sexta-feira, 31 de outubro de 2014

SER



Assisti ontem no MaxPrime, canal 78 da SKY, ao filme italiano A Solidão dos Números Primos. Hoje pesquisando na web colhi duas críticas sobre o filme e as transcrevo abaixo:

“O título do filme é uma obra-prima 'per si', a sinopse é ótima (o livro deve ser muito bom, um dia quero lê-lo) e o potencial dramático da obra é magistral, mas o ritmo é lentíssimo, a montagem é confusa, a trama é um tanto ininteligível, as situações são forçadas e emocionalmente chantagistas. Apreciei a subtrama adolescente, mas não suportava mais o filme depois de sua primeira hora. Muito mal-resolvido, muito chato, um desperdício de angústia, infelizmente!”

“A Solidão dos Números Primos” tem momentos impressionantes, mas que de algum modo se perdem pelo ritmo extremamente lento e pela falta de coesão das suas histórias. E é aí que erra. Ou que não cumpre na perfeição. Não consegue assim pagar as suas obrigações e acaba por perder um pouco a intensidade, que potencialmente a história teria.”

Mattia e Alice (Luca Marinelli e Alba Rohrwacher), dois jovens marcados pela tragédia, sempre se sentiram diferentes e excluídos do mundo. São como números primos: divisíveis apenas por um e por eles mesmos. Na infância, a vida de ambos foi perturbada por episódios traumáticos e irreversíveis, lidando com traumas que os tornaram indivíduos singulares, isolados da sociedade.

Alice, filha de um homem dominador que queria vê-la campeã, sofreu um terrível acidente de esqui, quase perdeu a perna e entregou-se à anorexia. Mattia negligenciou a irmã gêmea deficiente, tendo a abandonado num parque recebendo em seguida a notícia de seu desaparecimento.

Estes eventos vêm alterar as suas personalidades. Ao se encontrarem na adolescência, se reconhecem na dor um do outro e desenvolvem um forte laço e os destinos dos dois parecem irrevogavelmente ligados.

Pois é.

Não tem sido fácil mesmo optar pela diferença. Essa coisa às vezes lenta, confusa, ininteligível, simulação de chantagem, mal resolvida, chata, sem consistência, angústia desperdiçada já que o mundo está aí para ser vivido.

Filme arrebatador pela arquitetura belíssima da montagem. Como se fosse um dos acometidos pelo trauma da trama, o diretor constrói uma sequência caótica e intensa repleta de retornos a passagens e às suas consequências na vida dos personagens, incomodando a quem assiste.

Não é para qualquer um filmar a dor de ser, especialmente quando os protagonistas são fisgados pela tentativa de construir seu próprio caminho. Mattia e Alice são personagens memoráveis porque carregam em si a negação dos outros por eles serem quem são, vitimados pelos seus desígnios.

É mesmo insuportável deparar-se com alguém que não segue a planos lineares, sustentados pela conformidade, que tem ritmo e perspectivas próprias ainda que aparentemente caóticas.

É mesmo desconfortável relacionar-se com alguém que, apesar de tantas pressões para reagir conforme o que está estabelecido, busca construir suas próprias saídas.

É mesmo tenebroso ver alguém optar pela abstenção alimentar (Alice) ou de se cortar todo (Mattia), autoflagelo na ânsia por se ver livre da dor.

A Solidão dos Números Primos é um filme ímpar.




Até breve.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

HISTORINHAS



Com estas coisas perdi de falar de meus netos, ou seja, do que é mais ou mesmo o importante. Essas coisas que hoje me prendem à Vida.

Noninha e seus olhos de jabuticaba e Tim esse intruso, um anjo, bom às pampas. Manso, de quem eu comecei a gostar tem pouco tempo. Ele agora, quando me vê, vai logo sorrindo e isso, dada à minha absurda fragilidade, é imperioso.

É ruim de mexer ainda, porque o cara interage pouco. Se bem que ontem comecei a conversar com ele, enquanto passeávamos, e senti que a falha é mais minha do que dele, afinal ele vai fazer no  próximo dia sete oito meses de idade.

No sábado, também, Fá faz o chá de bebê (ou será de fraldas?) para o Antônio. Eu sempre achei que ela ia ficar uma chata, cheia de dengos por conta do barrigão. Nada, tá como se não estivesse acontecendo nada. Uma pena. Queria que o Vlad penasse com ela. Mulher é assim mesmo, a gente acha que elas vão reagir de um jeito e inventam outro.

Claro que é brincadeira, fosse sério viraria post.

Acho que não tinha falado ainda de neto por tabela que vem vindo, irmão ou irmã de Tetéo, o Zeroum. Para quem não se lembra, são da Camila e do Leandro, meus sobrinhos Camileta e Lindinho.

Agora, aqui entre nós, Pretinha brinca dizendo que uma amiga lhe disse: “Filhos, ah!!! Uma Benção!!! Criança é pedreira. Noninha deve medir ao todo uns noventa e poucos centímetros de altura, mas é o suficiente para, quando chega em nossa casa, produzir um furacão.

