O jornal
"Guardian" prevê que 2014 será o ano em que o mundo vai bater
recordes no número de fotos tiradas: qualquer coisa como três trilhões. A
facilidade com que hoje tiramos fotos é diretamente proporcional à facilidade
com que nos esquecemos delas. No fim das contas, é como se não tirássemos uma
única foto que realmente importe.
Vem por aí. (A intenção
é a de que o som diga mais do que as letras)
Outro dia vi uma foto
publicada nos jornais. Era a de um pirex contendo um fígado humano - um fígado
criado por uma impressora 3D. A foto, apesar do realismo, era uma simulação do
que ainda está por vir: a reprodução de um órgão humano a partir do zero – uma
"bioimpressão". A notícia é a de que um laboratório americano em
breve conseguirá imprimir células reais de um fígado, com os competentes
sangue, nutrientes e outras gosmas, camada por camada, até formar um órgão
capaz de exercer todas as funções de um fígado real. Que, num primeiro
instante, não servirá para transplantes, mas é questão de tempo.
Nas telas maiores chegam
cinco filmes: “Azul É a Cor Mais Quente”,
“Jovem e Bela”, “Tatuagem”, “Um Estranho no Lago” e “Ninfomaníaca”. Os filmes não estão nos pulguentos cinemas para exibição
de filmes pornográficos, e sim em circuito nacional.
A “Arte” também foi deflorada.
A sexualidade não é
angústia, felicidade, gozo. Não é nada, a rigor. É um ato desprovido de
sentido, embora sempre em busca de sentido. É o que refletem os filmes em
cartaz, pelo menos vistos aos olhos de críticos, já que eu não assisti ainda a nenhum
deles.
Não deverão chocar
vulvas contra vulvas, oitenta e nove vezes dita a palavra cú em uma única
película, nem cenas de homos em profusão, muito menos o desejo exposto desde a
mais tenra idade.
Foda-se, já que se pode,
o mistério.
Mais do que proibido
deveria ser a enxurrada de armas e aparatos bélicos em cena. Qual o problema de
vulvas, cús, peitos e outras carnes? Que se libere geral, caralhos!
Por outro lado, há a
improbabilidade absoluta de uma nova guerra europeia como aquela que completa
este ano cem anos. Os recursos técnicos e humanos à disposição de cada país
eram tão vastos que qualquer conflito seria suicídio: mesmo a nação vitoriosa
emergiria dele totalmente arruinada e destruída.
Num mundo interessado no
lucro, quem apostaria em prejuízos de tal monta?
Tudo pela não existência
de Deus, a crença das novas religiões dispostas a espalhar a
"palavra" (mas qual "palavra"?) em adoração ao
"não-deus". O fenômeno é interessante e só confirma o que os
clássicos da ciência política sempre escreveram sobre o assunto: a negação da
religião estabelecida não liberta os homens da sua condição de "animais
religiosos". Que o diga o filósofo Raymond Aron, por exemplo, para quem o
nazismo e o comunismo não eram mais do que "religiões seculares",
dispostas a oferecer aos seus "fiéis" o Reino da Raça (ou do
Proletariado) em substituição ao do Reino dos Céus.
Afinal que nos venha
outro feiticeiro, que sabe que não faz nada, exceto quando encontra o impotente
sofredor que, com uma fé absurda, o procura em busca de cura.
Ô LÁ... LÁ...
Até breve.
Nota: Este post foi escrito pós-bacanal letral com João Pereira Coutinho, Roberto DaMatta, Ruy Castro, Marcelo Coelho, Contardo
Calligaris e Chico Felitti em “leitos” publicados pelos mesmos hoje na Folha de
São Paulo.
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