sexta-feira, 11 de julho de 2014

VERTIGEM



Assisti em vídeo a algumas entrevistas que serviram de material para Jorge Furtado, o premiado cineasta pelo seu curta “Ilha das Flores”, para compor o seu mais novo longa “O Mercado de Notícias”.

As entrevistas foram dadas por profissionais de alto conceito no mundo jornalístico como Jânio de Freitas, José Roberto de Toledo e Paulo Moreira Leite, entre outros não menos ilustres.

Interessei-me especialmente por alguns temas abordados pelo jornalista José Roberto de Toledo.

A questão da fonte, por exemplo.

Toda notícia poderá vir a desagradar não necessariamente à pessoa objeto da notícia. Toda informação está carregada de viés daquele que a divulga, muitas vezes viciada por interesses.

“No meu tempo de editor do Painel (coluna diária do jornal Folha de São Paulo), eu e mais três jornalistas entrevistávamos de trinta a quarenta políticos por dia. Depois de seis anos eu deixei a coluna gritando, pedindo alguma coisa concreta, pois eu não aguentava mais ser enganado trinta a quarenta vezes por dia.” 

O impacto tecnológico nos jornais.

“Qualquer pessoa hoje é um repórter com todos os processos. Com um celular na mão, a pessoa fotografa, narra, edita e publica o fato.”

Efeitos.

“Há menos debate hoje do que antes. A internet acaba favorecendo a existência de guetos que acabam levando a uma situação muito perigosa.”

A crise das empresas de mídia impressa.

“As empresas de comunicação na crise de identidade se são empresas de informação ou de tecnologia perderam de vista que o que vendem é credibilidade. Estamos vivendo uma época semelhante à da invenção da imprensa. Hoje ninguém com menos de trinta anos assina jornal.”

A manchete.

“Ninguém mais é seduzido pela manchete. Houve uma época que era a forma de esquentar a notícia. Estávamos na ditadura e um repórter flagrou um padre com um sargento em um quarto de hotel suspeito. Tinham que dar a notícia. A manchete saiu: MEMBRO DO CLERO PENETRA CÍRCULO MILITAR.”

No universo amplo de realidades com a imensa proliferação dos meios para divulga-las, além do espaço de tempo curtíssimo em que se sucedem, penso que ficamos muito próximos de perder mesmo contato com o que de fato se passa.

Vamos construindo um sucedâneo de notícias em que nada tem consistência, lembrando tudo que é sólido desmancha no ar.

Muito semelhante a quatro gols em seis minutos e o que está levando a muitos imaginarem e até acreditarem que, de fato, o jogo foi três a um e que as manchetes foram impressas para vender jornais.

O fato, se é que aconteceu como vimos, não é tão grave assim, portanto.



Até breve.

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