sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

VERSAR





Sobre o que conversavam as duas mulheres a beira da piscina ao entardecer do último sábado?

Ainda me intriga e me mobiliza. Que segredos e confidências trocaram? Qual delas ensinou algo que jamais a outra esquecerá?

De onde vem a seiva da femínea? Da ternura necessária conjugada com a firmeza, assim mesmo, revolucionária?

Por que da opção por um olhar mais brando sobre a crueza, mais crédulo para os outros, mais intenso sobre o belo e o singelo?

Por que do afeto singular, o toque leve, o meigo, o doce?

De onde vem desde cedo, na pequetita, o carinho desmedido, aparvalhando o seu narizinho com o de outrem, sem saber ainda do beijo? Este gesto.

Sobre o que conversavam?

Sobre costura, tessitura, tricôs, bordados? Sobre a paz e a ciência por serem elas que "governam"? Ponto a ponto, peça a peça, nó a nó, grão a grão: "familha".

Ou foi de jabutis, cachorros, patos, galinhas, peixes, bois e cavalos, estes seres outros?

Será que falavam de sentimentos, de mal-estares, de paixões, de decepções, de alegrias e tristezas, de esperança?

Ou não foi sobre nada disso, e sim de algo que a alma masculina não alcança?

Jamais a nós, aos homens, será possível saber sobre o que as mulheres fazem versos umas com as outras. A nós só resta beber da poética resultante mesmo que, às vezes, não rime ou desande.

Ainda assim, pura poesis.



Até breve.

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