quarta-feira, 16 de julho de 2014

TÉDIO



“Tu estás longe do teu mundo, és uma alma estranha numa terra estranha, tudo te é hostil e a solidão te pesa sobre os ombros como os milênios que sentes sem saber explicar o que sentes. Porém, te movimentas na direção de retorno, pois nada mais há para experimentares que realmente te atraia, reconheces que por trás de todo o brilho e excitação que buscas espreita a decepção. É nesse momento que experimentas o maior perigo, pois inadvertidamente podes te acomodar no exílio e deixar de te movimentar na direção do retorno ao teu lugar; admirando-te com tua capacidade de suportar a solidão existencial te apaixonas pela sombra de todos teus erros e exageros. O anseio de te libertar é maior, porém, e, ainda mais, o que fizeres para te libertar contribuirá também para a libertação de teus semelhantes.”

Chovia.

Uma tarde qualquer de uma quinta-feira, 13.

Rebuliço na rua, gente que corria, carros em garrafas. Alaridos.

Em um bar, desses copos-sujos, dois homens bebericavam amarelas e pingadas brancas. Em silêncio com os olhos perdidos no movimento ali de fora.

Dois guardas da Polícia Militar na porta de uma loja de tecidos.

Camelôs, homens-placa, vendedores de bilhetes de loteria, escondiam-se da chuva debaixo de marquises.

Crianças se acotovelavam ao redor da provável mãe. Um cão latia.

Poças d´água.

Uma barata enlouquecida buscava safar-se entre pedestres na calçada.

Um homem gritava promoções da loja de cosméticos.

Uma mulher retirara uma toalha de uma sacola. Em seguida descalçara os sapatos encharcados, colocara-os dentro da sacola. Com a toalha enxugara os pés. Retirara da sacola um par de sapatos secos e os calçara. Fora para os fundos da calçada, bem protegida pela marquise.

A chuva apertava.

A enxurrada engrossava e invadia a calçada.

A barata já não era mais vista.

Um dos homens do bar debruçou-se colocando a cabeça, sobre as duas mãos, apoiada sobre a mesa. O outro recolhia garrafas vazias de cerveja e copinhos de pinga.

Na porta de uma loja de tecidos já não se viam dois guardas da Polícia Militar.

Camelôs, homens-placa, vendedores de bilhetes de loteria, escondiam-se da chuva debaixo de marquises.

O cão fugira.

A mãe levara os meninos.

Pouco depois o homem que gritava promoções fechara a loja de cosméticos.

A enxurrada fora aos poucos reduzindo até tornar-se gotas que pendiam do leito da rua ao fundo de bueiros.


Secara. 

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