Foi assim. Na sexta tomei de
assalto o texto do primo e o engoli em pouco mais de duas horas, ou até menos.
Ali pelas vinte e duas e tantas liguei prá ele em Azurita.
- Marcelão, li o trem e já queria
de dar o retorno sobre a coisa. Tô indo amanhã aí, posso?
- Vem e almoce comigo.
De quebra recebi em casa, ontem á
noite os dois ilustradores para passar a eles o esboço do Posts à prova e dos
diálogos com Noninha. Eu fiquei sabendo só ontem que o casal é jurado em
concursos de literatura. Têm seus métodos. Um deles separa os textos em três
graduações: céu, purgatório e inferno.
Se soubesse disso antes teria
classificado o livro do primo e o lançado ao fogo dos infernos. Marcelão, já
tendo passado pelo rigor dos meus considerandos, durante o almoço disse aos
presentes (amigos e parentes), que eu tinha lhe dado um soco na cara.
Dito assim parece que não gostei do
livro. E é mesmo, não gostei nem um pouco. Marcelão é outra besta da família,
deve estar pesando mais de cem quilos, fica todo vermelho quando ri e verte
lágrimas em profusão a cada dez minutos de sua vida. Sangue puro borbulhando
fora das veias e hortas.
O cara veio com uma conversa que é
muito rigoroso, que só escreve com um Plano de Obra que lhe norteie os
caminhos, que gosta da precisão dos fatos e dados que dão pano de fundo à
história de nossos antepassados e, o pior, se preocupa muito como irão lê-lo.
- À merda!!! Marcelão...
Disse-lhe um zilhão de vezes na
manhã de sábado. Se você espera que eu prefacie isto aqui, esqueça!
- Solte à franga, rapaz! Vire uma
libélula!
- Nessa idade, Lozinho, quem se
interessará por mim?
- Seu bosta, num é nesse sentido,
égua...
Depois de derramar sobre ele o meu
imenso mal estar, o sacana disse que ia pensar.
- Eu não sou como você, Lozinho...
Eu não tenho poesia.
Depois duma dessa fiquei pensando se
teria valido a pena eu, num sábado de aleluia, ter deixado Noninha, Valentin e
todos os outros em Santa Luzia para ir me encontrar com a besta.
Vamos aguardar. Ontem depois da conversa com
os juízes fiquei mais aliviado, se bem que temeroso.
- Será como vão me ler?
Merda de sangue.
Até breve.
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