Lembram de que meses atrás eu
inventei de fazer uma seleção de cem posts, publicar livros com perspectivas de
disputar o Nobel de Literatura de 2042 e irmos busca-lo em Oslo, eu vestido
como uma libélula?
Pois é, até agora deu em nada
aquele projeto.
Estou achando mais fácil tornar-me
libélula do que editar livros e quando completar meus noventa anos ser
reconhecido internacionalmente pelo gigantismo de minha obra.
No fundo, de certa forma, isso
traduz um pouco do que, depois dos sessenta, eu tenho pensado e me ocupado. Tô
pouco me lixando para compromissos de qualquer ordem, inclusive este de
natureza intelectual.
Chutei o balde, literalmente. Tem também desilusão, mas é
sobretudo por uma questão de escolha.
Segunda-feira assisti o Juca de Oliveira no Roda Viva. Ele está beirando oitenta anos e encenando, sozinho no palco, O Rei Lear, de Shakespeare. Em dado trecho do programa Juca diz de forma taxativa que nunca, jamais, em tempo algum um pai deve passar em vida o seu patrimônio para seus filhos, sob pena de, quando idoso, ser lançado por eles em asilo ou, como é chamado hoje, Casa de Repouso.
Segunda-feira assisti o Juca de Oliveira no Roda Viva. Ele está beirando oitenta anos e encenando, sozinho no palco, O Rei Lear, de Shakespeare. Em dado trecho do programa Juca diz de forma taxativa que nunca, jamais, em tempo algum um pai deve passar em vida o seu patrimônio para seus filhos, sob pena de, quando idoso, ser lançado por eles em asilo ou, como é chamado hoje, Casa de Repouso.
A que ponto chegamos na questão de
valores.
Não vou disputar Prêmios Nobeis de
coisa alguma! Imaginem eu com noventa anos caquético e débil, todo ornado em libélulas
vestes adentrando uma casa de repouso de periferia com minha plaquinha de Oslo
e meus filhos e netos, claro, saindo dali todos em suas BMWs ou Naksumas de
tetos solares e com destinos programados em computadores de bordo conquistados
com minha polpuda herança.
Sem chance!
Vou continuar acreditando que o
legado já está constituído, e a imortalidade do autor está nas escolhas de suas
crias, independentemente quanto de valor autorizado pelo vil metal elas tenham
amealhado ou conquistado.
A obra está posta.
E só por força desse privilégio hoje posso me
ocupar de questões outras. Meus filhos me proporcionam a tranquilidade de poder
pensar para além de meu seio familiar, enquanto ocupação ou preocupação.
Posso pensar e escrever sobre algo
que me transcende, sobre mundos outros que me acometem, questões que me
indignam ou que me angustiam. Posso pensar e escrever sobre o que se passa para
além de nós mesmos, ocupando-me de Sírias, Iraques, Áfricas e/ou políticas e outras
mazelas nacionais.
É que Vlad estará viajando no
domingo e, por força disto, hoje à noite, meus filhos vão fazer um jantar em
minha homenagem na casa de Pretinha para comemorar o Dia dos Pais.
Deles eu já tenho minha plaquinha.
Minha herança já está neles.
Até breve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário