segunda-feira, 18 de agosto de 2014

REVERBERAÇÃO



Terminei de ler Confissões de um Jovem Romancista de Umberto Eco que junto com Como Ler um Escritor de John Freeman ganhei do Vlad e da Fá como presente pelo dia dos pais.

Partindo da própria experiência como escritor, Eco examina as diferentes fases do processo criativo: preparativos, composição dos personagens, montagem da trama. Nos três primeiros ensaios, usa a ferramenta da semiótica para investigar questões relativas a uma teoria da leitura.

O primeiro se dedica especialmente a responder à pergunta “Como você escreve seus romances?”; o segundo examina como, e por que, interpretam-se textos – e revela, em anedotas, os caminhos incrivelmente excêntricos por onde alguns de seus leitores enveredam ao tentar interpretar os seus livros. O terceiro investiga o mundo criado pela ficção – o universo narrativo, eficaz a ponto de iludir o leitor, levando-o a esquecer de que não está no chamado “mundo real”.

Erudição pura do ensaísta e professor de linguística e semiótica, um dos intelectuais que deram rosto ao século XX.

Eco classifica os autores em dois grupos e os leitores também. Há os escritores modelo e os escritores empíricos e, da mesma forma, os leitores modelo e os leitores empíricos.

Os escritores modelo são pesquisadores, como ele próprio, para construírem suas obras. Antes de debruçarem sobre a pele nua das páginas, eles empreendem profunda pesquisa de cenários, datas, lugares, cronologias, ligações históricas e são rigorosos na exatidão de suas construções prosaicas. Eles terão leitores modelo que, controladores, os julgarão por tudo isto.

Os escritores empíricos podem até a vir pesquisar algo, mas sem o rigor dos escritores modelo. Despem-se de suas próprias construções fantásticas e não têm a menor preocupação com a exatidão ou coerência do conteúdo de sua prosa. Assim, leitores empíricos os lerão, muitos crendo que tudo narrado corresponde até aos fatos do real.

Acadêmico fervoroso, Eco demorou muito para poder escrever seu primeiro romance, julgava que escrever obras de ficção poderia lhe colocar em situação difícil perante os seus colegas.

O Nome da Rosa, seu primeiro romance escrito quando ele já tinha cinquenta anos de idade, é um texto carregado de referências, citações, pesquisas profundas, preparativos que dispenderam dois anos de intensos estudos. Uma engenharia e precisão de relógio suíço.

Não acredito que Vlad e nem Fá tenham lido o livro e que o presente tenha alguma razão específica e direta para me dar um toque. Não. Acho que ambos ora são leitores modelo, ora são leitores empíricos.

O que para mim significa que tenho algum espaço em suas leituras.



Até breve.

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