domingo, 18 de maio de 2014

ONTEM



- Sabe quem lê seu blog todo dia?

- Quem, você?

- Eu não... Leio de vez em quando...

Tê é amiga d´Ela há quarenta e cinco anos. Começaram a estudar juntas no mesmo ano em que nos conhecemos. Tê é minha melhor testemunha que, naqueles idos, Ela gostava muito de mim. Ela era gamada, como se dizia na época.

Tê esteve com o Eugênio nos visitando ontem. Eugênio e eu nos tornamos amigos destes que passam anos sem se ver e quando se reencontram é como se tivessem estado juntos na noite anterior. Como os cães com os seus donos.

Ele é um contador de piadas e ela a censora.

- Não, Eugênio, essa você já contou uma centena de vezes... Essa não Eugênio, essa é um horror... Você fica inventando estas piadas...

Além de piadas Eugênio inventa realidades da engenharia mecânica que são de cair o queixo de qualquer especialista. Nunca projeta o mesmo equipamento com a mesma perspectiva de eficiência. A próxima estará embarcada com uma inovação.

Ele, tanto quanto eu e meu pai, classifico no território dos ignorantes. Se bem que na culinária, Eugênio é um expert. E eu, apesar de tantos anos de conhecimento, sempre achei que ele gostasse de fazer compras em supermercados. Até ontem.

- Você adora fazer compras, né Eugênio?

- Detesto!

Pra minha mais cândida surpresa e constatação mais adiante. Fomos juntos eu e ele munidos de uma listinha fazer compras. Saímos tão atabalhoados e ansiosos da empreitada que esquecemos parte das compras sobre a mesa do caixa. Acho que foram tomates e alho para tempero. Constatamos a falta já em casa. Voltei para buscar, mas como o supermercado é distante, preferi (pela minha ignorância) comprar tomates para molho e alho descascado para tempero em uma vendinha mais próxima de casa.

Amigos de décadas com os quais trocamos confidências, dramas e conquistas.

Depois que eles se foram fomos visitar duas amigas que se mudaram há pouco mais de um mês para a casa que elas construíram no nosso condomínio em Santa Luzia. Mãe e filha já foram trazidas aqui em páginas do dasletra.

Embora tenhamos visitado a obra inúmeras vezes ao longo dos três anos de construção, a visita de ontem não deixou de causar impacto ao ver a casa viva com todos os seus componentes rigorosamente dispostos ao brilho das proprietárias.

Poderosas empresárias e pessoas simples. A casa grita a identidade. Os mil e duzentos metros de área construída dispostos em três imensos ambientes: a casa da mãe, a casa da filha, e a magnifica área de lazer e gourmet lançada a mais de vinte metros de altura sobre o vale que despenca.

As salas das casas unidas por um lance livre de sei lá, dez metros de pé direito, envidraçadas com suas peças de blindex em chapas de três metros e meio cada superpostas uma sobre as outras, abre a vista deslumbrante para um cenário esvermelhado do sol que se põe. Ao longe, semi-encobertas por frondosas árvores, as torres da Matriz de Santa Luzia iluminada por uma rosácea luz.

A frente da casa ao lado da área de lazer, a piscina debruçando suas águas ao infinito. Só que, em que pese todo esse vigor, transitar pelos cômodos e observar seus móveis e coisas e tais é que se dá conta de quem mora ali.

- É isto, vocês não vão colocar mais nada? Perguntei surpreso.

- Para quê?

Tudo que está ali é por ser necessário e estar carregado de algum sentido. Estes armários eu trouxe do meu antigo apartamento, este lustre que pende da sala da mãe, me acompanha há anos.

Um exuberante novo carregado de história. Talvez um dos sinais mais contundentes se vê em uma grande caçarola (?) repleta de caixas de fósforos trazidas de hotéis, bares, restaurantes de centenas de cidades visitadas por elas ao redor do mundo.

Na medida em que eu observava as pequenas caixinhas retiradas uma a uma da caçarola sentia lembranças de cidades por onde também andei. Centenas de caixinhas de fósforos exalando a chama de inúmeras experiências vividas por essas queridas amigas.

- E aí, Agulhô, gostou?

- É só uma casa...

Ao sair, com todos os álcoois tintos que regaram vitela e batatas deliciosas, ao manobrar minha camionete raspei o para-choque dianteiro em pedras que delimitam um dos estacionamentos da casa.

Vou pensar se mando consertar. Além deste post quero ficar com o registro do dia em que soube que Ma, filha de Tê e Eugênio, em doutorado na Suiça, me lê todos os dias e também por, mais uma vez, me deparar com o imenso poder da simplicidade.



Até breve.  

2 comentários:

  1. kkkkkkkk Adorei! Como sempre, acabei de ler o seu post daqui de Zürich! ;) bjos, Mariana

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