Vou dizer agora o que eu acho disso
tudo. Nada. Eu já não acho nada mais disso tudo. Agora, por que eu não vou
dizer nada disso tudo? Por nada. Não há nada que me impeça de dizer algo sobre
isso tudo. Nada.
Então para que eu continuo a
escrever quase diariamente sobre isto tudo? Por nada. Escrever e nada dá em
nada. Desse em alguma coisa seria. Mas, quase sempre dá em nada.
Eu mesmo já pensei em parar e não
escrever nada. Só que concluí que, escrevendo ou não, não aconteceria nada.
Nada por nada continua nada. Nada escrito pelo menos ocupa mesmo que o nada.
Acho que reside aqui a questão:
nada comove, implica, sugere. Então eu posso investir na escritura de um livro
plagiando o francês: O Nada de Ser, ou seria, O Ser de Nada ou ainda, Ser o de Nada.
O Nada de Ser contemplaria
personagens que não estão nem aí prá nada. “Tô
pouco me lixando para o que me passa. A vida para mim nunca vez nenhum sentido
mesmo, nós somos um projeto escroto que acaba carniça. Num vale nenhuma pena
esquentar a cuca com nada.”
O Ser de Nada contemplaria
personagens que não aceitariam ser. “Taí,
eu não tenho compromisso com nada desse mundo. Eu quero mesmo é que se exploda.
Do jeito que vier eu toco, pode ser qualquer parada que eu traço. Camaleão,
vira-folha, traíra, eu tô pouco me cagando.”
Ser o de Nada contemplaria
personagens que são e aceitam ser de nada. “Num
conta comigo não, sem essa de me pedir que tome a atitude, vai por mim, quebra
o meu galho, eu nunca dei conta de nada, minha criação me fez assim, a vida
sempre me negou, nunca tive nada.”
Ser mesmo não cabe mais texto, até
porque vai dar em nada. Uma época movia massas, lembra do Livro Vermelho de
Mao? O Capital, do Karl? Ideologia na veia que produzia.
Ou será mesmo insustentável essa
leveza?
Ou será algo para alguns que deixam
a vida para perguntar da Vida, mesmo sabendo que não encontrarão tudo. E
voltarão ao nada.
Ou será mesmo insustentável essa
leveza?
Ou será que o que preenche é mesmo
o nada, vazio maior, para que caibam tantos que ser no nada seja mesmo
inesgotável, insaciável, inenarrável.
Ou será mesmo insustentável essa
leveza?
De Ser.
Mesmo que Nada.
Até breve.
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