pasolini, que se encaixa na veia da trama. Abaixo, fragmento do texto:


MELHORAMENTO DO MUNDO

Um indivíduo que faz algo propondo “o melhoramento do mundo” é um cretino. A maior parte, aqueles que publicamente trabalham “para o melhoramento do mundo”, termina na prisão por trapaça. Além disso, o mundo sempre consegue, no fim, integrar os heréticos. (...)

Na realidade, o mundo nunca melhora. A ideia de melhoramento do mundo é uma daquelas ideias-álibis com que se consolam as consciências infelizes ou as consciências obtusas (...). Portanto, um dos modos para ser útil ao mundo é dizer claro e redondamente que o mundo nunca irá melhorar; e que seus melhoramentos são meta-históricos, ocorrem no momento em que alguém afirma uma coisa real ou realiza um ato de coragem intelectual ou civil. Somente uma soma (impossível) de tais palavras ou de tais atos efetuaria o melhoramento concreto do mundo. E este seria o paraíso e, ao mesmo tempo, a morte.

O mundo, ao contrário, pode piorar isso sim. É por isso que é necessário lutar continuamente: e lutar, depois, por um objetivo mínimo, ou seja, pela defesa dos direitos civis (quando foram conquistados por lutas precedentes). Os direitos civis estão, de fato, eternamente ameaçados, eternamente no ponto de serem suprimidos. Também é necessário lutar para criar novos tipos de sociedade, no qual o programa mínimo dos direitos civis seja garantido.


Aí fui à horóscopo, para ver. Deu:

“Renova teus vínculos emocionalmente intensos, faze os gestos que sirvam a esse propósito, e se por ventura te falta alguém com quem estabelecer essa dinâmica, não te preocupes nem angusties, Tu podes renovar a paixão erguendo tuas bandeiras, as causas pelas quais lutarias e, inclusive, darias tua vida alegremente. A paixão é algo maior do que ti, não te pertence, simplesmente passa através de tua consciência e te vincula a algo que é imensamente maior do que tua capacidade de compreendê-lo. Isso, porém, não te apequena, pelo contrário, te enriquece e te torna maior do que normalmente serias. Não admira, por isso, o quanto as pessoas buscam a paixão. Porém, essa não pode ser programada intencionalmente, acontece quando as condições são propícias e ponto final, ninguém a domina.” Oscar Quiroga, Estadão.

Para me enriquecer, fui à coluna de Luiz Fernando Veríssimo que publicou, hoje, a crônica: VELHOS HÁBITOS. Abaixo, também, um fragmento.

Esta o Pero Vaz de Caminha não contou.

Os portugueses tiveram alguma dificuldade para se comunicar com os indígenas, na sua chegada ao Brasil. Um dos comentários ouvidos na praia, logo depois do descobrimento, foi:

- Ou estes gajos não sabem falar português ou estiveram no dentista há pouco e ainda sentem os efeitos da anestesia, pá. Não se percebe nada do que dizem!

Tenta daqui, tenta dali e finalmente se entenderam. Cabral, comandante da expedição portuguesa, deveria falar com o cacique Tamosaí, aparentemente o comandante dos índios. A conversa - feita mais com mímica e linguagem de surdo-mudo do que com palavras - foi mais ou menos assim:

Tamosaí - O que homens esquisitos, brancos e com barba, querem?

Cabral - Tudo.

Tamosaí - Como, tudo?

Cabral - Tudo. Do Oiapoque ao Chuí. E então?

Tamosaí - Hmmm. OK. Mas antes...

E Tamosaí estendeu a mão com a palma virada para cima e disse:

- Molha.

- Ai, Jesus - suspirou Cabral. - Começou...


Ontem, à noite, dei plantão na casa de Pretinha. Fiz Tim dormir e depois fui colocar Noninha também na cama. Não sei por que, mas nem ela quis saber de minhas histórias. Dormiu logo.


Até breve.

