Assisti ontem no MaxPrime, canal 78
da SKY, ao filme italiano A Solidão dos
Números Primos. Hoje pesquisando na web colhi duas críticas sobre o filme e
as transcrevo abaixo:
“O título do filme é uma obra-prima 'per si', a
sinopse é ótima (o livro deve ser muito bom, um dia quero lê-lo) e o potencial
dramático da obra é magistral, mas o ritmo é lentíssimo, a montagem é confusa,
a trama é um tanto ininteligível, as situações são forçadas e emocionalmente
chantagistas. Apreciei a subtrama adolescente, mas não suportava mais o filme
depois de sua primeira hora. Muito mal-resolvido, muito chato, um desperdício
de angústia, infelizmente!”
“A Solidão dos Números Primos” tem momentos impressionantes,
mas que de algum modo se perdem pelo ritmo extremamente lento e pela falta de
coesão das suas histórias. E é aí que erra. Ou que não cumpre na perfeição. Não
consegue assim pagar as suas obrigações e acaba por perder um pouco a
intensidade, que potencialmente a história teria.”
Mattia e Alice (Luca Marinelli e Alba
Rohrwacher), dois jovens marcados pela tragédia, sempre se sentiram diferentes
e excluídos do mundo. São como números primos: divisíveis apenas por um e por
eles mesmos. Na infância, a vida de ambos foi perturbada por episódios
traumáticos e irreversíveis, lidando com traumas que os tornaram indivíduos
singulares, isolados da sociedade.
Alice, filha de um homem dominador
que queria vê-la campeã, sofreu um terrível acidente de esqui, quase perdeu a
perna e entregou-se à anorexia. Mattia negligenciou a irmã gêmea deficiente, tendo
a abandonado num parque recebendo em seguida a notícia de seu desaparecimento.
Estes eventos vêm alterar as suas
personalidades. Ao se encontrarem na adolescência, se reconhecem na dor um do
outro e desenvolvem um forte laço e os destinos dos dois parecem
irrevogavelmente ligados.
Pois é.
Não tem sido fácil mesmo optar pela
diferença. Essa coisa às vezes lenta, confusa, ininteligível, simulação de
chantagem, mal resolvida, chata, sem consistência, angústia desperdiçada já que
o mundo está aí para ser vivido.
Filme arrebatador pela arquitetura
belíssima da montagem. Como se fosse um dos acometidos pelo trauma da trama, o
diretor constrói uma sequência caótica e intensa repleta de retornos a
passagens e às suas consequências na vida dos personagens, incomodando a quem
assiste.
Não é para qualquer um filmar a dor de ser, especialmente
quando os protagonistas são fisgados pela tentativa de construir seu próprio caminho.
Mattia e Alice são personagens memoráveis porque carregam em si a negação dos
outros por eles serem quem são, vitimados pelos seus desígnios.
É mesmo insuportável deparar-se com
alguém que não segue a planos lineares, sustentados pela conformidade, que tem
ritmo e perspectivas próprias ainda que aparentemente caóticas.
É mesmo desconfortável
relacionar-se com alguém que, apesar de tantas pressões para reagir conforme o
que está estabelecido, busca construir suas próprias saídas.
É mesmo tenebroso ver alguém optar
pela abstenção alimentar (Alice) ou de se cortar todo (Mattia), autoflagelo na
ânsia por se ver livre da dor.
A Solidão dos Números Primos é um
filme ímpar.
Até breve.