sexta-feira, 9 de maio de 2014

OMBROS



 “Deixem que digam, que pensem, que falem, deixa isso prá lá vem prá cá o que que tem? Eu não estou fazendo nada você também. Faz mal bater um papo gostoso com alguém?...”

De lá observei um velho com uma criança sobre os ombros. O que me causou interesse em olhar foi pela alegria da menina linda em seu uniforme escolar, sacolejando o corpo do provável avô.

Eu estava, há horas, sentado em um dos bancos da Praça da Liberdade.

A garotinha dava gargalhadas incontinentes enquanto o avô lhe tocava as costas, provavelmente fazendo cócegas.

Coloquei-me a pensar na alegria, porque a cena estava carregada dela tanto de um quanto de outro.

O que se passa, quando se dá? O que estará pensando a criança para tanto desprendimento? O que estará pensando o avô com tamanho gosto, interesse e desprendimento?

Ele teria a buscado na escolinha e perguntado para ela:

- “Você quer ir para casa, para casa do vovô, pro shopping (porque ela provavelmente já adora), ou para”...

- “Não, vovô, eu quero a praça”.

E foi por isto que eu os encontrei ali com suas peripécias. Ora ele descia a pequena dos ombros e a colocava naqueles equipamentos de ginástica para adultos e com o maior zelo a segurava pelos braços para que ela pudesse, à maneira dela, aproveitar a experiência.

Ora ele apontava as fontes e sinalizava a dança frenética das águas. Eu mesmo ouvi diversas vezes os gritinhos dela:

- “Nó vovô, lá... lá... vê.... vê”...

Em outro momento os vejo, parados diante do trânsito, me aproximo e observo o velho apontando o sinal luminoso de pedestres:

- “Vermelho não pode... Verde pode”...

- “Vamo, vovô... tá vede”...

Atravessam a rua, o velho aos saltos com a criancinha sobre os ombros aberta em gargalhadas deliciosas tiradas de um passeio pós-escolinha.

“Só vai no meu balanço quem tem carinho para dar”.

Minha homenagem ao Senhor Alegria que nos deixou ontem aos setenta e cinco anos.



Até breve.

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