EM TEMPO: Sugiro que assistam ao vídeo:ZARAGOZA


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

TRAMA



Estive, ontem, em companhia de treze outras pessoas em um jantar-cabeça. Seguinte: eu e mais três afins convidamos outros dez incautos para um papo tipo: e então? Todos acionistas e/ou presidentes de empresas que têm algo a dizer e estão dispostos a fazer alguma coisa.

O quê?

O local foi no recém-inaugurado Restaurante ALMA CHEF de propriedade do Felipe, jovem pupilo do Alex Atala e que cozinhou com o mestre no DOM durante três anos. Felipe contribuiu com o papo de forma expressiva. Pedi a ele que nos trouxesse uma palavra com a qual pudesse resumir a demanda. Ele disse que ia pensar e que antes de irmos embora ele nos diria.

No último número da Revista Cult(*) há uma entrevista do filósofo franco-argelino Jacques Rancière na qual ele declara: “Democracia quer dizer o poder daqueles que não têm nenhum título para exercer o poder. Em um certo sentido, esse poder é o próprio fundamento da política. Mas é desse fundamento que os poderes existentes sempre se utilizam para reprimi-la”.

E segue: “O fato fundamental é o crescimento da distância entre as decisões estatais e o controle popular. O sistema eleitoral tornou-se cada vez mais um simples modo de reprodução de uma classe de políticos profissionais, assessorados por especialistas totalmente alheios ao qualquer controle popular”.

“Os movimentos de rua recentes certamente revigoraram a ideia de democracia no que ela tem de específica: ideia de um poder dos anônimos como tais e a distância entre esse poder dos anônimos e o ‘poder do povo’ incorporado no Estado. Os slogans indignados (como ‘Vocês não nos representam’) são, nesse sentido, exemplares. Não é simplesmente uma denúncia voltada para os deputados que fazem mal o próprio trabalho. É a afirmação que a potência do povo e dos anônimos não se representa, que ela excede necessariamente a representação de tais ou tais grupos ou destes e daqueles interesses. A maneira como esses movimentos começaram é, nesse sentido, significativa. Existe aí uma experimentação de novas maneiras de se reunir e de estar junto, novas maneiras de se fazer povo à distância do jogo estatal.”

“Filósofos e sociólogos começaram a nos explicar que o conteúdo real da democracia é o poder dos indivíduos na sociedade de massa, e que a liberdade e a igualdade que esses indivíduos reivindicam eram direitos de consumidores egoístas, em todos os mercados e de todos os prazeres. Essa busca frenética de igualdade de prazeres pelos indivíduos democráticos teria o mesmo resultado que a busca, pelos comunistas, da igualdade coletiva. Ela seria, também, um novo princípio de totalitarismo que, para satisfazer a paixão narcísica do ‘indivíduo democrático’, arruína todas as formas tradicionais de relações sociais e humanas: família, religião, comunidade política, etc. A ironia da coisa é que, evidentemente, essas críticas encontraram o protótipo desses consumidores liberados naqueles que têm menos a consumir: os operários lutando por seus empregos ou os jovens desassistidos da periferia.”

E complementa: “O que nós chamamos de democracia representativa não é simplesmente um governo oligárquico mascarado por uma aparência democrática. É um governo contraditório, fundado sobre a dupla legitimidade (a do poder de todos e a do poder daqueles que “sabem” gerir o negócio coletivo). Isso quer dizer que se deve deixar um espaço para o exercício de um outro ‘poder do povo’, esse poder dos anônimos que excede as formas estatais de representação. A questão então é saber se é possível construir formas duradouras de exercício autônomo desse poder, de instâncias populares que tenham formas autônomas de informação, discussão, decisão e ação: formas de existência diferentes portanto daquelas dos partidos, estruturados para a tomada do poder, seja por um partido parlamentar ou pela organização revolucionária tradicional. Esta é a questão posta por todos os movimentos recentes que procuraram não apenas ocupar o espaço público, mas recriar uma vida democrática que tem seus órgãos autônomos, suas formas de vida própria em todos os setores.”
Saí ontem do jantar com um sentimento que há um espaço propício para a instalação de novos mecanismos de se fazer povo como foi manifesto por mais de um dos participantes: “Apesar do governo”.

