- “Por que vocês não vão ver Getúlio?” Indagou-nos a jovem atendente
de bilheteria do cinema.
- “Sob a pele não é bom?” Consultei interessado.
- “Muita gente está saindo na metade do filme... Não tem história, é meio
sem pé nem cabeça”...
- “Getúlio então é melhor”?
- “Com Tony Ramos... Só que ele morre no final”.
Acho que todos concordamos que Scarlett
Johansson seja uma Beleza, ou não? Pois reside aqui a razão fundamental pelo diretor
Jonathan Glazer na escolha da atriz para protagonizar Sob a pele. Ninguém
também discordará de que esta mulher de 29 anos seja um poço de sedução e que mexa
com todos os nossos imaginários.
O que nos seduz? Pelo que nos
movemos? Que chama é essa que se constitui enquanto Vida?
Quantos somos levados pelo que nos
encobre, algo de que não sabemos?
O que será, que será?
Que andam suspirando pelas
alcovas
Que andam sussurrando em
versos e trovas
Que vive nas ideias desses
amantes
Que cantam os poetas mais
delirantes
Que está no dia a dia das
meretrizes
No plano dos bandidos dos
desvalidos
Em todos os sentidos...
Que todos os avisos não vão
evitar
E mesmo o Padre Eterno que
nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai
abençoar
O que não tem governo nem
nunca terá
O que não tem vergonha nem
nunca terá
O que não tem
juízo...(*)
Ah, o Desejo, meus caros,
esse que nos faz dragar o outro fazendo-o submergir ao império da nossa
vontade, esse voraz ímpeto de ter aquilo que está posto adiante,
deliberadamente.
Sob a pele é um soco no estômago da
razão e da coerência. Não é possível assisti-lo sem lançar mão de referências e
conceitos. Ele é uma viagem nas profundezas do inconsciente humano, percurso alienígena
sob nossas entranhas.
Estranhamentos vários,
torpor, a evolução da personagem simbólica e dilacerante nos coloca diante de
questões viscerais e sem concluir nos remete a uma chama negra que paira bailando
envolta a uma nuvem alva.
- “Se quiserem posso trocar,
falo com o gerente, ele troca e aí vocês assistem Getúlio”.
Não, verei depois, outro
dia. Mesmo sabendo que ele morre no final.
Até breve.
(*) “O que será, que será?”
de Chico Buarque de Holanda.
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