Quando vão embora, ela e o Tim, eu dou graças aos céus. Cinco minutos depois eu estou com saudades e remorso. Quando retornam no dia seguinte, eu digo: “Putz, que barra!”
.
Pretinha já percebeu.

O Conselho de Consulta Popular da Dilma caiu na Câmara dos Deputados e não passará no Senado. Dizem os oposicionistas que se trata da bolivarização, ou da venezualização do país. Trama vermelha para derrubar o Congresso. A presidenta teria intenção de governar diretamente com o povo.

O PSOL, por sua vez, quer incendiar com o retorno de projeto dos Conselhos Populares. Destino: gaveta.

O atual presidente da Câmara e candidato a governador derrotado está uma arara com os Lulas. Disse que vai colocar na pauta de votação projetos que vão complicar a vida de seus adversários. Queda do Fator Previdenciário, por exemplo, para expor de vez a Presidenta perante seus eleitores.

O Plebiscito não durará as vacâncias pós-pleito. Nem referendum. Quando ela voltar da Bahia, já será novembro e teremos que nos preparar para o Natal, festas de fim ano, carnaval essas coisas. Recesso parlamentar e esquecimento popular da cidadania.

O Procurador Geral da República disse que o precedente da não extradição de Henrique Pizzolato pode ser muito negativo para o país. Todo mundo que afanar qualquer grana do erário agora já sabe. Corre para Bolonhas e teje quieto. Viver nas Europas é mesmo um castigo. Principalmente granado.

Ontem, quando fazia a dedeira para o Tim na cozinha, ouvi Noninha, que brincava na sala, gritando: “Rapunzel jogue suas tranças!”.

Bem melhor!!!




Até breve.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

CHARCO



Eu não queria ocupar o meu tempo usando palavras
bichadas de costumes”.
“Livre, livre é quem não tem rumo”.
“Invento para me conhecer”.
“Tenho o privilégio de não saber quase tudo,
e isso explica o resto”.
MANOEL DE BARROS (*)


Pois é, peguei de novo em Manoel para dar conta.

Juro que eu não queria, tão cedo, menos de setenta e duas horas do resultado das eleições. Vendo o noticiário de ontem à noite, no entanto, começo a vislumbrar que continuamos com palavras bichadas de costumes.

Dona Dilma, meiga como uma dama, abriu seu gabinete para entrevistas ao vivo nos jornais televisivos e nos deixou “pérolas” daquelas cunhadas em plástico rígido. Disse que três entre quatro brasileiros pertencem à classe média. Que um fundo, não disse o nome, estava pensando em investir mais de US$60 bi na nossa economia e que um Plebiscito é o caminho para responder aos anseios da população que ela teve oportunidade de escutar em campanha.

Em outra matéria, fomos informados de que Henrique Pizzolato, aquele executivo de Marketing do Banco do Brasil condenado no processo do Mensalão foi solto em Bolonha, na Itália. Alega à justiça de lá que não seria justo extraditá-lo para o Brasil face às condições desumanas em que se encontram as cadeias brasileiras.

Outros, no Brasil, apenados por mais de sete anos de reclusão estão indo para casa. "É muito mais fácil, no Brasil, prender um menino com cem gramas de maconha do que condenar um agente público que tenha cometido fraude de R$ 1 milhão.", declarou o ministro do STF Luís Roberto Barroso.

Por sua vez, o terrorista assassino Cesare Battisti, julgado por crimes na Itália continua vivendo no Brasil uma vez que o governo brasileiro não concordou em extraditá-lo.

Somadas a estas notícias, recebemos a de que o Papa Francisco, vejam os senhores, admitiu que Deus não criou o Mundo usando uma varinha como se fosse um mágico, e admitiu a teoria de Darwin lançada à luz no ano de 1800.

Diante disso “escrever o que não acontece é tarefa da poesia”.

           “Eu queria fazer parte das árvores como os
            pássaros fazem.
            Eu queria fazer parte do orvalho como as
pedras fazem.
Eu só não queria significar.
Porque significar limita a imaginação.
E com pouca imaginação eu não poderia
fazer parte de uma árvore.
Como os pássaros fazem.
Então a razão me falou: o homem não
pode fazer parte do orvalho como as pedras fazem.
Porque o homem não se transfigura senão
pelas palavras.”


Não fosse o Manoel, eu desintederia mais ainda. “Eu sustento com palavras o silêncio do meu abandono.”



Até breve.

(*)Manoel de Barros em Menino do Mato, editora Leya, 2010.



terça-feira, 28 de outubro de 2014

COM SEQUÊNCIA



Precisamos continuarmo-nos em terceiro turno.

Não entre os contendores, porque entre eles já nos decidimos. E da maneira mais exemplar que o mundo possa ter assistido. Sem nenhum fato que nos desabone e com o aparato jurídico e institucional ímpar, não perdendo de vista a exatidão e confiabilidade dos meios tecnológicos para a apuração dos votos.

Apesar de espalhados em uma extensão de oito milhões de quilômetros quadrados tivemos o resultado em poucos minutos após os últimos eleitores digitarem o seu voto. Talvez aqui também nos sinalize enquanto paradoxo. Nossos índios amazônicos digitaram a sua escolha.

