quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

APUPOS



Passados posts que lidaram com a devastadora solidão do Homem condenado à superficialidade da carne, arrasto comentário sobre que, nesse momento, existe um equilíbrio entre dois pensamentos: o de que nada poderá ser mudado, e igualmente, do outro lado, de que as coisas não podem continuar como são, têm de mudar.

Deste embate o que nos parece sobrar é de que estamos mudando tudo para ficar do mesmo jeito. A agravante do moderno (aqui dentro de um  conceito de que moderno é o que já era) é que não há mais mistério.

Li de que há repúdio por parte da classe teatral com os aplausos de pé. Hoje, indiscriminadamente, terminado o espetáculo ou mesmo na entrada dos atores, a galera fica toda de pé e aplaude. Pode ser qualquer texto, com qualquer qualidade e primazia.

Todos de pé.

São muitas as hipóteses: espectadores aplaudem para justificar o ingresso caro; outros, por não serem habituados ao teatro (a classe média aumentou); pelo alívio físico de se levantar; até para chegar antes à saída (as pessoas aplaudem já se levantando para ir embora, porque o estacionamento é um inferno), nas plateias lotadas.

Talvez resida aqui também o sinal de nosso tempo.

Comprei ontem um livro para dar de presente a um amigo: O Poder dos Quietos, da americana Susan Cain, fenômeno de vendas nos USA. No texto ela mostra que a introversão é ingrediente fundamental para a criatividade e a inovação. Embasada por estudos científicos, além de ter realizado um extenso trabalho de pesquisa, a autora afirma que nossa sociedade vem transformando escolas e escritórios em instituições dedicadas a extrovertidos — arquétipo que tem se revelado um grande desperdício de talento, energia e felicidade.

O sistema de valores contemporâneo segue a crença de que todos precisariam se sentir confortáveis sob a luz dos holofotes. A introversão vem sendo encarada como um traço de personalidade de segunda classe, praticamente como uma patologia. O que o leitor descobre em O poder dos quietos é que está cometendo um erro grave ao abraçar esse ideal. Algumas das maiores idéias humanas — da teoria da evolução aos girassóis de Van Gogh e os computadores pessoais — vieram de pessoas quietas que sabiam como se comunicar com seus universos interiores. Sem os introvertidos não haveria a teoria da relatividade, os noturnos de Chopin, o Google.

De minha parte, se estou na categoria, prefiro considerar como patologia a personalidade de segunda classe.

E por favor, se forem aplaudir, assentados.



Até breve.

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