Recomendo a leitura da crônica do Marcelo Rubens Paiva publicada hoje no Estadão.( PAIVA)
“Sim, existe gente que não se comunica, nem curte, nem posta. Não
critica, nem milita, nem lamenta a morte de um ídolo para amigos, conhecidos,
seguidores desconhecidos e amigos de amigos. Não se indigna, não se revolta,
não se mostra. Não mostra seus gatos, seus pratos, sua mãe no dia delas. Nem
relata suas viagens. Não pensa, não expõe, não se exibe para centenas ou
milhares de pessoas. Logo, não existe?”
Marcelo, brilhante, nos faz
refletir sobre o tempo presente, nele inserido o impacto dos meios
tecnológicos.
“Não soube da cidade que DEVE visitar, do livro que DEVE ler, do filme
que DEVE ver, do clipe que TEM que assistir, do hotel em que um conhecido ficou
para ser invejado, da nova banda de que TODOS estão falando, da criança que
surpreende e faz algo incrível e inesperado, que prova como existe inteligência
em quem menos se espera. Não leu sobre o alerta contra golpes praticados, a
torcida para que não haja Copa, que algum repórter internacional falou (mal) de
nós, sobre o complexo de vira-lata que temos, e que a unanimidade é burra.”
“Pensar que há dez anos não existiam redes sociais. Há 20, a internet não
era regulamentada, nem existia o consórcio W3C (World Wide Web Consortium). Há
30, não tinha celular nem computador pessoal no Brasil. A maioria não tinha
telefone nem máquina fotográfica.”
“E éramos bem informados e educados. Víamos fotos da repressão policial brutal, desvendávamos a charada, o
poema, a ilusão de ótica que faz bolinhas se moverem, no livro de ilusões de
óticas que todos tinham.”
“Éramos mais discretos. Menos ansiosos. Não precisávamos da aprovação
alheia. Não precisávamos chamar tanta atenção, nem criar a ilusão de que somos
melhores do que somos. Somente éramos.”
Este post é, em si, com imenso
respeito ao Marcelo, um contraponto à crônica. Nossa dor não resulta
necessariamente dos meios. Me parece que nossa dor está comprometida nos fins.
Não está na imensa possibilidade de
acesso, portabilidade e instantaneidade que nos faculta a W3C, a questão que
nos arrebata. A dor vem do que verdadeiramente se passa e, aqui concordo com
Marcelo, às vezes dá mesmo vontade de pare o mundo que eu quero descer.
Evadir-se.
Meus sessentaequasetrêsanos me
permitem pensar de que nos inteirávamos sim dos fatos, em que pese todas as
dificuldades, e que “éramos” como
quer o Marcelo. Mas não somente.
Numa entrevista ao Sangue Latino
programa do Eric Nepomuceno no Canal Brasil a cantora argentina Adriana Varela
disse que ser revolucionário hoje é ser capaz de criar uma identidade própria.
Diante da massa, do engodo, do embuste como ser seletivo e escolher-se no
universo de possibilidades.
Grande Marcelo, sua crônica foi
fundamental, pena eu não saber ou não querer saber como propaga-la por “Face, Twitter, Insta, Linkedin, G+,
WhatsApp”, para que alguém pudesse repassá-la a alguém que não tendo nada
destas modernosas maquinóides esteja à margem.
Adriana, a meu ver, tem razão.
Até breve.
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