sexta-feira, 30 de maio de 2014

RIBALTA



Tô achando que a (ou parte da) intelectualidade brasileira pirou.

Está correndo, desde segunda-feira, um manifesto com uma lista de assinaturas da qual já fazem parte mais de 300 antropólogos, sociólogos e pesquisadores de várias instituições brasileiras reivindicando um basta nos bloqueios promovidos pelos manifestantes de rua, que afetam o direito de ir e vir.

O documento pede que os direitos constitucionais sejam garantidos, e que não sejam usurpados por pequenos ou grandes grupos que têm direito de se manifestar, mas não de impor seus pontos de vista.

Nossa experiência democrática é tragicômica.

Paralelamente, a Folha lança nos cinemas, no próximo dia 5, o documentário JUNHO. Vi só o trailer (JUNHO) no qual a massa nas ruas grita como palavras de ordem: “Amanhã vai ser maior!!! Amanhã vai ser maior!!!” sinalizando que o movimento, daquele mês de 2013, cresceria.

Na quarta-feira, a Câmara de Vereadores de São Paulo votou a favor do fim do rodízio de automóveis com o que atravancará mais a nossa maior cidade. O autor do projeto disse que a peça tramitou durante sete anos na casa legislativa municipal e só agora, num cochilo, foi aprovada.

Pois é, vamos parar afinal este país.

Nossa produtividade, nossas escolas, nossos hospitais, nossos compromissos, nossa vidinha. Como querem boa parte dos jingles dos intervalos comerciais, vamos prá rua.

Parece-me óbvio que a explicitação da vontade a um número cada vez maior de espectadores dá a dimensão do sucesso de um evento na sociedadedoespetáculo em que vivemos. Todos os holofotes do planeta estarão voltados para nós.

O mundo vai nos ver a nu.

Nosso caos urbano, nossas mazelas, nosso aprendizado social, nossa diversidade, nossa insegurança, nossa alegria, nossas belezas naturais, nossos paradoxos, nossa imensa dívida social, nossa profunda desigualdade, nossa copa, cozinha, aposentos e quintais.

Vamos estar expostos a nós mesmos em nossa mais profunda intimidade. E a um zilhão de pessoas outras e externas nos vendo em reality show global.

Difícil imaginar que reflexão faremos no dia 14 de julho, adormecidos os canhões de luzes. O que nos sobrará da imensa oportunidade que os desígnios da história estão nos legando?

Amadurecer dói.




Até breve.

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