Eleição não é campeonato que acaba quando termina, eleição é um evento de um processo ininterrupto que vai deixando marcas de evolução ou involução na história de uma nação.

A história recente nos marca por eventos inesquecíveis acontecidos em junho do ano passado, quando foram plantadas em nossas cidades as sementes transformadoras da indignação e do clamor da mudança.

À margem os marginais depredadores, a rua nos recebeu aos milhões com nossas demandas enlouquecidas, várias, todas vindas de uma imensa vontade de ver algo diferente do que está ai acontecer.

A Copa das Confederações contribuiu para tirar nosso foco, a mídia e nossos analistas não nos entenderam e chegou o nosso fim de ano. Carnaval, Copa do Mundo e ressurgimos novamente às vésperas da eleição.

O Brasil está vivo porque se manifesta.

Precisamos continuarmo-nos em terceiro turno.

Não consigo ler a palavra democracia sem supor que esse demo que a principia diz de demônio. Demônio na perspectiva de Jean Paul Sartre, o filósofo existencialista francês: “O inferno são os outros”.

É com isso que estamos lidando e é, para mim, extremamente salutar ver o debate ferrenho gerando conflitos de toda sorte e em todos os calibres. Novamente há de se compreender a intensidade das paixões, nutridoras da ação. Em que pese o calor dos conflitos não se registrou nenhum acontecimento mais grave de violência decorrente da opção de voto.

Ouvi de Mário Sérgio Cortella, filósofo, que se é amizade não acaba. Estremecimentos serão imprescindíveis para que o outro nos perceba em discordância e para que nós também reflitamos sobre nossas convicções.

Em casa, todos divergiram de meu voto e, nem por isto, os amarei menos. Fosse eu candidato correria o risco de não obter unanimidade. Sempre olhei para a palavra divergente com ela partida: DE  VER  GENTE. Guimarães Rosa escreveu: “Eu sou porque me diverjo”.

Precisamos continuarmo-nos em terceiro turno.

A própria Presidenta, espero, se permita reconhecer menos senhora, no sentido de seu absolutismo e rigor desmedidos. Diálogo, Presidenta, é uma palavra grega (berço da democracia) que quer dizer: “através de significados”.

Quando resolvi começar este blog há mais de três anos atrás, estou perto de completar setecentos posts, o fiz com uma intenção que permanece até hoje e o nome que dei ao blog dasletra ousa, em mim, querer isto.

"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”

Acho que é disso que estamos tratando, quando proponho continuarmo-nos em terceiro turno.

Salve Cecília Meireles!!! Dia 09, próximo, faz cinquenta anos que a perdemos.




Até breve.

domingo, 26 de outubro de 2014

ÚLTIMACARTA

Presidenta,

A senhora foi reeleita com a margem mais reduzida de todas as eleições havidas desde a redemocratização de nosso país.

Parabéns, a senhora foi recompensada pelo seu esforço e determinação extraordinários. Deve ter tirado lições importantes que lhe serão muito úteis na condução de seu segundo mandato.

Votei em seu adversário porque vejo nele condições mais favoráveis para empreender ações orientadas para o futuro face aos resultados obtidos por sua gestão atual. A senhora ouviu o clamor das ruas quando reconheceu, vinda da maioria dos que não lhe deram o voto, a palavra mudança.

É da legítima democracia a disputa e dela um dos contendores sairá vitorioso. Apelo que sejam mesmo incorporadas e traduzidas em prática as suas palavras do discurso de hoje à noite.

Tomo a liberdade de lhe fazer algumas modestas sugestões.

Não perca tempo, seu recurso disponível mais precioso. A senhora terá apenas mais quatro anos para responder aos compromissos assumidos e que não são poucos e extremamente complexos.

Opte pela simplicidade como método de abordagem e escolha poucas pessoas, aquelas imprescindíveis, para dar uma nova face ao seu governo.

Comece convocando aquelas de quem dependerá diretamente para obter êxito. Coloque-as em estado de trabalho para fazerem junto com a senhora o que precisa ser feito.

Construa uma proposta de modelo federativo de governança. Convide, de imediato, todos os governadores eleitos e, com apenas eles em workshops, busque responder à seguinte questão:

“QUE PAÍS CONSTRUIREMOS?”

Coloque como expectadores ativos os seus principais futuros colaboradores, assessores diretos e ministros de estado.

Instale canal de TV, em rede aberta e paga, e apresente pessoalmente em cadeia nacional a evolução dos entendimentos e conclame o povo a acreditar e a debater na medida em que forem concluídas as discussões com os governadores.

Mobilize a nação para o desejo de se construir.

Não complique, busque ações simples. Uma vez tendo os pontos essenciais produzidos em conjunto com os governadores, promova novos workshops para a formulação dos seguintes pontos:

Ø  Quais são as ameaças?
Ø  Quais são as oportunidades?
Ø  Quais são as fraquezas?
Ø  Quais são as forças?

