quarta-feira, 21 de maio de 2014

SOB



- “Por que vocês não vão ver Getúlio?” Indagou-nos a jovem atendente de bilheteria do cinema.

- “Sob a pele não é bom?” Consultei interessado.

- “Muita gente está saindo na metade do filme... Não tem história, é meio sem pé nem cabeça”...

- “Getúlio então é melhor”?

- “Com Tony Ramos... Só que ele morre no final”.

Acho que todos concordamos que Scarlett Johansson seja uma Beleza, ou não? Pois reside aqui a razão fundamental pelo diretor Jonathan Glazer na escolha da atriz para protagonizar Sob a pele. Ninguém também discordará de que esta mulher de 29 anos seja um poço de sedução e que mexa com todos os nossos imaginários.

O que nos seduz? Pelo que nos movemos? Que chama é essa que se constitui enquanto Vida?

Quantos somos levados pelo que nos encobre, algo de que não sabemos?

O que será, que será?
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que vive nas ideias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que está no dia a dia das meretrizes
No plano dos bandidos dos desvalidos
Em todos os sentidos...
Que todos os avisos não vão evitar
E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo...(*)

Ah, o Desejo, meus caros, esse que nos faz dragar o outro fazendo-o submergir ao império da nossa vontade, esse voraz ímpeto de ter aquilo que está posto adiante, deliberadamente.

Sob a pele é um soco no estômago da razão e da coerência. Não é possível assisti-lo sem lançar mão de referências e conceitos. Ele é uma viagem nas profundezas do inconsciente humano, percurso alienígena sob nossas entranhas.

Estranhamentos vários, torpor, a evolução da personagem simbólica e dilacerante nos coloca diante de questões viscerais e sem concluir nos remete a uma chama negra que paira bailando envolta a uma nuvem alva.

- “Se quiserem posso trocar, falo com o gerente, ele troca e aí vocês assistem Getúlio”.

Não, verei depois, outro dia. Mesmo sabendo que ele morre no final.


Até breve.

(*) “O que será, que será?” de Chico Buarque de Holanda.

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