Mediava ontem, via celular, um
conflito societário com seis protagonistas em que cada lado fazia juízo de que
eu estava sendo partidário a favor do outro lado do imbróglio. Quem é
negociador sabe como isto funciona.
Para completar eu estava viajando
de automóvel de uma cidade para outra do interior capixaba em estrada que nem
sempre o aparelho recebia sinal e em condições extremamente precárias, com
inúmeros pare-e-siga. Completo esta semana aquele ciclo de treze palestras que
venho fazendo no santo espírito.
Cada um dos protagonistas
encontrava-se em uma cidade diferente linkados por teleconferência que
alternava entradas e saídas na conversa de forma abrupta. Bruta salseiro, que
comendo vírgulas e mas e poréns embolava cada vez mais a peleja.
Trago isto aqui prá quem acha que
minha vida é só divertimento. Nunca, é muito mais do que isto, é entretenimento
na veia. Cansado dos entra-e-sai do sinal do celular pedi ao motorista do Corolla
no qual viajávamos que parasse o carro em um arremedo de acostamento com um
matagal próximo. Ali a marca da antena do aparelho dava recepção completa.
O transporte de carga de blocos de
pedras de mármore, granito e quetais por estas estradas é intenso. Eu estava com minha paciência no limite do “vai-tomar-no-cú”
para mandar um dos adevogados chamados à lide quando um coice de ar expelido de
uma mega carreta que transportava um bloco de granito ao som de uma buzina
estridente deslocou o Corolla arremessando-nos as uns metro e meio dois metros
para dentro do matagal.
Na hora do bequestreu ouvi de um
dos litigantes que eu deveria entender a parte dele.
Fiz que a ligação caísse e pedi ao
motorista que nos colocasse novamente no rumo da viagem e completasse o nosso
trajeto que durou, ao todo, sete horas.
Inúmeras vezes ao longo de toda a
viagem falei com um ou, simultaneamente, com dois ou três envolvidos escorados
por seus adevogados. Com o maior carinho, afeto, discrição e ouvidos a toda
prova para acatar as suas demandas e fazer a outra parte entender que eles que
tinham razão na disputa. Nunca senti tanta vontade de mandar alguém tomar no cú,
daqueles assim que você enche os pulmões e pausada e gozozamente grita: “VAI
TOMAR NO CÚ!!!”.
Entenderam porque não trago nada do
Lado B da minha vidinha. Num me vale a pena. É que ontem depois do coice tive
que me destremulhar um pouco. E o faço aqui, nessa catarse.
“Mas você não teme que o cliente
leia este post?” Me perguntaria um aflito leitor. Que isto, estes caras, tem
muito com que se amargar na vida. E se lessem e viessem me consultar se fui eu
que expus eu diria, aí sim: “VAI TOMAR NO CÚ!!!.” Pausada e gozozomente.
Chegando ao destino eu pude, sem a
tensão da estrada, concluir as conversas e, pasmem, com êxito. Agendamos para a
terça que vem a assinatura dos documentos que encerram o vosmelérico e vamos
dar sequência aos negócios.
Um dos sócios pediu que eu falasse
com seu filhinho que ficou chateadinho comiguinho porque eu fui muito bruto
para com ele em um dos momentos da conversa. Fiquei pensando se eu tivesse
gravado a cena do coice eu mandaria para o filhinho para que ele visse quanto
chateadinho eu também poderia estar.
No início da noite viajei mais
setenta quilômetros debaixo de um chuvaréu (prá ninguém esquecer de Nossa
Virgem Maria) para fazer a penúltima palestra a um público de em torno de
seiscentas pessoas.
Depois da palestra uma senhora de oitenta
e cinco anos veio ao meu encontro e me agradeceu eufórica pelas minhas
palavras.
Voltei para o hotel, onde me
instalei, viajando os setenta quilômetros e quando adormecia pensei: não fosse o
Lado A, minha Vida não teria compensações.
Até breve.
Tudo na vida tem um significado.
ResponderExcluir" COICE " ?