terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

ESPELHO



Uma das minhas qualidades que mais gosto é a carência afetiva. O fato de não ter nome próprio, ser Junior, oitavo filho, deixou em mim marcas indeléveis.

Sempre era tratado no diminutivo terminado em zinho, o olhar que recebia vinha com retinas fatigadas manchadas com imagens dos outros sete irmãos, as mãos que me acariciavam estavam já saturadas de tantos afagos nos rebentos anteriores.

Desenvolvi também outro estratagema: a solidão. Sempre me bastei, recolhendo-me para dar conta de minhas descobertas. Isto forjou em mim outra qualidade admirável, a soberba.

Nunca precisei de ninguém e sempre acho que quem está melhor preparado para o que der e vier sou eu, este aqui. Tenho profundo desinteresse em qualquer conversa, os outros me cansam quando falam, falam, falam.

Material para prosseguir não foi outro senão a inteligência a serviço da autonomia e a blindagem. Ninguém me atinge. Olho a cada um como se eu tivesse a estatura de um ex-jogador chinês de vôlei, ou será de basquete?

Estou sempre pronto para não atender a nenhum chamado de ajuda. Qualquer demanda que me tire do meu cotidiano me irrita profundamente e, com isto, remete para outra qualidade ímpar em mim.

O mau humor. Hoje até tenho perdido um pouco, porque passei a tomar um comprimidinho para atenuar meus rompantes. Teve época de eu passar a ideia de que era um teatro, tal a minha performance. Despirocava geral.

A preguiça também tenho, especialmente agora, desenvolvido bem. Quando me convidam para um aniversário ou qualquer outro encontro social num sábado em Belo Horizonte, estando eu em Santa Luzia, minha musculatura sofre torções maiores do que aquelas sentidas nas aulas de pilates.

A falsidade, esta é minha qualidade mais aguçada. Ninguém sabe exatamente sobre os sentimentos que nutro. Para alguns passo a sensação de que os admiro, mas  tanto que nem guardo os nomes, para outros dou especial atenção e digo inclusive: Oi.

Não posso deixar de citar outra qualidade em mim ímpar: a inveja. Fico sem dormir meses, quando tenho notícias do número de acessos em outros blogs. Me pelo de dar dó.

Defeitos não os tenho, pelo menos no quilate das qualidades. Se os tivesse tantos não os colocaria em post. Detesto que me copiem. É por isto que vou continuar escrevendo em blog.

Quem quiser que me siga, ou não.



Até breve.

2 comentários:

  1. Sincero. Duro. Real. Haja coragem para se olhar no espelho .

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    1. Real? Sincero e duro foi o seu comentário. Muito obrigado.

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