Passados
posts que lidaram com a devastadora solidão do Homem condenado à
superficialidade da carne, arrasto comentário sobre que, nesse momento, existe
um equilíbrio entre dois pensamentos: o de que nada poderá ser mudado, e
igualmente, do outro lado, de que as coisas não podem continuar como são, têm
de mudar.
Deste
embate o que nos parece sobrar é de que estamos mudando tudo para ficar do
mesmo jeito. A agravante do moderno (aqui dentro de um conceito de que moderno é o que já era) é que
não há mais mistério.
Li de que
há repúdio por parte da classe teatral com os aplausos de pé. Hoje,
indiscriminadamente, terminado o espetáculo ou mesmo na entrada dos atores, a
galera fica toda de pé e aplaude. Pode ser qualquer texto, com qualquer
qualidade e primazia.
Todos de
pé.
São muitas
as hipóteses: espectadores aplaudem para justificar o ingresso caro; outros, por
não serem habituados ao teatro (a classe média aumentou); pelo alívio físico de
se levantar; até para chegar antes à saída (as pessoas aplaudem já se
levantando para ir embora, porque o estacionamento é um inferno), nas plateias lotadas.
Talvez
resida aqui também o sinal de nosso tempo.
Comprei
ontem um livro para dar de presente a um amigo: O Poder dos Quietos, da
americana Susan Cain, fenômeno de vendas nos USA. No texto ela mostra que a
introversão é ingrediente fundamental para a criatividade e a inovação.
Embasada por estudos científicos, além de ter realizado um extenso trabalho de
pesquisa, a autora afirma que nossa sociedade vem transformando escolas e escritórios
em instituições dedicadas a extrovertidos — arquétipo que tem se revelado um
grande desperdício de talento, energia e felicidade.
O sistema
de valores contemporâneo segue a crença de que todos precisariam se sentir
confortáveis sob a luz dos holofotes. A introversão vem sendo encarada como um
traço de personalidade de segunda classe, praticamente como uma patologia. O
que o leitor descobre em O poder dos quietos é que está
cometendo um erro grave ao abraçar esse ideal. Algumas das maiores idéias humanas
— da teoria da evolução aos girassóis de Van Gogh e os computadores pessoais —
vieram de pessoas quietas que sabiam como se comunicar com seus universos
interiores. Sem os introvertidos não haveria a teoria da relatividade, os
noturnos de Chopin, o Google.
De minha
parte, se estou na categoria, prefiro considerar como patologia a personalidade
de segunda classe.
E por
favor, se forem aplaudir, assentados.
Até breve.
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