Terminei de ler Confissões
de um Jovem Romancista de Umberto Eco que junto com Como
Ler um Escritor de John Freeman ganhei do Vlad e da Fá como presente
pelo dia dos pais.
Partindo da própria experiência
como escritor, Eco examina as diferentes fases do processo criativo:
preparativos, composição dos personagens, montagem da trama. Nos três primeiros
ensaios, usa a ferramenta da semiótica para investigar questões relativas a uma
teoria da leitura.
O primeiro se dedica especialmente
a responder à pergunta “Como você escreve seus romances?”; o segundo examina
como, e por que, interpretam-se textos – e revela, em anedotas, os caminhos
incrivelmente excêntricos por onde alguns de seus leitores enveredam ao tentar
interpretar os seus livros. O terceiro investiga o mundo criado pela ficção – o
universo narrativo, eficaz a ponto de iludir o leitor, levando-o a esquecer de que
não está no chamado “mundo real”.
Erudição pura do ensaísta e
professor de linguística e semiótica, um dos intelectuais que deram rosto ao
século XX.
Eco classifica os autores em dois
grupos e os leitores também. Há os escritores modelo e os escritores empíricos
e, da mesma forma, os leitores modelo e os leitores empíricos.
Os escritores modelo são
pesquisadores, como ele próprio, para construírem suas obras. Antes de
debruçarem sobre a pele nua das páginas, eles empreendem profunda pesquisa de
cenários, datas, lugares, cronologias, ligações históricas e são rigorosos na
exatidão de suas construções prosaicas. Eles terão leitores modelo que, controladores,
os julgarão por tudo isto.
Os escritores empíricos podem até a
vir pesquisar algo, mas sem o rigor dos escritores modelo. Despem-se de suas
próprias construções fantásticas e não têm a menor preocupação com a exatidão
ou coerência do conteúdo de sua prosa. Assim, leitores empíricos os lerão,
muitos crendo que tudo narrado corresponde até aos fatos do real.
Acadêmico fervoroso, Eco demorou
muito para poder escrever seu primeiro romance, julgava que escrever obras de
ficção poderia lhe colocar em situação difícil perante os seus colegas.
O Nome da Rosa, seu primeiro romance escrito quando ele já tinha
cinquenta anos de idade, é um texto carregado de referências, citações,
pesquisas profundas, preparativos que dispenderam dois anos de intensos
estudos. Uma engenharia e precisão de relógio suíço.
Não acredito que Vlad e nem Fá
tenham lido o livro e que o presente tenha alguma razão específica e direta
para me dar um toque. Não. Acho que ambos ora são leitores modelo, ora são
leitores empíricos.
O que para mim significa que tenho algum
espaço em suas leituras.
Até breve.
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