Presidenta,
De público faço saber que registrei
nas urnas dos últimos três pleitos o nome de seu mentor e o da senhora para a
governança de nosso país. Depositei muitas esperanças de que a oportunidade tão
procurada pudesse dar a vocês motivos para fazer profundas reformas
institucionais e operacionais na gestão da coisa pública.
Sem dúvida foram lançados programas
importantes, oportunos e necessários, como o bolsa-família que permitiu a
milhões de brasileiros ingressarem no rol de pessoas com alguma condição de
produzir renda. Milhões compraram tesoura para corte de cabelos e instrumentos
para manicures, colher de pedreiro, nível, pá e enxada. Muitos adormeceram, é
verdade, na medíocre benesse pública.
É verdade também que o incentivo ao
consumo movimentou o mercado interno fazendo girar o ciclo nacional de
produção, mesmo com entrantes externos com grande ímpeto competitivo.
Igualmente relevante o projeto
Minha Casa/Minha Vida que permitiu a milhões de pessoas adquirirem a sua casa
própria bem como seus básicos componentes. O programa sem dúvida incentivou a
indústria da construção tomadora de contingente expressivo de mão de obra,
insumos e materiais significativos para o giro da economia.
A Copa do Mundo, em que pese todas
as mazelas e críticas, foi realizada a contento, sem deixar uma impressão
negativa para o país exceto o ocorrido em campo, único ponto sobre o qual a
senhora não teve responsabilidade direta.
Algumas tacanhas obras de infraestrutura
incluídas no PAC foram concluídas, como estradas, aeroportos e projetos para
melhoria da acessibilidade urbana. Projetos vitais como a duplicação da BR381,
essa via assassina que vitima mais que uma Síria por ano.
Se somarmos todos os feitos, o
balanço de doze anos é incomparavelmente mais modesto que outros países, alguns
vizinhos nossos, experimentaram. Vocês perderam a oportunidade e, pior,
deixaram um lastro de dúvida sobre a idoneidade e o caráter com que cuidaram do
caixa.
Seu mentor e a senhora não podem
supor que todos acreditem que o que se passava nos seus gabinetes não eram do
conhecimento de ambos. Isto é nos fazer mais idiotas do que nos permitimos ser,
mais impotentes do que nos apresentamos, mais cúmplices do que poderíamos ser.
O Casino que virou a administração
pública sustentado por um aparato gigantesco montado pela estrutura de governo
aliado ao covil de parlamentares, representantes nomeados compulsoriamente pelo
povo além de mancomunados com executivos de empresas públicas e privadas é algo
do qual nos farão envergonhar por muitos e muitos anos.
Não é menos verdade que governos
anteriores sejam isentos da mesma gentalha e que aqueles com os quais a senhora
disputa neste momento sejam dignos de alguma confiança.
Nosso problema reside aqui,
Presidenta. A senhora e o seu mentor nos deixou um legado asqueroso de
continuidade do que mais nos avilta e tira toda a nossa esperança em construirmos
uma nação onde os dignos tenham alguma chance.
A questão, Presidenta, é que nossas
lideranças nos tirou a possibilidade de escolha. Anular nosso voto, como
alternativa política desesperada, é como se mutilássemos o que nos resta de nossa
nanocidadania.
Lamento que a história não tenha
lhe instruído o suficiente para, com altivez e coragem, fazer face a esse
antro.
Caso seja reeleita Presidenta, nos
poupe pelo menos de sua desfaçatez de dizer que em seu governo e de seu mentor é
que foram criados os mecanismos para investigar e punir os canalhas, como se os
senhores fossem mesmo uma ilha cândida e pura deste lamaçal. Mesmo que não
tenham embolsado nenhum níquel na partilha isto não os torna menos vis.
Poupe-nos, Presidenta. Estamos
todos sem condições de sairmos às ruas não só porque não sabemos se voltaremos
em segurança, mas, e sobretudo, por termos uma imensa vergonha de sermos
brasileiros.
Tempo virá em que tudo isto será
reservado ao nosso esquecimento, se é que seja possível nutrir ainda um resto
de esperança.
Até breve.
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