É que eu fui hoje, pela manhã, ao
salão para cortar cabelo. Na verdade fui à barbearia. Salão é coisa para outro
gênero.
Uma de minhas seis irmãs me disse,
recentemente, que eu (dos irmãos) estou o mais parecido com o nosso pai. Não é verdade: ele
era muito mais ignorante.
Sim, porque era de se esperar que
eu herdasse o que meu pai tinha de melhor, para não negar a raça. Infelizmente
faiô.
Se bem que, para quem convive todo
dia comigo sabe que, de quando em vez, a coisa vem de sangue. Vlad e Bê de
longe puxaram o pai do pai. Estão longe de terem a qualidade do avô.
Agora, põe o Vlad em um estádio de
futebol, fudeu bonito a candura aparente. E o Bê? Coloque essa besta em um
grupo de pessoas debatendo um assunto sobre o qual ele não domine. Espere dele
os melhores berros. Sensibilidade de ambos,
principalmente com o outro gênero, é pura aparência.
Claudinho, assim no diminutivo só
de sacanagem, porque no fundo também não presta. Veja por exemplo: vai
conseguir passar a herança de sofredor vitalício para o Valentin. Meu genro é
desses que ontem, por exemplo, com o burburinho de visitas ao filho que nasceu,
disse (e o pior, foi verdade) que sentou um único minuto para ver o clássico
Guarani (acho que de Divinópolis) contra o Galo e que, em sendo o último minuto
do jogo, fez com que o garnizé marcasse o gol da vitória e empurrasse o
divinopolense para a zona, de rebaixamento.
Acho que gosto (pelo menos finjo
bem) desse meu genro por esta qualidade: quiromancia.
Voltando à porra da barbearia. Para
quem nunca entrou, é o lugar em que grassa o melhor da literatura: jornais
locais e revistas peladas.
Ri prá caralho de uma campanha que
a revista JOGOPARAMENINO (*) lançou agora em dezembro: A constituição do Homem
Livre. A coisa não e para rir, é sério pacas. Eu mesmo devo contribuir com um
dos artigos.
Roubo alguns dos sessenta artigos
já catalogados. Acho que nas edições mais recentes deve ter mais, num sei,
foda-se. Bora lá:
· Churrasco não é lugar prá salada. (Vlad incluiria: “E
se ainda colocar manga na salada vai ter porrada!”
·
Odiamos a pergunta: “Amor, no que você está pensando?”
· Odiamos ficar esperando em loja de sapatos femininos.
A menos que a gente possa ficar olhando a vendedora gostosa.
· Temos o direito de responder apenas “SIM”, “NÃO” ou
“TALVEZ”. Essas palavras transmitem com precisão o que queremos dizer.
·
A gente não faz duas coisas ao mesmo tempo. Faz uma
só. Bem prá cacete.
·
Qualquer coisa é mais importante que ir à casa da
sogra.
·
Nossa cara metade muitas vezes pode ser uma bunda.
·
Todos os caras mais bonitos, mais fortes e mais altos
que a gente são gays.
·
Um homem jamais divide o guarda-chuva com outro homem.
·
Tudo o que coçar deve ser coçado.
·
Quando ficamos bêbados perdemos a pontaria no
banheiro. Quando não estamos bêbados, também.
·
Não nascemos para lavar louça, nem roupa. Só carro.
·
Tem coisa foda que achamos do caralho, como falar
palavrão.
·
A cama é o melhor lugar para toalha molhada.
·
Verde oliva, verde musgo, verde abacate para nós é
tudo verde, porra!
·
Não somos mentirosos, só esquecemos alguns detalhes na
hora de dizer a verdade.
Quem quiser a revista pode pegar
comigo, eu tenho. Quando saía da barbearia, afanei-a. Pura atitude.
Valentin, por inteiro
Até breve.
(*) REVISTA PLAYBOY, Edição No.
463, dezembro de 2013
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