Vou contar uma outra estória para
vocês.
Era uma vez um reino e, por
conseguinte, uma Rainha.
A Rainha tinha dois filhos, uma
menina e um menino. Ocorre que, na verdade, somente o filho era legítimo. Uma
outra menina, filha de uma vassala qualquer, foi colocada no berço logo depois
da Rainha ter perdido a filha no parto. Ao nascer a criança, o Rei foi
informado que se tratava de uma menina e reagiu violentamente aos gritos. “Eu
queria um varão!” Constatada a morte prematura da criança que acabara de nascer
a aia da Rainha tratou imediatamente de substituí-la por outra menina. “Majestade,
assim o Rei acreditará que a senhora poderá ter outros filhos e que estes vingarão...”
O menino nascera em um período de ausência do Rei que estava lutando pela
manutenção do poderio do reino.
Enquanto o Rei esvaia-se em sangue
à frente das batalhas, e nos intervalos participava de altos bacanais com
mulheres trazidas a seu pedido, a Rainha se desdobrava para dar todo o carinho
e atenção à filha, o que também lhe dava um alento. Não pela ausência do Rei.
Mas pela paixão que nutria pelo cunhado, irmão mais novo do Rei, por quem desde
a primeira vez que o viu quando chegou àquele reino trazida pelo pai, Rei de
reino conquistado pelo futuro marido. O pior é que a Rainha era
desesperadamente correspondida pelo cunhado.
Inúmeras vezes, especialmente
durante as refeições, o cunhado a comia vorazmente com os olhos e ela se
queimava toda. O Rei distante há meses. A cada refeição ela se acabando toda
até que numa noite qualquer e apenas naquela noite, apareceu em pelo nos
aposentos do cunhado.
Meses depois daquela noite, ao vesti-la,
a aia pressentiu que algo crescia no ventre da Rainha. Sem dizer nada para sua
Alteza tratou de contratar seis vassalos que à noite encapuzados entravam no
castelo e iam, acompanhados pela aia, até próximo aos aposentos de Sua
Majestade. Tratou de espalhar a notícia reino-a-fora de que inúmeros homens
todas as noites iam estar nos aposentos para divertir a mulher dadivosa.
Para que os seis homens contratados
não dessem com a língua nos dentes ameaçou-os de que, se isto acontecesse, ela
mandaria cortar dois dos membros sexuais de todos eles.
Quando o Rei retornou do ciclo de
batalhas não acreditou no que diziam fora do castelo. Quis saber da boca da
própria esposa de quem era o filho. Uma Rainha diz. Ela confessou o imenso amor
que nutria pelo irmão do Rei e que, em uma noite de demoníaca fragilidade da
carne, teria ido ao encontro do amado.
“Quantas noites?” “Uma única noite,
meu rei...” “Quantas vezes?” “A noite toda, meu rei...” “Ele é melhor do que eu?”
“Por uma única vez, meu rei, não é possível comparar”...
A campanha recente de conquistas do
Rei impunha que mandasse pessoas de sua maior confiança para que assumissem os
reinos então conquistados. O Rei viu nisso uma oportunidade para resolver dois
incômodos. A ocupação daqueles novos reinos e eliminar a possibilidade da
Rainha ter outros momentos com o irmão para, afinal, encontrar parâmetros de
comparação.
Poucos meses depois, quando
retornava da missão o irmão do Rei foi vítima de uma emboscada. “Foi você que
mandou mata-lo, covarde!” Teriam ouvido os serviçais os gritos da Rainha enquanto
Sua Alteza quebrava todos os cristais de seus aposentos, arremessando-os contra
o Rei.
Depois deste período o reino
experimentou um longo tempo de paz, o que permitiu ao Rei ocupar-se
integralmente com sua sucessão. Sim, porque não haveria de ser seu sucessor a
menina, por razões óbvias. O menino estava fora absolutamente da parada. Mesmo
que sendo seu sobrinho, o Rei optou pela crença de seus vassalos de que Sua
Alteza não passava de uma vadia.
A Rainha entrou em depressão
profunda, sem saber aquilatar o que mais a fazia sofrer. Se pela perda do amado
ou se pela ausência do Rei na formação de seus filhos, isto é, de seu filho e de
sua filha adotada.
Esta situação agravou-se ao extremo
quando, anos depois, o Rei tomou a decisão de quem governaria o reino seria
alguém escolhido pelo Povo. A Rainha, em desgraça, seria enxovalhada, senão
queimada em praça pública como uma devassa. Na noite em que as ruas estavam
repletas de alvoroço produzido pelos vassalos que se convertiam em Povo, a
Rainha evadiu-se levando consigo o filho do cunhado do ex-rei e a filha de uma
cidadã qualquer.
E assim foi o que se deu.
Há na História mineira - ou será
estória? – um representante antológico da Política que dizia: “O que importa não são os fatos, mas a
versão que se dão aos fatos”.
Qual será a da aia, e do cunhado? E
a sua?
Até breve.
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