Ouvi essa, ontem:
No hospício um enfermeiro vai aos
aposentos de um dos internos para lhe entregar uma correspondência e vê o
insano, solene, abrir o envelope e tirar uma única folha de papel. Em branco.
- Quem te enviou?
- Meu irmão.
- Mas ele não escreveu nada...
- É que não estamos nos falando.
Saramago em entrevista de dezembro
de 1998, publicada na Revista Cult, no. 1, Ano 17, Janeiro de 2014:
“Deixa-te levar pelo menino que foste... Porque, na verdade, de nada eu
gostaria mais – ou de poucas coisas eu gostaria tanto – do que passear pela
rua, não levando pela mão o menino que fui, mas sendo levado pela mão do
menino. Se eu pudesse recuperá-lo, tê-lo agora mesmo, quanto eu gostaria. Vocês
podem pensar: mas que ideia estranha é essa, você é ele e ele é você. Não, eu
sou ele, mas ele não sou eu. Um deles não conhece o outro; e o fato de que um
deles não conheça o outro me perturba. E por isto eu digo: deixa-te levar pelo
menino que foste. Talvez o menino, supondo que os meninos não são maus – alguns
são péssimos, claro -, fosse capaz de, na hora que vamos fazer uma coisa
errada, de puxar pela nossa roupa e dizer: não faça isso.”
Hoje, recebi de Lozinho uma folha
de papel.
Em branco.
Até breve.
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