Da análise destes quatro pontos advirão as determinantes para que viabilizemos o país que queremos ser.

O método é simples, já disse. Não há nenhum empregado em empresas que algum dia não tenha se envolvido em projetos onde foi utilizada metodologia semelhante. A questão crucial da abordagem não reside em método, mas na vontade política dos atores e, sobretudo, no caráter dos mesmos.

Do conjunto das análises dos pontos citados acima a senhora deverá buscar apoios diversos e interdisciplinares para redigir um arcabouço dos instrumentos institucionais e jurídicos essenciais que sustentarão as principais ações a serem empreendidas em esfera federal e estadual.

A senhora deverá desenvolver workshops e a estruturação dos instrumentos institucionais e jurídicos até o dia 28 de dezembro de 2014, quando apresentará através de cadeia nacional de mídias eletrônicas em conjunto com todos os governadores e futuros ministros os resultados dos trabalhos, ou seja, as linhas mestras do projeto de construção de um novo país.

No dia 01 de janeiro de 2015, em sessão solene do Congresso Nacional, com a participação da senhora, do Vice-Presidente da República, dos Ministros de Estado, dos Presidentes dos Tribunais Superiores e dos congressistas eleitos tomarão posse e passarão aos parlamentares os marcos de referência que fundamentaram os instrumentos institucionais e jurídicos que deverão ser sancionados pelo Congresso Nacional até 31 de março de 2015.

Da rampa do Palácio do Planalto a senhora fará um breve discurso e, mesmo que não agrade a todos, ninguém terá dúvidas que afinal este país passa a ter projeto e governo.

Ao trabalho, Presidenta!

Como o meu candidato disse é preciso que saíamos desta peleja com o sentimento de vitoriosos por que todos, como a senhora disse, estamos buscando um futuro melhor para o nosso país.

Meus netos saúdam a senhora, presidenta. O que fizer agora será fundamental para eles em futuro breve.




sexta-feira, 24 de outubro de 2014

VOTO



Depois do post de ontem fica difícil dizer qualquer coisa. Mesmo quando não se tem preocupação com o que pensam do que escrevo. Agora que ficou difícil postar ficou, até mesmo um conto, um poema, uma ficção qualquer.

Será verdade ou uma deslavada mentira?

Enviei mensagem via WhatsApp para diletos amigos pedindo para que lessem o post e, especialmente de uma amiga recebi como resposta um texto emblemático. A mensagem que enviei foi: “Leia, por favor, o post de hoje. Abraço. Agulhô”. A resposta que recebi foi: “Tenho lido todos. Verdade!!!”

Acho que vou me arrepender de ter escrito ATENÇÃO.

Desde que retornei de viagem tenho me dedicado a acompanhar o processo eleitoral. Assisti praticamente a, se não a maioria, mas a boa parte dos programas televisivos de ambos os candidatos. Assisti a todos os debates e li diferentes articulistas de tendências contrárias. Com interesse e isenção, buscando entender as razões de um e de outro candidato em suas abordagens e tentando fazer uma assepsia da competente e delicada performance  dos marqueteiros.

Confesso que gravitei entre três posições: não votar, votar nulo ou votar em um dos candidatos. Ops, é possível mais alguma? E conclui que as razões que me levaram a optar pelo voto em um dos candidatos são as mesmas que me inclinavam a anular o voto ou mesmo não comparecer à Seção Eleitoral.

Por que não votarei em Dilma?

Por duas razões: primeiro porque ela, assim como seu mentor, se omite vergonhosamente na questão dos saques ao erário e a segunda, não menos importante, porque para ela há que se fazer um governo privilegiando as questões sociais.

Olho Dilma e olho o seu mentor e não consigo vê-los como artífices da bandalha, nem mesmo suponho que soma da partilha vá para os bolsos da ex-revolucionária ou para os bolsos do ex-sindicalista. A questão para mim, não é apenas se são corruptos. A questão crucial me parece, é que, enquanto ocupantes do maior posto de autoridade da República, a única atitude que não poderiam se furtar era e é, exatamente, a enérgica ação para em tempo breve exigir a apuração dos fatos e, de forma exemplar, cobrar do Poder Judiciário a mesma atitude. Deriva desta omissão parte de nossa endêmica deformação de caráter.

A perspectiva de forte apelo popular de que o governo Dilma será orientado aos menos favorecidos é uma tolice sem medida, já que o país hoje, pela sua magnitude geográfica, pelas suas extensas e imensas riquezas inclusive as naturais, por tudo o que somos, nos constituímos como peça importante no desenho da geopolítica internacional.

A opção populista é hoje um equívoco demoníaco com graves consequências para o futuro do país. O Brasil pode, deve e terá que pensar e agir como um grande parceiro internacional, fazendo alianças e viabilizando contratos de intercâmbios culturais, econômicos, tecnológicos e científicos com as maiores nações do Planeta.

