Tô achando que a (ou parte da)
intelectualidade brasileira pirou.
Está correndo, desde segunda-feira,
um manifesto com uma lista de assinaturas da qual já fazem parte mais de 300 antropólogos,
sociólogos e pesquisadores de várias instituições brasileiras reivindicando um
basta nos bloqueios promovidos pelos manifestantes de rua, que afetam o direito
de ir e vir.
O documento pede que os direitos
constitucionais sejam garantidos, e que não sejam usurpados por pequenos ou
grandes grupos que têm direito de se manifestar, mas não de impor seus pontos
de vista.
Nossa experiência democrática é
tragicômica.
Paralelamente, a Folha lança nos
cinemas, no próximo dia 5, o documentário JUNHO. Vi só o trailer (JUNHO) no
qual a massa nas ruas grita como palavras de ordem: “Amanhã vai ser maior!!! Amanhã vai ser maior!!!” sinalizando que o
movimento, daquele mês de 2013, cresceria.
Na quarta-feira, a Câmara de
Vereadores de São Paulo votou a favor do fim do rodízio de automóveis com o que
atravancará mais a nossa maior cidade. O autor do projeto disse que a peça
tramitou durante sete anos na casa legislativa municipal e só agora, num
cochilo, foi aprovada.
Pois é, vamos parar afinal este
país.
Nossa produtividade, nossas
escolas, nossos hospitais, nossos compromissos, nossa vidinha. Como querem boa
parte dos jingles dos intervalos comerciais, vamos prá rua.
Parece-me óbvio que a explicitação
da vontade a um número cada vez maior de espectadores dá a dimensão do sucesso
de um evento na sociedadedoespetáculo
em que vivemos. Todos os holofotes do planeta estarão voltados para nós.
O mundo vai nos ver a nu.
Nosso caos urbano, nossas mazelas,
nosso aprendizado social, nossa diversidade, nossa insegurança, nossa alegria,
nossas belezas naturais, nossos paradoxos, nossa imensa dívida social, nossa
profunda desigualdade, nossa copa, cozinha, aposentos e quintais.
Vamos estar expostos a nós mesmos
em nossa mais profunda intimidade. E a um zilhão de pessoas outras e externas
nos vendo em reality show global.
Difícil imaginar que reflexão
faremos no dia 14 de julho, adormecidos os canhões de luzes. O que nos sobrará
da imensa oportunidade que os desígnios da história estão nos legando?
Amadurecer dói.
Até breve.
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