Muita gente, inclusive mais
próximos, considera que foi numa quarta-feira, 29 de agosto. Para a polícia, no
entanto, com seu corpo de peritos afirma que não, foi numa terça-feira, 30 de
julho. Não façam as contas, talvez não bata.
É que tudo não passa de um surreal
acontecimento na vida de uma hipotética personagem sem estória. Começa assim no
vácuo da expectativa da narrativa e vai evoluindo até um desfecho meio sem
sentido para que o leitor construa sua própria ficção.
Mas, espere, também não é bem
assim. Para quem quiser pode procurar os laudos periciais que estão arquivados
na delegacia do 5º Distrito da Polícia Civil de uma improvável cidade.
Ou, então, procure testemunhas dos
fatos, que não são poucas, criadas ao gosto para quem queira mesmo saber se são
verídicos os fatos.
Vamos supor, em um primeiro
momento, que se deu assim.
Duas pessoas, não importa nem o
sexo, nem a profissão, nem mesmo a cor dos cabelos ou a estatura, encontraram-se
em um bar da zona sul da cidade.
Ali estabeleceram um primeiro
contato. Depois que tomaram umas, outras e algumas mais, saíram de mãos dadas
do estabelecimento. Uma delas parou em um canto escuro para tirar água do
joelho.
A outra sentou-se no meio-fio,
colocou um dedo na garganta para aliviar-se do que já lhe era muito. A que
tirara água do joelho foi ao encontro da que regojitara e a levantou puxando-a
pelos braços.
- Vamos embora, disse.
- Para onde? Indagou a outra
soltando uma estridente gargalhada.
Alguns metros adiante foi a que
tirara água do joelho que apoiou-se em uma árvore e aliviou-se do que lhe era
também por demais.
- Agora, como eu, você vai se
sentir melhor.
Mais tarde, dizem os laudos e
testemunhas, foram vistas sentadas em um banco de praça, uma com as pernas
sobre as da outra e abraçadas.
- Você tem algum dinheiro? Teria
perguntado uma à outra.
- Nem um puto! Respondera às
gargalhadas.
- Vamos assaltar a padaria?
- Com que berro?
Na verdade foram a uma loja de
conveniência de um posto de gasolina. Uma das personagens simulou que tivesse
uma arma colocando o dedo médio debaixo da blusa.
- Aí perdeu! Passe o troco, meu!
A que tirara água do joelho em um
canto escuro horas atrás, ficou na porta vigiando o movimento.
Ocorre que o caixa da loja, safo de
tantos outros assaltos, percebeu o amadorismo sacou de uma arma dentro da
gaveta e atirou quatro vezes na cabeça da que sentada no meio fio, horas atrás,
tinha aliviado-se do que já lhe era por demais.
Desesperada a que tirara água do
joelho saiu correndo ladeira abaixo e conseguiu safar-se com o coração aos
saltos.
Um sargento da Rota relata nos
autos que parou sua viatura para deter uma pessoa suspeita que descia uma
ladeira aos gritos:
- Fudeu!!! Fudeu!!!
Detida ela teria dito onde morava,
próximo dali. Quando os policiais entraram na casa encontraram as crianças: uma
na poltrona e as outras duas em uma cama. Estranguladas.