Continuar trabalhando sobre os efeitos (pobreza, violência e todas as mazelas propagadas em campanha) é perder a grande chance histórica de ir às causas. Falta sim ao país uma Liderança altiva, competente, capaz de construir um plano de emergência que dê conta das questões domésticas, mas que, sobretudo, seja capaz de ir ao mundo e buscar parceiros solidários para que, restaurando a confiança em nossas instituições, estejam dispostos a trazer investimentos que alavanquem o gigante dopado durante tantos anos.

Aécio propõe isto e, se não o conseguir, pelo menos toca naquilo que me parece ser o nervo da questão essencial: como o país se organizará para fazer face ao futuro que já está às nossas portas?

Os recursos para fazer frente ao projeto de uma nova Nação são vultosos, muito maiores dos que nossas reservas atuais e eventualmente aquelas que com o maior esforço conseguirmos amealhar. Vamos precisar de crédito externo e só o obteremos com demonstração de competência e honradez no cumprimento de contratos.

O povo não precisa temer pela extinção do Bolsa-Família, o povo precisa conscientizar-se da força extraordinária que temos enquanto país, sempre e quando tivermos a chance de sermos governados por estadistas e não por cidadãos supostamente orientados por um discurso que, na essência, só o avilta.

Domingo voto em Aécio. Caso ele vença as eleições a história cobrará se são verdadeiros ou mentirosos os seus propósitos. Caso ele perca ou se forem falsos os seus compromissos, não sei se teremos nova chance.

O mundo não nos esperará por mais uma década.



Até breve.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

ATENÇÃO



Nofundonofundo – adoro essa expressão, especialmente escrita assim, junta – todos mentem. Estudiosos concluíram que não conseguiríamos nos manter vivos, não fosse a mentira.

A mentira não é a negação de uma suposta verdade, não. A mentira não depende de uma verdade para existir. Ela tem vida própria, desvinculada, autônoma e soberana. A verdade é única, concreta, insofismável, absoluta, portanto, chata, incômoda, desnecessária.

A mentira está viva sempre, enquanto a verdade é a morte, porque acabada, conclusa, definitiva. A mentira é infinita, enquanto a verdade é pouca. A mentira é eterna, porque se transforma em outra e mais outra e outra ainda, não aquela inicial, mas outra e outra ainda e diferente e outra.

Enquanto a verdade fica ali, a mentira se movimenta, se altera, muda de corpo, de espírito, de conformidades, de vestes, de cores e de odores. A mentira segue, a verdade, estática, paralisa.

“Eu não acredito em Deus”, não é propriamente uma mentira porque haja um Deus. É uma divina mentira porque eu digo que não acredito. Porque quando digo que não acredito é uma tremenda e extraordinária mentira.

“Eu te amo”, não é propriamente uma mentira porque eu não te odeie, ou porque você seja indiferente para mim. É uma mentira exatamente porque você diz e o amor, não é algo sobre o que se fale.

“Essa é que a verdade”, não é propriamente uma mentira porque existam outras verdades. É uma mentira porque é a única verdade que consigo dizer, portanto, que se calem.

Se acreditarem em tudo que disse até aqui, digo que não disse.

A mentira, portanto, tem glamour e soberania. É viva, porque mutante, sóbria e ébria conforme as suas conveniências, aguda, limpa, bem dita e bendita, mau dita e maldita, contundente e absurda.

A verdade é um saco. Vazio.

A mentira é tudo que podemos sobre o passado, o presente e o futuro. Posso construir um passado, posso me ver no presente, posso construir um futuro. Que quiser e quantas vezes quiser. Na mentira, santa possibilidade.

A verdade não.

Portanto, que se preserve a vida, portanto, a mentira essa dádiva. Que se abolha definitivamente toda e qualquer verdade, mesmo as dos fatos incontestes, presenciais e coletivos. Que não haja nada que não seja outra coisa e que possa ser contada de diferentes e todas as maneiras, que todos não acreditem, porque mentem, que seja eterna posto que é fluída.

Que a mentira governe, que a verdade falte, porque é dor e está morta. Que todos possamos mentirmos e mentir descarada e cotidianamente, a cada dia com uma mentira nova encorpada, manchetosa, cheia de contornos e fragrâncias, porém tênue, para que amanhã possa vir outra e depois de amanhã outra ainda.

Que a verdade desapareça, definitivamente. Para que possamos viver nossa infinita loucura, para podermos continuar dizendo em alto e bom som, eu acredito em Deus e eu te amo.

No domingo, eu não vou votar em Dilécio. Eu sou disléxico.

Essa é que é a verdade.




Até breve.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

BORRÕES



Disseram-me que eu não me ocupasse de política nos meus posts, já que o processo está dando náuseas. Que eu me ocupasse com Arte, quem sabe, que seria melhor.

Fiquei pensando a respeito, embora considere nossos conterrâneos candidatos bastante arteiros, já que cada um, a sua maneira, pratica a arte do embuste. Um com alguma sofisticação outra com menos quilate. Mas ambos, fazedores de arte por demais conhecida por todos nós.

