quarta-feira, 29 de outubro de 2014

CHARCO



Eu não queria ocupar o meu tempo usando palavras
bichadas de costumes”.
“Livre, livre é quem não tem rumo”.
“Invento para me conhecer”.
“Tenho o privilégio de não saber quase tudo,
e isso explica o resto”.
MANOEL DE BARROS (*)


Pois é, peguei de novo em Manoel para dar conta.

Juro que eu não queria, tão cedo, menos de setenta e duas horas do resultado das eleições. Vendo o noticiário de ontem à noite, no entanto, começo a vislumbrar que continuamos com palavras bichadas de costumes.

Dona Dilma, meiga como uma dama, abriu seu gabinete para entrevistas ao vivo nos jornais televisivos e nos deixou “pérolas” daquelas cunhadas em plástico rígido. Disse que três entre quatro brasileiros pertencem à classe média. Que um fundo, não disse o nome, estava pensando em investir mais de US$60 bi na nossa economia e que um Plebiscito é o caminho para responder aos anseios da população que ela teve oportunidade de escutar em campanha.

Em outra matéria, fomos informados de que Henrique Pizzolato, aquele executivo de Marketing do Banco do Brasil condenado no processo do Mensalão foi solto em Bolonha, na Itália. Alega à justiça de lá que não seria justo extraditá-lo para o Brasil face às condições desumanas em que se encontram as cadeias brasileiras.

Outros, no Brasil, apenados por mais de sete anos de reclusão estão indo para casa. "É muito mais fácil, no Brasil, prender um menino com cem gramas de maconha do que condenar um agente público que tenha cometido fraude de R$ 1 milhão.", declarou o ministro do STF Luís Roberto Barroso.

Por sua vez, o terrorista assassino Cesare Battisti, julgado por crimes na Itália continua vivendo no Brasil uma vez que o governo brasileiro não concordou em extraditá-lo.

Somadas a estas notícias, recebemos a de que o Papa Francisco, vejam os senhores, admitiu que Deus não criou o Mundo usando uma varinha como se fosse um mágico, e admitiu a teoria de Darwin lançada à luz no ano de 1800.

Diante disso “escrever o que não acontece é tarefa da poesia”.

           “Eu queria fazer parte das árvores como os
            pássaros fazem.
            Eu queria fazer parte do orvalho como as
pedras fazem.
Eu só não queria significar.
Porque significar limita a imaginação.
E com pouca imaginação eu não poderia
fazer parte de uma árvore.
Como os pássaros fazem.
Então a razão me falou: o homem não
pode fazer parte do orvalho como as pedras fazem.
Porque o homem não se transfigura senão
pelas palavras.”


Não fosse o Manoel, eu desintederia mais ainda. “Eu sustento com palavras o silêncio do meu abandono.”



Até breve.

(*)Manoel de Barros em Menino do Mato, editora Leya, 2010.



2 comentários:

  1. Também nao queria . . . Mas assisti a entrevista e também fiquei surpresa com o pais que ela descreveu. Dados citados por voce e outros como dizer que construiu 1 milhão de cisternas no norte, fora as perguntas que falam de gato e ela fala de sapato.
    O que dizer das notícias de que a renda per capita encolheu pela primeira desde recessão de 2009, que o Banco Central elevou para 11,25% taxa de juros, que temos um deficit de 20,39 bilhões ( o maior da nossa história)

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  2. Pois é... Obrigado pelo comentário.

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