Não sabemos como e nem exatamente o quê, mas já agendamos outro jantar que será próximo e no mesmo local. A principio, com os mesmos convidados de ontem.

Quando nos despedíamos encontrei-me com Felipe, o Chef, e pedi a ele a palavra síntese:

- Humanização.


Até breve.

EM TEMPO: Recebi de um dos participantes do jantar um vídeo que ajuda na reflexão:ZARAGOZA

(*)Vocês não nos representam – A democracia é o poder do povo que excede as formas institucionais, Revista Cult, Editora Bregantini, nº 196, novembro de 2014.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

PANKADÃO



Não me parece possível que alguém que se proponha a escrever todos os dias consiga escrever algo importante todos os dias. Assim, alguém que tivesse algo importante a dizer deveria fazê-lo em um espaço mais largo de tempo, ou de uma única vez e definitiva.

Ninguém que se disponha a ler tem muita paciência para se tornar seguidor de alguém que escreve todo dia e não traz à luz nenhuma contribuição objetiva, fática. Até porque sob o ponto de vista prático a leitura deveria servir a algo, mesmo que fosse de natureza transcendente.

Em sua coluna publicada hoje em diferentes jornais do país Arnaldo Jabor escreveu: “A destruição que vemos na vida, a sordidez mercantil, a estupidez no poder, o fanatismo do terror, em suma, toda a tempestade de bosta que nos ronda está muito além de qualquer crítica. O mal é tão profundo que denunciá-lo ficou inútil. Só nos restam o cinismo e a convivência conformada com o nada”.

Na mesma coluna Jabor cita Vargas Llosa que escreveu no El País um ensaio chamado A Civilização do Espetáculo. "Agora, no lugar de 'futuro', temos um presente incessante, sem ponto de chegada. Pela influência insopitável do avanço tecnológico da informação, foram se afastando do grande público as criações artísticas e literárias, as ideias filosóficas, os valores. Em suma, sumiu toda aquela dimensão espiritual chamada de cultura que, ainda que confinada nas elites, transbordava sobre o conjunto da sociedade e nela influía, dando um sentido à vida e uma razão de ser para a existência".

“Ninguém sabe onde isto vai dar”, escrevi ontem fazendo referência a um comentário vindo de dentro do Planalto a respeito do Petrolão. Cabe aqui agora também.

Sábado estava em Santa Luzia. No meio da tarde tive que vir a BH para um aniversário de um amigo. No caminho há um centro de eventos onde aconteceria naquela tarde um show de funk, pancadão, sertanejo, essas coisas. Milhares de pessoas, jovens, dirigiam-se ao local do evento com suas camisetas customizadas e o trânsito foi interditado para dar conta da grande fluência de público.

Demorei um pouco mais do que de costume, mas consegui chegar a BH a tempo de ir ao aniversário planejado. Voltei para Santa Luzia já na madrugada de domingo. Durante o almoço ouvi de nossa auxiliar que ela não permite que as filhas ouçam funk dada a indecência das letras.

Graça Foster, a ainda presidente da Petrobras, disse que vai implantar uma Diretoria de Controle ou de Governança na empresa como a medida mais importante face aos episódios.

Aí em fui ler Manoel de Barros:

“Há várias maneiras de não dizer nada,
mas só a poesia é verdadeira.”

“As coisas não querem mais ser vistas
por pessoas razoáveis.
Elas desejam ser olhadas de azul.”

“O olho vê
a lembrança revê
a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.”

“Poucos entendiam quase nada
eu entendia um pouco menos.”

Perguntado que lugar a poesia ocupava em sua vida, Manoel respondeu: “Todos os lugares. Não sei fazer mais nada. Quer dizer: sei abrir porta, puxar válvula, apontar lápis, comprar pão às 6 horas da tarde. Essas coisas”.

Pois é.



Até breve.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

BLUMBES



Claro que eu não me preocupo com as estatísticas de acesso ao blog. Isto é de somenos importância. Se os gráficos apontarem traço eu ainda assim continuarei escrevendo os meus posts. Se, no entanto, apontarem uma tendência de queda para abaixo de zero, portanto implicando na retirada da web de alguns, aí que eu me dedicarei para escrevê-los.

