Precisamos continuarmo-nos em terceiro
turno.
Não entre os contendores, porque
entre eles já nos decidimos. E da maneira mais exemplar que o mundo possa ter
assistido. Sem nenhum fato que nos desabone e com o aparato jurídico e
institucional ímpar, não perdendo de vista a exatidão e confiabilidade dos
meios tecnológicos para a apuração dos votos.
Apesar de espalhados em uma
extensão de oito milhões de quilômetros quadrados tivemos o resultado em poucos
minutos após os últimos eleitores digitarem o seu voto. Talvez aqui também nos
sinalize enquanto paradoxo. Nossos índios amazônicos digitaram a sua escolha.
Eleição não é campeonato que acaba
quando termina, eleição é um evento de um processo ininterrupto que vai
deixando marcas de evolução ou involução na história de uma nação.
A história recente nos marca por eventos
inesquecíveis acontecidos em junho do ano passado, quando foram plantadas em
nossas cidades as sementes transformadoras da indignação e do clamor da
mudança.
À margem os marginais depredadores,
a rua nos recebeu aos milhões com nossas demandas enlouquecidas, várias, todas
vindas de uma imensa vontade de ver algo diferente do que está ai acontecer.
A Copa das Confederações contribuiu
para tirar nosso foco, a mídia e nossos analistas não nos entenderam e chegou o
nosso fim de ano. Carnaval, Copa do Mundo e ressurgimos novamente às vésperas da
eleição.
O Brasil está vivo porque se
manifesta.
Precisamos continuarmo-nos em terceiro
turno.
Não consigo ler a palavra
democracia sem supor que esse demo
que a principia diz de demônio. Demônio na perspectiva de Jean Paul Sartre, o
filósofo existencialista francês: “O
inferno são os outros”.
É com isso que estamos lidando e é,
para mim, extremamente salutar ver o debate ferrenho gerando conflitos de toda
sorte e em todos os calibres. Novamente há de se compreender a intensidade das
paixões, nutridoras da ação. Em que pese o calor dos conflitos não se registrou
nenhum acontecimento mais grave de violência decorrente da opção de voto.
Ouvi de Mário Sérgio Cortella,
filósofo, que se é amizade não acaba.
Estremecimentos serão imprescindíveis para que o outro nos perceba em
discordância e para que nós também reflitamos sobre nossas convicções.
Em casa, todos divergiram de meu
voto e, nem por isto, os amarei menos. Fosse eu candidato correria o risco de
não obter unanimidade. Sempre olhei para a palavra divergente com ela partida:
DE VER GENTE. Guimarães Rosa escreveu: “Eu sou porque me diverjo”.
Precisamos continuarmo-nos em terceiro
turno.
A própria Presidenta, espero, se
permita reconhecer menos senhora, no sentido de seu absolutismo e rigor
desmedidos. Diálogo, Presidenta, é
uma palavra grega (berço da democracia) que quer dizer: “através de significados”.
Quando resolvi começar este blog há
mais de três anos atrás, estou perto de completar setecentos posts, o fiz com
uma intenção que permanece até hoje e o nome que dei ao blog dasletra ousa, em mim, querer isto.
"Liberdade é uma palavra que o
sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”
Acho que é disso que estamos
tratando, quando proponho continuarmo-nos
em terceiro turno.
Salve Cecília Meireles!!! Dia 09,
próximo, faz cinquenta anos que a perdemos.
Até breve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário