Assisti em vídeo a algumas
entrevistas que serviram de material para Jorge Furtado, o premiado cineasta
pelo seu curta “Ilha das Flores”, para compor o seu mais novo longa “O Mercado
de Notícias”.
As entrevistas foram dadas por
profissionais de alto conceito no mundo jornalístico como Jânio de Freitas,
José Roberto de Toledo e Paulo Moreira Leite, entre outros não menos ilustres.
Interessei-me especialmente por
alguns temas abordados pelo jornalista José Roberto de Toledo.
A questão da fonte, por exemplo.
Toda notícia poderá vir a
desagradar não necessariamente à pessoa objeto da notícia. Toda informação está
carregada de viés daquele que a divulga, muitas vezes viciada por interesses.
“No meu tempo de editor do Painel (coluna diária do jornal Folha de
São Paulo), eu e mais três jornalistas
entrevistávamos de trinta a quarenta políticos por dia. Depois de seis anos eu
deixei a coluna gritando, pedindo alguma coisa concreta, pois eu não aguentava
mais ser enganado trinta a quarenta vezes por dia.”
O impacto tecnológico nos jornais.
“Qualquer pessoa hoje é um repórter com todos os processos. Com um
celular na mão, a pessoa fotografa, narra, edita e publica o fato.”
Efeitos.
“Há menos debate hoje do que antes. A internet acaba favorecendo a
existência de guetos que acabam levando a uma situação muito perigosa.”
A crise das empresas de mídia
impressa.
“As empresas de comunicação na crise de identidade se são empresas de
informação ou de tecnologia perderam de vista que o que vendem é credibilidade.
Estamos vivendo uma época semelhante à da invenção da imprensa. Hoje ninguém
com menos de trinta anos assina jornal.”
A manchete.
“Ninguém mais é seduzido pela manchete. Houve uma época que era a forma de
esquentar a notícia. Estávamos na ditadura e um repórter flagrou um padre com
um sargento em um quarto de hotel suspeito. Tinham que dar a notícia. A
manchete saiu: MEMBRO DO CLERO PENETRA CÍRCULO MILITAR.”
No universo amplo de realidades com
a imensa proliferação dos meios para divulga-las, além do espaço de tempo
curtíssimo em que se sucedem, penso que ficamos muito próximos de perder mesmo
contato com o que de fato se passa.
Vamos construindo um sucedâneo de
notícias em que nada tem consistência, lembrando tudo que é sólido desmancha no
ar.
Muito semelhante a quatro gols em
seis minutos e o que está levando a muitos imaginarem e até acreditarem que, de
fato, o jogo foi três a um e que as manchetes foram impressas para vender
jornais.
O fato, se é que aconteceu como
vimos, não é tão grave assim, portanto.
Até breve.
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