Só que eu continuo sem receber retorno de meus leitores que residem fora do Brasil e isto me angustia profundamente. Porque não são poucos, o número é expressivo, podem acreditar. E de muitos lugares ao redor do mundo.

Será que porque eu teria dito que caso algum desses se manifestasse eu tenha me proposto a visitá-lo, podendo inclusive hospedar-me em sua casa? Tudo bem, eu retiro o que disse: vou com a família toda junto, menos o Vlad que Fá recebe o Antônio agorinha em dezembro.

Chato, às pampas, este silêncio.

A LAVA JATO levou à JUIZO FINAL. É assim que está sendo chamada a operação que prendeu os executivos das empresas consideradas corruptoras no processo do Petrolão.

“Ninguém sabe onde isto vai dar.” Comentou alguém lá de dentro do Planalto. Difícil de prever mesmo, algo que envolva tantos deputados e senadores de renome e história na República além de acionistas e executivos de algumas das maiores empresas do país.

A Presidenta volta do G20 com discurso pronto. Lançará o slogan já utilizado na Itália, na época de Aldo Moro: Mãos Limpas. E definirá o nome do Ministro da Fazenda acreditando que com isto pacificará os ânimos. Só que não está fácil. Para Lula, quando ele estava na oposição havia mais de trinta economistas interessados e capazes de discutir o Brasil. “Hoje deve ter no máximo uns três”, declarou o co-presidente.

O que é fácil de prever é o Brasil. Enquanto os mandatários institucionais voltam-se para suas questões gabinéticas, seus conchavos partidários demodês e vazios, a elite assiste a tudo com moderada preocupação.

O povo, esse Ser e Personagem blumbástico, e não me perguntem o que vem a ser blumbástico porque eu também não sei, está mais preocupado em tocar a vidinha que já não é brincadeira.

Outro dia lembrei-me de uma expressão que foi pichada nos muros e edifícios na época da ditadura: Está tudo certo, mas está esquisito. Fosse hoje os pichadores revoltosos pichariam: Está tudo errado e está explícito.

A gente nunca soube o que fazer exatamente tanto em uma época quanto na outra. Quando da ditadura, as coisas aconteciam, eram camufladas e só nutriam o medo. Agora, na democratura, as coisas acontecem, evidentes e repetitivas e só nutrem a desesperança.

Ter as mãos limpas não basta, é preciso saber o quê fazer com elas. Os políticos e a elite, face à Juizo Final, talvez não tenham outra chance.

A Hora é propícia.




Até breve.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

BARROS



Parece que hoje começa o rastelo da operação LAVA JATO. Corruptos e corruptores de diferentes empresas, regiões e partidos políticos serão procurados e presos face às conclusões da investigação realizada pelo Ministério Público e Polícia Federal.

Mais de dezenas, diretamente envolvidos em sangria de US$10 bi.

A Portuguesa de Desportos, que acabou de ser rebaixada para a terceira divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol, também vai ver alguns de seus diretores presos por terem “vendido” o rebaixamento no ano passado para a segunda divisão.

O médico patologista Paulo Saldiva, 60, que presidia a comissão que apura as denúncias de abuso sexual na USP, pediu afastamento da instituição nesta quarta (12). Saldiva afirma que "cansou de engolir sapo" e que o escândalo foi a "gota d'água" para sua saída.

“Há uma crise de conduta, de valores. Cansei de engolir sapo. A faculdade nunca fez nada. Como professor, sinto que falhei, não desempenhei meu papel. Todos os professores deveriam se sentir assim. Isso diz respeito a todos nós". "Precisamos incorporar o conteúdo de respeito à dignidade humana ao currículo. Chega de intenção. É preciso prática. E isso também tem que chegar até os professores. Não adianta só culpar os alunos".

O que seria de nós não fosse a poesia. No post de ontem fiz citação do poeta Manoel de Barros que, junto com Charles Chaplin, divide a minha mais alta admiração e referência intelectual. Se observarem com atenção muito do que escrevo está inspirado em ambos.

Apesar de todos os dias sermos enxovalhados, abusados, ridicularizados, banalizados, desconsiderados o poeta nos convida ainda à esperança. Não é possível que não cesse essa hedionda, endêmica e tenebrosa prática social bandida. Em toda e qualquer instituição (inclusive nas igrejas, templos, universidades...) o vírus corre nas veias.

“As coisas que não existem são as mais bonitas.", a citação da frase do poeta que fiz no post de ontem, inocula nas pessoas de boa vontade uma tremenda verve de esperança. Será mesmo possível construir ainda algo novo, diferente do que está aí, sadio a ponto de nos orgulharmos de fazer parte.

Todos, praticamente todos e que não são poucos, os intelectuais que têm comparecido ao programa de Eric Nepomuceno, Sangue Latino, levado às quartas-feiras no Canal Brasil quando perguntados se há no mundo ainda espaço para as utopias respondem afirmativamente.

A última entrevistada, Diretora do Museu da Memória e dos Direitos Humanos do Chile, Marcia Scantlebury foi uma das vítimas da ditadura do país. Quando presa e torturada foi perguntada pelo inquisidor porque ela havia ingressado na luta se pelas suas condições poderia ter uma vida boa. Ela o respondeu dizendo que muitas das vezes temos que arriscar até a própria vida para nela encontrarmos sentido.

Saldiva perderá, eventualmente, o emprego. O que não é muito.



Até breve.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

DESVIDAMENTO



"As coisas que não existem são as mais bonitas". (Manoel de Barros)
Ele morreu hoje, aos 97 anos de idade.

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ÔÔÔRÊÊÊZ




Meu cunhado Helvécio, citado em ZÊÊÊRÔÔÔ, não perdeu ontem o seu pente de osso que usualmente carrega no bolso de sua camisa.

Realizou-se o sonho do Monstro da Tasmânia, esse menino maluquinho que, em contorcionismo acrobático, feriu as redes do gol de Fábio, logo aos nove minutos do primeiro tempo, em posição de impedimento flagrado pela tecnologia do tira-teima e confirmado pelo comentarista de arbitragem.

Tipo lance de clássico. Aconteceu, também ontem, no jogo do São Paulo contra o Internacional que fez o seu gol com três ou mais atacantes ensaboados na frente dos beques do vice-líder do campeonato brasileiro. Dizem que impedimento mais clamoroso que o do Galo.

Enfim, Egídio fez falta ontem. Boa parte dos lances de algum perigo galináceo aconteceu na lateral esquerda do Cruzeiro. O primeiro gol foi construído a partir de um lançamento do Marcos, absolutamente livre de marcação. E o segundo gol de um arremesso lateral do mesmo Marcos dentro da área. Pura pixotada da defesa.

O Galo fez por merecer, no entanto. A organização da disputa competentemente orquestrada pelo seu presidente mandando para o Horto a primeira peleja, mesmo com a questão do risco de tomar gol. Só que lá dentro do caldeirão o time adversário joga sem técnico já que a gritaria impede completamente que os jogadores escutem qualquer som que não seja aquele que vem furacando da massa.

Se bem que o Atlético tem um time muito bem armado e altamente competitivo, diferente do Cruzeiro atual que, embora individualmente melhor, está visivelmente arrastando as canelas. Manter-se rodadas seguidas na liderança do maior campeonato do mundo impõe pesado ônus.

Eu não acredito que seja possível uma virada no Mineirão, embora conforme comentário de um leitor anônimo posts atrás, o impossível não tenha lógica. Minha vida de torcedor sempre me deu mostras que o Cruzeiro, diferente do Atlético, não é um time de viradas, exceto aquela homérica contra o time de Pelé, pelos idos de 66.

Vamos ver.

Falar em ver soube ontem do Vlad que, ele e Fá, estão no final dos acabamentos e decoração do quartinho de Antônio. Meu terceiro netinho chega em meados de dezembro. Em posição estratégica, que permite ao garoto contemplar a peça de qualquer ângulo do berço, Vlad colocará um quadro dependurado na parede com o escudo do Galo Forte Vingador.