Perguntarão: mas a Política é uma arte? Lembro-me dos nossos melhores, o maribondo de fogo membro da Academia que de picada em picada arrasou um Maranhão inteiro e de um Cruzado foi mestre nas tintas. Tem também aquele outro varapau, que desde a redentora passeou pelos meandros de todos os poderes fazendo contornos. Para não dizer de outros tantos artistas que deixaram um legado inestimável às nossas paisagens mais cinzas.

Quero então respeitar amigos e comentaristas do blog, que quase sempre me dão dicas para vir à post.

O Caderno Dois do jornal Estado de São Paulo publica matéria com a ensaísta e professora norte-americana Camile Paglia de 67 anos, na qual ela critica os criadores contemporâneos, elege o cineasta George Lucas o maior artista vivo e, à moda dos breviários católicos de imagens devocionais, elege vinte e nove artistas num cânone ainda mais polêmico, que ignora nomes fundamentais da história da arte.

São declarações dela, na entrevista:

“Eu, particularmente, estou interessada em atingir aqueles que consideram os artistas sonhadores, pouco pragmáticos ou parasitas preguiçosos”...

Consultada por que escolheu o cineasta Georges Lucas como o artista vivo mais importante e se considera que ele terá, no futuro, a importância que Leonardo da Vinci teve para o Renascimento italiano, Paglia respondeu:

Não há artista vivo em qualquer campo, incluindo o literário, que tenha tido tão profundo impacto na imaginação de milhões. Em Guerra nas Estrelas, Lucas criou um universo mitológico que obcecou gerações de jovens e inspirou uma vasta indústria de produtos e jogos. Foi justamente o êxito comercial de Lucas que prejudicou seu status artístico. Pioneiro da tecnologia digital, Lucas tem enorme influência na vida contemporânea. A sofisticada área de animação computadorizada deve tudo a ele. Seria difícil comparar qualquer artista a Da Vinci, que viveu num explosivo momento da história, quando a arte e a ciência estavam em expansão. Contudo, Da Vinci e Lucas dividem essa ambição de explorar a fronteira entre arte e tecnologia”.

Sobre as consequências negativas da revolução digital, Paglia diz que estamos perdendo a habilidade de pensar de forma analítica justamente por causa dela.

“Eu adoro a web e fui uma das primeiras a publicar nela. Também adoro meu iPhone. Não consigo imaginar minha vida sem ele. Contudo, os cérebros e circuitos neurológicos dos jovens, assim como os dos profissionais de classe média que usam computadores o dia todo, estão sendo invadidos e transformados sem que eles entendam como. O olho sofre com anúncios piscando na rede. Para se defender, o cérebro fecha avenidas inteiras de observação e intuição. A experiência digital é chamada interativa, mas o que eu vejo como professora é uma crescente passividade dos jovens, bombardeados com os estímulos caóticos de seus aparelhos digitais. Pior: eles se tornam tão dependentes da comunicação textual e correio eletrônico que estão perdendo a linguagem do corpo”.

Eu vou comprar o livro de Camile Paglia, recentemente editado: Imagens Cintilantes.

Falando nisso, em cintilante propriamente, lembrei-me de Cingapura. É que o administrador público de lá, anos atrás, foi para a TV informar aos cidadãos os valores gastos com a limpeza das ruas, especialmente com a retirada de chicletes. E comunicou que estaria instituindo uma multa de S$500,00 (quinhentos dólares de Cingapura) – um dólar americano equivale a um dólar e vinte e cinco centavos de Cingapura. Lei em Cingapura é Lei, inclusive aquela que instituiu a Pena de Morte por tráfico, porte ou consumo de drogas.

Vi uma cidade limpa, rigorosamente limpa. Voltando à Belo Horizonte passei a reparar as nossas ruas impregnadas de chicletes, deixando manchas escuras principalmente nas proximidades de escolas.

Reparem.




Até breve.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

DUPLACARTA



Presidenta e Candidato,

Devíamos todos agradecê-los pela extraordinária performance de ambos no debate de ontem no SBT no quesito Educação.

Vocês nos lembraram de nosso grande dramaturgo maldito Nelson Rodrigues nos seus escritos: “A vida como ela é”.

Sem medidas, vocês explicitaram nossas entranhas, nossa verdadeira formação (ou será deformação?), nossa conduta.

O senhor, candidato, ao interpelar sua adversária pegando de uma fala dela no debate anterior na BAND foi primoroso: “Todos podem cometer corrupção”, a senhora teria dito.

A senhora, Presidenta, não foi menos brilhante ao dizer ao candidato que nem ele e nem ninguém está acima de qualquer suspeita.

Eu mesmo, me vi. Em criança me divertia, lançando a muros, galinhas e gatos para saber o resultado sobre os indefesos depois do golpe. Mais recentemente fiquei fascinado por aqueles pauzinhos talheres de madrepérola em restaurante onde almoçamos aos pés das Muralhas da China e os afanei, como recuerdos.

Somos todos passiveis de suspeita. Definitiva lição. Que ninguém aí espere que possamos encontrar um santo que nos governe. Talvez o que nos reste seja uma questão de grau.

Petrobras ou Aeroporto de Cláudio? Pasta Rosa ou Lava Jato?

