sábado, 20 de setembro de 2014



Enquanto isto, eu flano.

Acho que todos, quando crianças, acreditávamos que se furássemos no chão um buraco – bem fundo - atingiríamos o Japão. Agora adulto, vim por cima, pelos céus. De Istambul à Tóquio gasta-se mais doze horas batendo asas e completa-se a diferença para a terrinha do fuso total de doze horas.

O corpo dança, literalmente. Minha cabeça, já pouca, dá sinais agudos de desembroscamento. Piora quando a gente vai saindo do aeroporto de Narita e noventa quilômetros depois de pista inglesa chega-se à capital do Sol Nascente.

Tóquio, de primeira, assusta.

Dois mil e duzentos quilômetros quadrados de área territorial sísmica – uma fêmea com crises intensas ocasionais de TPM entre 3,5° e 4,0° na escala Richter – abrigam treze milhões de pessoas de um total de cento e vinte e oito milhões contadas por todo esse país milenar.

Eu mesmo fiquei cismado ao me deparar com o prédio da prefeitura arraiassando-se à frente do meu hotel. O guia vai logo dizendo que, se rolar um balanço, para que ninguém se agite. Há décadas que a coisa balança, mas não cai.

Sei não, mas por força de lei, e pelo que dizem lei aqui é lei, todas as construções devem suportar variações de até 7,5° na escala. Por diversos viadutos sob os quais passei observei os pilares com amortecedores pneumáticos. Bacana às pampas. Por um ou outro momento torci para que a terra desse um tremeleque só prá eu sentir sensações desorientadas. Como se para mim fosse necessário a terra tremer para eu perder meu oriente.

Quarenta e sete províncias constituem o mapa do país, das quais apenas três abrigam a Grande Tóquio com 38 milhões de seres nativos. A natureza dá o frio conforme o cobertor.

Essa turminha num é desse planeta. Setenta por cento pertence à classe média e reside uma hora à uma hora e meia de distância do centro urbano coberta por um sistema britânico de horários de seus trens. Tudo tem uma razão, assim os japa são magros para se acomodarem divinamente nos vagões, educadamente empurrados nas estações por controladores com suas luvas brancas.

Não há mais edifícios antigos. A maioria deles foi pelos ares na segunda grande guerra. Os outros foram dragados pela revolução e pipocam pela cidade cada um mais próximo do céu e instalados em locais antes ocupados pelo Pacífico.

Sim, porque a ilha para abrigar tanta gente tem que se expandir. Jogam seus restos incinerados em usinas, sobre águas revoltosas onde plantam suas moradas e edifícios comerciais. Passamos por duas dessas usinas que mais se assemelham a shoppings com suas altas torres de evasão dos gases. Surpreendentes.

Aqui e ali a gente se depara com extensas e altas redes de proteção para a contenção de pequenas bolinhas. De golfe. Os grandes, assim chamadas as pessoas que têm sucesso, praticam o esporte.

Homens de negócios seguem um ritual nipônico na tratativa com seus clientes. Primeiro levam os adversários para uma partida de golfe e ao longo de todo o tempo não tocam no assunto que os levaram ali.

Depois rola um jantar predominantemente regado por saquês. Pilequinho adiante os clientes disputarão com os nativos um desafio no Karaokê. Os japoneses, homens de negócio, nunca ganham de seus clientes. Só no Karaokê.

Passeei pela cidade depois de ter deixado nossas malas no hotel. Frenesi, apesar de ser sábado, e me encantei com a pluralidade estética de seu povo nativo. Especialmente pelos jovens. Não há nada neles igual. Cada um, à sua maneira faz seu look, exótico é pouco para dar conta.

Cabelos coloridos magamentes, botas, camisetas mucholôcas, pircings por orelhas, base de olhos, narizes afora. Enquanto Ela inqlopesquisava, eu fiquei esse tempão com os olhos postos sobre a intensa movimentação dos corpos. Puta diversidade, um esplendor.

Olhando bem as mulheres, piradézimas, sem muito esforço se encanta. Um barato a meninada. Lindas. Loucas, saltos, cores e sorrisos.

Já gostei do Japa. Embora não toparia viver nessa acinzentada concretude, apesar de sísmica.



Vista parcial da Prefeitura de Tóquio


Até breve. 

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