quarta-feira, 4 de junho de 2014

CADENTE



Um facho de luz
Que a tudo seduz
Por aqui
Estrela cadente
Reluzentemente
Sem fim

E um cheiro de amor
Enfestado no ar
A me entorpecer
Quisera viesse do mar
E não de você

Um raio que inunda
De brilho
Uma noite perdida
Um estado de coisas
Tão puras
Que movem uma vida

E um verde profundo
No olhar
A me endoidecer
Quisera estivesse
No mar
E não em você

Porque seu coração
É uma ilha
A centenas
De milhas daqui

Meu olhar abre-se sobre a perspectiva de tempo. Envelheço com um gosto de cada dia. Há um amargor, não por força do desfecho, mas pela constatação de que muito pelo qual se propôs perdeu-se quase tragicamente.

Envelhecer é uma foda ao contrário: do orgasmo ao martírio da tensão. Sim porque a dimensão, pelo menos no meu caso, tem sido de não encontrar no presente “um estado de coisas tão puras que movem uma vida”.

É do compositor a afirmação de que a canção acabou e no pacote das perdas do tempo esta é, em mim, uma das mais dolorosas. Ligar o rádio do carro e encontrar uma nova canção que me arrebate, há muito não ocorre.

Somadas as observações do cotidiano, flagradas com a sensação de estabilidade mórbida no sentido de que nada se altera para uma perspectiva promissora, sobra pouco a se tornar suficiente como “um raio de brilho que inunda esta noite perdida”.

No turbilhão desse olhar o que me entorpece é da impossibilidade de uma utopia coletiva, “um facho de luz que a tudo seduz por aqui”. O que meu olhar me alcança é a sensação de ser uma ilha a centenas de milhas e milhas e milhas daqui.

Perdoem-me. É que ontem liguei, antes de dormir, o IPod que tenho sobre o criado mudo ao lado de minha cama e ouvi o Chico cantar Ilha. Eu acabara de chegar do cinema onde fomos assistir ao filme “Uma Relação Delicada”. Foi muito.

Hoje, pela manhã, um raio de brilho que ainda me inunda.




Até breve.

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