sábado, 17 de maio de 2014

INSERÇÃO




Recomendo a leitura da crônica do Marcelo Rubens Paiva publicada hoje no Estadão.( PAIVA)


“Sim, existe gente que não se comunica, nem curte, nem posta. Não critica, nem milita, nem lamenta a morte de um ídolo para amigos, conhecidos, seguidores desconhecidos e amigos de amigos. Não se indigna, não se revolta, não se mostra. Não mostra seus gatos, seus pratos, sua mãe no dia delas. Nem relata suas viagens. Não pensa, não expõe, não se exibe para centenas ou milhares de pessoas. Logo, não existe?”

Marcelo, brilhante, nos faz refletir sobre o tempo presente, nele inserido o impacto dos meios tecnológicos.

“Não soube da cidade que DEVE visitar, do livro que DEVE ler, do filme que DEVE ver, do clipe que TEM que assistir, do hotel em que um conhecido ficou para ser invejado, da nova banda de que TODOS estão falando, da criança que surpreende e faz algo incrível e inesperado, que prova como existe inteligência em quem menos se espera. Não leu sobre o alerta contra golpes praticados, a torcida para que não haja Copa, que algum repórter internacional falou (mal) de nós, sobre o complexo de vira-lata que temos, e que a unanimidade é burra.”

“Pensar que há dez anos não existiam redes sociais. Há 20, a internet não era regulamentada, nem existia o consórcio W3C (World Wide Web Consortium). Há 30, não tinha celular nem computador pessoal no Brasil. A maioria não tinha telefone nem máquina fotográfica.”

“E éramos bem informados e educados. Víamos fotos da repressão policial brutal, desvendávamos a charada, o poema, a ilusão de ótica que faz bolinhas se moverem, no livro de ilusões de óticas que todos tinham.”

“Éramos mais discretos. Menos ansiosos. Não precisávamos da aprovação alheia. Não precisávamos chamar tanta atenção, nem criar a ilusão de que somos melhores do que somos. Somente éramos.”

Este post é, em si, com imenso respeito ao Marcelo, um contraponto à crônica. Nossa dor não resulta necessariamente dos meios. Me parece que nossa dor está comprometida nos fins.

Não está na imensa possibilidade de acesso, portabilidade e instantaneidade que nos faculta a W3C, a questão que nos arrebata. A dor vem do que verdadeiramente se passa e, aqui concordo com Marcelo, às vezes dá mesmo vontade de pare o mundo que eu quero descer.

Evadir-se.

Meus sessentaequasetrêsanos me permitem pensar de que nos inteirávamos sim dos fatos, em que pese todas as dificuldades, e que “éramos” como quer o Marcelo. Mas não somente.

Numa entrevista ao Sangue Latino programa do Eric Nepomuceno no Canal Brasil a cantora argentina Adriana Varela disse que ser revolucionário hoje é ser capaz de criar uma identidade própria. Diante da massa, do engodo, do embuste como ser seletivo e escolher-se no universo de possibilidades.

Grande Marcelo, sua crônica foi fundamental, pena eu não saber ou não querer saber como propaga-la por “Face, Twitter, Insta, Linkedin, G+, WhatsApp”, para que alguém pudesse repassá-la a alguém que não tendo nada destas modernosas maquinóides esteja à margem.

Adriana, a meu ver, tem razão.



Até breve.

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