Presidenta e Candidato,
Devíamos todos agradecê-los pela extraordinária
performance de ambos no debate de ontem no SBT no quesito Educação.
Vocês nos lembraram de nosso grande
dramaturgo maldito Nelson Rodrigues nos seus escritos: “A vida como ela é”.
Sem medidas, vocês explicitaram
nossas entranhas, nossa verdadeira formação (ou será deformação?), nossa
conduta.
O senhor, candidato, ao interpelar
sua adversária pegando de uma fala dela no debate anterior na BAND foi
primoroso: “Todos podem cometer corrupção”,
a senhora teria dito.
A senhora, Presidenta, não foi
menos brilhante ao dizer ao candidato que nem ele e nem ninguém está acima de
qualquer suspeita.
Eu mesmo, me vi. Em criança me
divertia, lançando a muros, galinhas e gatos para saber o resultado sobre os
indefesos depois do golpe. Mais recentemente fiquei fascinado por aqueles
pauzinhos talheres de madrepérola em restaurante onde almoçamos aos pés das
Muralhas da China e os afanei, como recuerdos.
Somos todos passiveis de suspeita.
Definitiva lição. Que ninguém aí espere que possamos encontrar um santo que nos
governe. Talvez o que nos reste seja uma questão de grau.
Petrobras ou Aeroporto de Cláudio?
Pasta Rosa ou Lava Jato?
Maquiavelicamente abordado pela
senhora, Presidenta, o senhor, Candidato, saiu-se muito bem nos ensinando como
nos escapar de cascas de banana lançadas em nossos caminhos por adversários: foi direto ao ponto na questão de ter sido parado em blitz do bafômetro. O senhor
explicou que estava com a carteira vencida e que, inadvertidamente, não quis
fazer o teste do teor de álcool.
Pobres das galinhas e dos gatos.
“Aconteceu sim, Presidenta, mas eu já pedi minhas desculpas”, o
senhor teria dito. Perdoem-me, embora minha comparação não soará mais chula que
o fato, mas é como se o senhor, candidato, em outra situação tivesse dito: “Mas eu só pus a cabecinha”. Mera
questão de intensidade da falta.
A senhora, Presidenta, no quesito
dissimulação é uma mestra a ser seguida. A senhora passa o tempo todo com a
santa oportunidade de dizer ao seu povo afinal a que se propõe e se esquiva
permanentemente do óbvio. A senhora não é senhora da Polícia Federal e nem do
Mistério Público, Presidenta. Há um fato inconteste: a lama grassa e a senhora
é sim, o Presidente do Conselho de Administração da Organização Brasil e, como
tal, a última instância de responsabilidade em qualquer cartório, mesmo que
estes só existam em nosso país.
É verdade, também candidato que o
senhor não é dono de Minas Gerais e nem deveria estar falando em nosso nome, como
se nós já não soubéssemos que não temos voz. Deixe-nos em nosso silêncio, em
nossa desesperança, em nossa vidinha tal como ela é.
Os senhores fizeram-me lembrar da
visita recente que fiz à Macau. Lá fiquei sabendo de que em dado momento um
sujeito pela proximidade com o governador da colônia consegue a liberação para
exploração de casinos e permanece com exclusividade até que, décadas depois de
trilhionário, o governo da China, ao restabelecer domínio, acaba com a festa
portuguesa.
Sim, Presidenta e candidato, será
secular nossa esperteza, nosso levar vantagem em tudo, nosso sangue de
colonizados querendo sempre tirar o ouro que nos roubou a matriz?
Não reside aí, quem sabe, uma dica
aos senhores para abordarem no próximo debate? Quando ambos forem atacados um
pelo outro, apenas digam: “Mas eu não
tenho culpa, a culpa é dos portugueses”.
Aula de História.
Para o último debate na Globo, proponho
um tema: o Futuro. Lição que nós já aprendemos de ouvido.
Até breve.
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