Há na sala da casa na qual fomos
recebidos para uma cerimônia do chá uma inscrição que significa: UMA CHANCE.
O sentido é de aquela experiência deve
ser vivida como única. Ninguém que está ali tem certeza que ela poderá se
repetir um dia, assim como a vida.
Da cerimônia, que no passado era
preparada exclusivamente por e para os homens, os samurais, hoje participam
predominantemente mulheres em número muito reduzido de praticantes.
O ritual é rigoroso com um processo
que envolve mais de trinta e poucas etapas, repetidas a cada vasilha que é
servida aos convidados. Logo no início o grupo responsável pelo preparo nos
passou um cartão no qual estão escritas as palavras que deveriam nortear nossa
conduta enquanto estivéssemos ali: HARMONIA, RESPEITO, PUREZA E SERENIDADE.
O Japão tem no xintoísmo e no
budismo suas religiões principais. Católicos (0,4%) e protestantes (0,6 %) são
minoria. No entanto, 90% dos japoneses são xintoístas, 80% budistas e no Natal,
100% cristãos. Assim mesmo, sincretismo puro segundo conveniências. Viva a
modernidade!
Durante o dia são budistas, amantes
da disciplina e do trabalho. À noite são xintoístas, desfrutam o saquê, arroz e
gozam a vida.
São batizados no xintoísmo, fazem o
funeral no budismo – para adquirirem a vida eterna – e se casam no catolicismo.
O xintoísmo é politeísta, tem oito
milhões de deuses, ou seja, todos os elementos integrantes da natureza. Tanto
assim que nos santuários não há representação de nenhum deus.
O Japão desde 660 a.C. até hoje foi
governado por 125 imperadores. O primeiro, dizem, desceu dos céus e era bisneto
da deusa do sol. Até o ano de 1868 os Shoguns título que os japoneses davam aos
proprietários de terra, durante o período feudal, do século XII até meados do
século XIX, e aos "chefes militares" que dirigiam o governo, em
detrimento da autoridade do imperador, cujos poderes eram simbólicos.
Esses caras mantiveram o país
fechado a toda e qualquer influência externa até que surgiu o Imperador Meiji
que governou ( de fato) o país durante trinta e cinco anos, período em que o
Japão experimentou uma acelerada modernização.
Seu filho Hiroíto o sucedeu ficando
no trono de 1901 até 1989. Hoje Akihito, filho de Hiroíto e, portanto, neto de
Meiji é o único monarca do mundo que detém o título de imperador e não goza de
nenhum poder político.
Akihito tem 78 anos e mora com a
esposa imperatriz no Palácio Imperial instalado em uma área central de Tóquio
de um milhão de m² - ninguém reclama – e teve três filhos: dois homens e uma mulher.
A filha do Imperador se se casar
perde o título de princesa. Ela hoje cozinha, vai a supermercados, dirige seu
próprio automóvel e está casada com um funcionário público.
A cidade é deslumbrante, o povo
gentil, simpático, educadíssimo. Passeamos por uma avenida larga mantida
durante todo o dia fechada para o trânsito exclusivo de pedestres. Fica no
bairro de Ginja onde estão instaladas lojas das melhores marcas do mundo e, provavelmente
por esta razão, o metro quadrado custa algo perto de duzentos mil dólares.
Respirar em dois mundos, o da
tradição milenar contrastando com o que há no estado da arte na modernidade foi
uma chance.
Amanhã vamos para Quioto, capital
do país até 1868 e que não foi golpeada quando da segunda grande guerra.
Se não estiver o tempo nublado
vamos nos deparar com o Monte Fuji. Um outro chá.
Até breve.
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