Maquiavelicamente abordado pela senhora, Presidenta, o senhor, Candidato, saiu-se muito bem nos ensinando como nos escapar de cascas de banana lançadas em nossos caminhos por adversários: foi direto ao ponto na questão de ter sido parado em blitz do bafômetro. O senhor explicou que estava com a carteira vencida e que, inadvertidamente, não quis fazer o teste do teor de álcool.

Pobres das galinhas e dos gatos.

Aconteceu sim, Presidenta, mas eu já pedi minhas desculpas”, o senhor teria dito. Perdoem-me, embora minha comparação não soará mais chula que o fato, mas é como se o senhor, candidato, em outra situação tivesse dito: “Mas eu só pus a cabecinha”. Mera questão de intensidade da falta.

A senhora, Presidenta, no quesito dissimulação é uma mestra a ser seguida. A senhora passa o tempo todo com a santa oportunidade de dizer ao seu povo afinal a que se propõe e se esquiva permanentemente do óbvio. A senhora não é senhora da Polícia Federal e nem do Mistério Público, Presidenta. Há um fato inconteste: a lama grassa e a senhora é sim, o Presidente do Conselho de Administração da Organização Brasil e, como tal, a última instância de responsabilidade em qualquer cartório, mesmo que estes só existam em nosso país.

É verdade, também candidato que o senhor não é dono de Minas Gerais e nem deveria estar falando em nosso nome, como se nós já não soubéssemos que não temos voz. Deixe-nos em nosso silêncio, em nossa desesperança, em nossa vidinha tal como ela é.

Os senhores fizeram-me lembrar da visita recente que fiz à Macau. Lá fiquei sabendo de que em dado momento um sujeito pela proximidade com o governador da colônia consegue a liberação para exploração de casinos e permanece com exclusividade até que, décadas depois de trilhionário, o governo da China, ao restabelecer domínio, acaba com a festa portuguesa.

Sim, Presidenta e candidato, será secular nossa esperteza, nosso levar vantagem em tudo, nosso sangue de colonizados querendo sempre tirar o ouro que nos roubou a matriz?

Não reside aí, quem sabe, uma dica aos senhores para abordarem no próximo debate? Quando ambos forem atacados um pelo outro, apenas digam: “Mas eu não tenho culpa, a culpa é dos portugueses”.

Aula de História.

Para o último debate na Globo, proponho um tema: o Futuro. Lição que nós já aprendemos de ouvido.



Até breve. 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

OUTRACARTA


Presidenta,

De público faço saber que registrei nas urnas dos últimos três pleitos o nome de seu mentor e o da senhora para a governança de nosso país. Depositei muitas esperanças de que a oportunidade tão procurada pudesse dar a vocês motivos para fazer profundas reformas institucionais e operacionais na gestão da coisa pública.

Sem dúvida foram lançados programas importantes, oportunos e necessários, como o bolsa-família que permitiu a milhões de brasileiros ingressarem no rol de pessoas com alguma condição de produzir renda. Milhões compraram tesoura para corte de cabelos e instrumentos para manicures, colher de pedreiro, nível, pá e enxada. Muitos adormeceram, é verdade, na medíocre benesse pública.

É verdade também que o incentivo ao consumo movimentou o mercado interno fazendo girar o ciclo nacional de produção, mesmo com entrantes externos com grande ímpeto competitivo.

Igualmente relevante o projeto Minha Casa/Minha Vida que permitiu a milhões de pessoas adquirirem a sua casa própria bem como seus básicos componentes. O programa sem dúvida incentivou a indústria da construção tomadora de contingente expressivo de mão de obra, insumos e materiais significativos para o giro da economia.

A Copa do Mundo, em que pese todas as mazelas e críticas, foi realizada a contento, sem deixar uma impressão negativa para o país exceto o ocorrido em campo, único ponto sobre o qual a senhora não teve responsabilidade direta.

Algumas tacanhas obras de infraestrutura incluídas no PAC foram concluídas, como estradas, aeroportos e projetos para melhoria da acessibilidade urbana. Projetos vitais como a duplicação da BR381, essa via assassina que vitima mais que uma Síria por ano.


Se somarmos todos os feitos, o balanço de doze anos é incomparavelmente mais modesto que outros países, alguns vizinhos nossos, experimentaram. Vocês perderam a oportunidade e, pior, deixaram um lastro de dúvida sobre a idoneidade e o caráter com que cuidaram do caixa.

Seu mentor e a senhora não podem supor que todos acreditem que o que se passava nos seus gabinetes não eram do conhecimento de ambos. Isto é nos fazer mais idiotas do que nos permitimos ser, mais impotentes do que nos apresentamos, mais cúmplices do que poderíamos ser.

O Casino que virou a administração pública sustentado por um aparato gigantesco montado pela estrutura de governo aliado ao covil de parlamentares, representantes nomeados compulsoriamente pelo povo além de mancomunados com executivos de empresas públicas e privadas é algo do qual nos farão envergonhar por muitos e muitos anos.

Não é menos verdade que governos anteriores sejam isentos da mesma gentalha e que aqueles com os quais a senhora disputa neste momento sejam dignos de alguma confiança.

