Nofundonofundo – adoro essa
expressão, especialmente escrita assim, junta – todos mentem. Estudiosos concluíram
que não conseguiríamos nos manter vivos, não fosse a mentira.
A mentira não é a negação de uma
suposta verdade, não. A mentira não depende de uma verdade para existir. Ela
tem vida própria, desvinculada, autônoma e soberana. A verdade é única,
concreta, insofismável, absoluta, portanto, chata, incômoda, desnecessária.
A mentira está viva sempre,
enquanto a verdade é a morte, porque acabada, conclusa, definitiva. A mentira é
infinita, enquanto a verdade é pouca. A mentira é eterna, porque se transforma
em outra e mais outra e outra ainda, não aquela inicial, mas outra e outra
ainda e diferente e outra.
Enquanto a verdade fica ali, a
mentira se movimenta, se altera, muda de corpo, de espírito, de conformidades,
de vestes, de cores e de odores. A mentira segue, a verdade, estática,
paralisa.
“Eu não acredito em Deus”, não é propriamente uma mentira
porque haja um Deus. É uma divina mentira porque eu digo que não acredito. Porque quando digo que não
acredito é uma tremenda e extraordinária mentira.
“Eu te amo”, não é propriamente uma mentira porque eu não te
odeie, ou porque você seja indiferente para mim. É uma mentira exatamente
porque você diz e o amor, não é algo sobre o que se fale.
“Essa é que a verdade”, não é propriamente uma mentira
porque existam outras verdades. É uma mentira porque é a única verdade que
consigo dizer, portanto, que se calem.
Se acreditarem em tudo que disse
até aqui, digo que não disse.
A mentira, portanto, tem glamour e
soberania. É viva, porque mutante, sóbria e ébria conforme as suas
conveniências, aguda, limpa, bem dita e bendita, mau dita e maldita,
contundente e absurda.
A verdade é um saco. Vazio.
A mentira é tudo que podemos sobre
o passado, o presente e o futuro. Posso construir um passado, posso me ver no
presente, posso construir um futuro. Que quiser e quantas vezes quiser. Na
mentira, santa possibilidade.
A verdade não.
Portanto, que se preserve a vida,
portanto, a mentira essa dádiva. Que se abolha definitivamente toda e qualquer
verdade, mesmo as dos fatos incontestes, presenciais e coletivos. Que não haja
nada que não seja outra coisa e que possa ser contada de diferentes e todas as
maneiras, que todos não acreditem, porque mentem, que seja eterna posto que é
fluída.
Que a mentira governe, que a
verdade falte, porque é dor e está morta. Que todos possamos mentirmos e mentir
descarada e cotidianamente, a cada dia com uma mentira nova encorpada,
manchetosa, cheia de contornos e fragrâncias, porém tênue, para que amanhã
possa vir outra e depois de amanhã outra ainda.
Que a verdade desapareça,
definitivamente. Para que possamos viver nossa infinita loucura, para podermos
continuar dizendo em alto e bom som, eu acredito em Deus e eu te amo.
No domingo, eu não vou votar em
Dilécio. Eu sou disléxico.
Essa é que é a verdade.
Até breve.
A troca (ou ate a alternância) de governo eh salutar e um bom "lembrete" de que vivemos numa Republica.
ResponderExcluirAbcs,
Carla
Pois é.
ExcluirQue a verdade falte. Saia de cima do muro e escolha exercitando seu direito democrático. Abraço.
ResponderExcluirTereza
Simsenhora...
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