Ontem também veio ficar comigo, enquanto a mãe corria atrás de seus compromissos, o Tin, devidamente paramentado com a camisa alvi-negra: “Pai, ele já está concentrado”.

Resta-me acompanhar Bê, que se perguntado hoje dirá: “Está tudo ótimo”.

Volto ao tema no dia 26 ou 27, embora em outros campos haja tão pouca coisa para gastar com letras. A fofoca de Martinha com Dilminha e as demissões dos Ministros me dá muito mais tristeza que gols em impedimento e pixotadas da defesa.




Até breve.


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

ZÊÊÊRÔÔÔ




“Que vença o melhor” é como “Não importa o sexo, desde que venha com saúde”.

Para mim, não. Que hoje vença o Cruzeiro e que sejam meninas as de Fá, depois de Antônio, e de Camila para ser irmãzinha do Tetéo.

Houve uma época que eu usei e surrei uma camisa toda azul sem escudo com o número 5 nas costas. Era Piazza que usava uma semelhante no campo, um dos maiores centeralfos que o futebol já viu. Se bem que o monstro dividiu com Brito a zaga naquele timaço do Brasil para a Copa de 70. Não posso me esquecer de que, também, envergaram a dita O Maestro Zé Carlos e o Lorde Inglês Hilton Chaves.

O destino de minha camisa foi trágico, virou pano-de-chão nas mãos de minha mãe. Inúmeras vezes tentei recuperá-la, mas depois de algumas surras por ter lavado o manto e o vestido novamente apesar de aqui e ali rasgado ou puído, resolvi capitular. Ali também minha mãe venceu.

Nunca mais vesti uma camisa azul.

Fui a todos os campos por onde andou o Cruzeiro. Sempre com o meu pai e um ou dois irmãos. O risco que corríamos era imenso se ficássemos nas arquibancadas ao lado dele. Para comemorar o gol meu pai agarrava quem estivesse próximo e jogava para cima. O velho era forte às pampas e arremessava a uma altura considerável. Não importa onde aquilo que subia caísse. Um de meus cunhados, Helvécio, sempre foi vítima e ele carregava um pente de osso no bolso da camisa Volta ao Mundo. Helvécio, o único atleticano cruzeirense que eu conheci na vida, perdeu pelos estádios dezenas de pentes.

“Isso é sacanagem, seu Pepe!”. Era o único consolo do Helvécio.

Depois que me casei, fui pouco a estádios. Meus filhos nasceram logo e Ela tinha motivos de sobra para inviabilizar a minha ida aos jogos. Não me arrependo. Fosse hoje eu os teria levado. Se bem que não, naquela época eu tinha mais medo dEla do que tenho hoje.

Acho que já sabem que tenho um filho fanático, um genro transnormal e uma filha por tabela atleticana. O meu mais novo é cruzeirense, mas como para ele está tudo ótimo, não sofre desses males.

A 10 era e é de Dirceu Lopes. Everton Ribeiro passa longe do Princípe, chamado assim porque na época já existia o Rei Eterno. Se bem que com Ele e tudo, Dirceu junto com Tostão fizeram a maior final de todos os tempos do campeonato nacional.  A primeira o Cruzeiro, no Mineirão, ganhou de 6x2 e a segunda, em São Paulo, de virada ganhou de 3x2. Quem está vivo sabe o que foi. Quem já morreu seguramente levou como lembrança inesquecível.

Raul foi, como hoje é Fábio, ícone. A “cachorrada” bradava pelo Mineirão Wanderléa e o homem da camisa amarela pegava tudo. Ouvi inúmeras vezes os fanáticos saindo do estádio, emputecidos, praguejarem: “Com essa bicha no gol, nunca vamos vencer os veados!” O choro é livre.

Do lado de lá, é bom que se respeite, teve gente razoável. Um Lacy, saci de duas perninhas longas que endiabrava a defesa celeste. Um Reinaldo, fenômeno, acho melhor que os três Ronaldos; os dois dentuços e o Cristiano. Toninho Cerezo, gênio, embora tenha entregado um passe para Paolo Rossi, da Itália, e ali começamos a perder a Copa de 82 com um dos times mais bem armados do Brasil. Nele tinha também Éder Aleixo, o canhotaço de ouro.

Vou deixar para lembrar-me de craques em outros posts. Para hoje fico com os mencionados. Foi ótimo amanhecer lembrando-me do meu velho, que para lá dos noventa anos de idade, entrevado pelo Mal de Alzheimer, quando lhe falava sobre o Cruzeiro, ele com imensa dificuldade proferia: “El mayor time del mundo”.

Que ninguém fique muito próximo de mim hoje durante a pré-final.




Até breve.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

BAMBA



Impossível não fazer conexões quando se toma contato com o que se passa. Hoje, lendo a Folha de São Paulo, deparei-me com:


PRIMEIRA MATÉRIA

“Em 2 de novembro, o destemido Nik Wallenda pisou em um cabo suspenso a 180 metros acima do solo e caminhou mais de duas quadras desde a torre ocidental do complexo Marina City até o Leo Burnett Building, do outro lado do rio Chicago.

Isso foi feito em 6 minutos e 51 segundos e em um ângulo de 19 graus, granjeando o recorde mundial de caminhada mais inclinada em um cabo entre edifícios.

Na sequência, Wallenda fez algo ainda mais arriscado. Ele desceu de elevador, voltou à torre ocidental do Marina City, pôs uma venda nos olhos e foi até a torre oriental a uma altura de mais de 150 metros. Essa nova caminhada no cabo durou apenas 1 minuto e 17 segundos, sendo a mais elevada com olhos vendados já registrada.

O espetáculo foi realizado em uma das partes com maior incidência de ventos da tempestuosa Chicago. Foi a caminhada mais elevada entre arranha-céus já feita por um membro da família Wallenda.”


SEGUNDA MATÉRIA

"As pessoas ficam entediadas com a vida real", disse Beckley. "As crianças precisam de sapatos novos. É preciso pagar o aluguel ou as prestações da casa e do carro. Seja qual for o caso, as pessoas gostam de ver essas façanhas para se distrair das coisas ruins de suas vidas." Ed Beckley, motociclista de 125 quilos que está se preparando para recriar a tentativa malograda de Knievel em 1974 de saltar acima do cânion do rio Snake em Idaho, que tem até 150 metros de profundidade e 400 metros de largura.”


TERCEIRA MATÉRIA

Em 2 de novembro de 2004, o holandês de origem marroquina Mohammed Bouyeri, 26, dizendo estar agindo em nome de Alá, matou a tiros o cineasta, apresentador de televisão e provocador holandês Theo van Gogh, degolando-o em seguida.

Neste país bem organizado de 17 milhões de habitantes, que se orgulha de sua tolerância, o crime abriu uma discussão polarizadora. Seria o assassinato o exemplo de uma guerra maior entre o islã radical e o Ocidente?

Ou foi o ato de um jovem muito perturbado, membro de uma geração de jovens muçulmanos holandeses que se sente excluída? Qual é a linha que separa a livre expressão do discurso de ódio? A autocensura terá tomado conta das pessoas? O assassinato "mudou a forma como nos víamos", comentou Leontine Coelewij, curadora de artes. "Pensávamos que coisas desse tipo jamais aconteceriam na Holanda. Aquilo realmente assinalou uma virada."


QUARTA MATÉRIA

As investigações do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e da SEC, principal agência reguladora do mercado de capitais americano, sobre irregularidades na Petrobras são as que mais preocupam o governo Dilma por causa do potencial de impactos econômico e financeiro negativos no funcionamento da estatal brasileira.

Além de multas e indenizações pesadas, com risco de pedido de prisão de executivos, a imagem da governança da Petrobras no exterior pode ficar "muito arranhada" a partir do que for apurado pelos órgãos dos EUA.


Pois é, desnecessário listar outras tantas. Fica uma sensação de melhor continuar sendo não abrir a janela.



Até breve.