Nosso problema reside aqui, Presidenta. A senhora e o seu mentor nos deixou um legado asqueroso de continuidade do que mais nos avilta e tira toda a nossa esperança em construirmos uma nação onde os dignos tenham alguma chance.

A questão, Presidenta, é que nossas lideranças nos tirou a possibilidade de escolha. Anular nosso voto, como alternativa política desesperada, é como se mutilássemos o que nos resta de nossa nanocidadania.  

Lamento que a história não tenha lhe instruído o suficiente para, com altivez e coragem, fazer face a esse antro.

Caso seja reeleita Presidenta, nos poupe pelo menos de sua desfaçatez de dizer que em seu governo e de seu mentor é que foram criados os mecanismos para investigar e punir os canalhas, como se os senhores fossem mesmo uma ilha cândida e pura deste lamaçal. Mesmo que não tenham embolsado nenhum níquel na partilha isto não os torna menos vis.

Poupe-nos, Presidenta. Estamos todos sem condições de sairmos às ruas não só porque não sabemos se voltaremos em segurança, mas, e sobretudo, por termos uma imensa vergonha de sermos brasileiros.

Tempo virá em que tudo isto será reservado ao nosso esquecimento, se é que seja possível nutrir ainda um resto de esperança.




Até breve.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

CARTA



Candidato,

Ontem, ao encerrar o segundo bloco do debate, o senhor consultou sua adversária a propósito da palavra que vem recebendo do povo que o senhor tem encontrado pelos quatro cantos deste país:

- “A senhora sabe qual a palavra que o povo tem usado, sabe Presidente”?

Cuidado, candidato, pois esta é a palavra que historicamente norteou todas as grandes transformações. Todos aqueles que se apossaram verdadeiramente dela, que a compreenderam em sua extensão, fizeram ou desencadearam até mesmo à sua revelia, profundas mudanças.

- “Libertação, Presidente. O povo quer se libertar de tudo que está aí”!

Cuidado, candidato, que a história pode lhe conferir a condição de porta-voz. Não foi diferente para Getúlio, Jânio, Juscelino, Kennedy, Churchill, Roosevelt, Lincoln, Gandhi, para citar apenas alguns.

O povo deseja libertação.

Não me parece, candidato, que o povo brasileiro deseja libertar-se apenas do que aí está ou está aí. Não apenas deste governo, desta ou daquela pessoa, deste modelo, deste partido, deste aparato, deste estado.

O povo, penso, deseja libertar-se de empresários que não compreendem que para além de maximização de seu capital, suas empresas têm uma razão social que transcende seus muros e que são imprescindíveis à construção de uma nação pujante e rica, tanto quanto os próprios.

O povo, penso, deseja libertar-se de médicos que perderam seu apostolado de fé em Hipócrates. De psicólogos que não acolhem seus pacientes na dor de ser. De dentistas que não lhe orientem e previnam sobre cáries, de todos os demais profissionais da saúde que não o humanize.

O povo, penso, deseja libertar-se de advogados que prestam um desserviço à justiça, que abusam dos mecanismos controversos da lei e destroem os fios do tecido social. De todos os demais profissionais da Justiça cujo propósito não seja outro senão garantir o império da lei e da boa ordem.

O povo, penso, deseja libertar-se de mestres nas escolas que mais do que ensinarem respostas não instigam seus educandos a novas perguntas. De todos os formadores no profano ou na fé que não as cultuem como formadoras da índole, do caráter, da moral e ética de seu país.

O povo, penso, deseja libertar-se de todos aqueles que não cumprem contratos, que tramam, que se locupletam, que falseiam, que burlam, que roubam, que matam. De todos aqueles nefastos e perversos à boa e sadia convivência.

O povo, penso, deseja libertar-se de jogadores de futebol que não deixam o campo chorando após uma derrota. Ou que percam palavras, após uma vitória acachapante. De todos os profissionais do esporte que não o tem como a grande paixão de suas vidas.

O povo, penso, quer se libertar da pecha de condenado ao fracasso, de ser de um país de um futuro que nunca chega, de ser uma nação sem eira nem beira, sem memória, disforme.

O povo, candidato, quer muito mais do que sua vitória ou a derrota de sua adversária e do mentor dela nas eleições. O povo deseja reencontrar-se, se é que em algum momento, pelo menos da história recente, ele se viu como tal.

O povo, candidato, quer que alguém o inspire. Tudo o mais advirá, porque as condições desta terra são mais do que favoráveis, desde Caminha, plantando tudo dá.

Candidato, declaro de público que fui seu eleitor em todas as oportunidades que o senhor candidatou-se a algum cargo público e lembro-me bem dos caminhos percorridos pelo seu avô.

Assisti ao vídeo de sua fala recente em Pernambuco e confesso que me emocionei. O senhor precisa acreditar quão sério é o clamor da história presente e o fato de o senhor usar seus filhos como norteadores de propósito confere-lhe, ainda, maior responsabilidade.

O senhor não poderá nos trair.

“Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós”!


Até breve.