sábado, 18 de janeiro de 2014

DESVARIO



Gostei de Amores Roubados, mini-série da Globo. Aliás gosto sempre do que fazemos com talento que não fica devendo a nenhuma produtora de entretenimento em qualquer parte do mundo.

Lamento apenas porque não se produz mais, quem sabe substituindo gradativamente as novelas, investimento tão caro e de contribuição duvidosa ao desenvolvimento da cultura do país.

Amores Roubados é de alto apuro cinematográfico com atuações deslumbrantes de todos os atores, especial atenção para os protagonistas Murilo Benício (que dramatiza o mal justificado pelos motivos do amor), Patrícia Pilar (magnífica) e Isis Valverde (deslumbrante).

Enredo, direção, locações espetaculares, tudo na mini-série deixa um gosto de quero mais, pelo menos em mim. O mocinho morrer no meio da trama, deixar um ponto de dúvida e confirmar no final, bacana.

A alternância dos amores, ao dinheiro, ao poder, ao patrão, aos sonhos todos de alguma forma desviados pelos desígnios da vida, me deixaram bastante interessado em acompanhar o programa.

A indústria cultural, limpa, sustentável e, sobretudo transformadora poderia ser a peça estratégica para uma grande reviravolta no desenvolvimento do país. A geração de empregos de diferentes formações, especializações, a aplicação de variados e inúmeros materiais, enfim a dinâmica econômica da indústria nos faria um dos maiores exportadores de produtos de entretenimento.

Poucos países têm originalmente tantas riquezas, um único idioma, locações naturais de perder o fôlego, extrema capacidade de autores, diretores, atores, técnicos e, sobretudo, algo só nosso, a alegria.

Gostaria muito que Hollywood fosse aqui, a Cinecitta, o Canal +, que tivéssemos estúdios, empresas como El Desejo de Almodóvar, gostaria muito que pudéssemos realizar no Brasil um Oscar, um Quiquito, um Ipê, prêmio com seus tapetes azul, verde e amarelo.

Gostaria muito que Cannes fosse aqui.

Gostaria muito que tivéssemos cinemas em cada bairro das nossas grandes cidades, com matinês aos domingos, depois da missa da manhã, as duas, quatro e seis da tarde. Sessões com censura para quatorze, dezesseis e dezoito anos às vinte e outra às vinte e duas horas.

Todos lotados.

Nas telas nossos quereres, nossos trejeitos, nossos dramas, nossas músicas, nossas naturezas, nosso idioma, nossa mais profunda e extraordinária cultura popular.

Gostaria muito que voltasse o cine-grátis, vejo a Praça Duque de Caxias com telão, carrinhos de pipoca, quermesses, gincanas, barraquinhas, pedido de música para a dama de cabelos encaracolados de vestido com bolinhas azuis. Quem pede é o rapaz de casaco e calças jeans, com o cabelo dando nos ombros, de chinelos de dedo com solado de pneu.

Gostaria, mas nossos amores foram roubados.




Até breve.

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