terça-feira, 11 de março de 2014

MACHO



É que eu fui hoje, pela manhã, ao salão para cortar cabelo. Na verdade fui à barbearia. Salão é coisa para outro gênero.

Uma de minhas seis irmãs me disse, recentemente, que eu (dos irmãos) estou o mais parecido com o nosso pai. Não é verdade: ele era muito mais ignorante.

Sim, porque era de se esperar que eu herdasse o que meu pai tinha de melhor, para não negar a raça. Infelizmente faiô.

Se bem que, para quem convive todo dia comigo sabe que, de quando em vez, a coisa vem de sangue. Vlad e Bê de longe puxaram o pai do pai. Estão longe de terem a qualidade do avô.

Agora, põe o Vlad em um estádio de futebol, fudeu bonito a candura aparente. E o Bê? Coloque essa besta em um grupo de pessoas debatendo um assunto sobre o qual ele não domine. Espere dele os melhores berros. Sensibilidade de ambos, principalmente com o outro gênero, é pura aparência.

Claudinho, assim no diminutivo só de sacanagem, porque no fundo também não presta. Veja por exemplo: vai conseguir passar a herança de sofredor vitalício para o Valentin. Meu genro é desses que ontem, por exemplo, com o burburinho de visitas ao filho que nasceu, disse (e o pior, foi verdade) que sentou um único minuto para ver o clássico Guarani (acho que de Divinópolis) contra o Galo e que, em sendo o último minuto do jogo, fez com que o garnizé marcasse o gol da vitória e empurrasse o divinopolense para a zona, de rebaixamento.

Acho que gosto (pelo menos finjo bem) desse meu genro por esta qualidade: quiromancia.

Voltando à porra da barbearia. Para quem nunca entrou, é o lugar em que grassa o melhor da literatura: jornais locais e revistas peladas.

Ri prá caralho de uma campanha que a revista JOGOPARAMENINO (*) lançou agora em dezembro: A constituição do Homem Livre. A coisa não e para rir, é sério pacas. Eu mesmo devo contribuir com um dos artigos.

Roubo alguns dos sessenta artigos já catalogados. Acho que nas edições mais recentes deve ter mais, num sei, foda-se. Bora lá:

·    Churrasco não é lugar prá salada. (Vlad incluiria: “E se ainda colocar manga na salada vai ter porrada!”

·         Odiamos a pergunta: “Amor, no que você está pensando?”

·    Odiamos ficar esperando em loja de sapatos femininos. A menos que a gente possa ficar olhando a vendedora gostosa.

·     Temos o direito de responder apenas “SIM”, “NÃO” ou “TALVEZ”. Essas palavras transmitem com precisão o que queremos dizer.

·         A gente não faz duas coisas ao mesmo tempo. Faz uma só. Bem prá cacete.

·         Qualquer coisa é mais importante que ir à casa da sogra.

·         Nossa cara metade muitas vezes pode ser uma bunda.

·         Todos os caras mais bonitos, mais fortes e mais altos que a gente são gays.

·         Um homem jamais divide o guarda-chuva com outro homem.

·         Tudo o que coçar deve ser coçado.

·         Quando ficamos bêbados perdemos a pontaria no banheiro. Quando não estamos bêbados, também.

·         Não nascemos para lavar louça, nem roupa. Só carro.

·         Tem coisa foda que achamos do caralho, como falar palavrão.

·         A cama é o melhor lugar para toalha molhada.

·         Verde oliva, verde musgo, verde abacate para nós é tudo verde, porra!

·         Não somos mentirosos, só esquecemos alguns detalhes na hora de dizer a verdade.


Quem quiser a revista pode pegar comigo, eu tenho. Quando saía da barbearia, afanei-a. Pura atitude.



Valentin, por inteiro



Até breve.


(*) REVISTA PLAYBOY, Edição No. 463, dezembro de 2013

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