Depois de a Amores
Roubados, a mini-série da Globo encerrada na sexta-feira, assisti aos
filmes Deixe a Luz Acesa e As Sessões, no domingo e ontem,
respectivamente.
Esta sequência, obra do acaso, me fez construir, a
partir dela, uma interpretação de momento.
Ninguém, nascido em meados do século passado, ficará
impune. A explicitação da dor de ser, via a arte nunca nos permitiu tanto.
Nossa infância e juventude foram permeadas pela imensa culpa, pelo mistério,
pelo proibido essencial.
Passamos pela experiência com inúmeros e
irreversíveis traumas, fomos forjados no corpo pelo medo, a transgressão e o
fogo dos infernos, para não dizer dos perversos olhares de escárnio,
preconceito e exclusão.
Este terceiro milênio abre com obras veiculadas na
TV (especialmente a paga) levadas ao ar antes das oito da noite. Houve um tempo
em que Ela mandava nossos filhos irem dormir depois do jornal, face aos
absurdos relacionamentos expostos nas novelas.
Lá se foram vinte e poucos anos.
Ontem às 20:10 horas foi
programada reprise de Deixe a Luz Acesa, filme que retrata a trajetória
emocional e sexual percorrida por dois homens que vivem experiências de amor,
dependência e amizade. As 20:20 horas a telinha expunha uma das várias cenas de
sexo explícito entre os protagonistas.
Antes do Jornal.
O documentarista Erik
(Thure Lindhardt) e o enrustido advogado Paul (Zachary Booth) se conhecem
casualmente em Nova Iorque. O que a princípio poderia ser apenas um encontro
sexual fortuito, torna-se um relacionamento sério. Quer individualmente, quer
como casal, Erik e Paul vivem intensamente todo tipo de riscos –
compulsivamente e incitados pelas drogas e pelo sexo. Numa relação de quase uma
década, marcada por altos e baixos e por padrões disfuncionais, Erik procura
negociar os seus limites, enquanto busca a sua verdade.
Qual é a importância do sexo para a
formação de uma pessoa? Em As Sessões esta questão é a aflição
maior de Mark O'Brien, poeta e escritor que desde a infância está preso a um
imenso aparelho, apelidado de "pulmão de aço", devido à poliomielite.
Sem poder mexer os músculos do corpo, com exceção da cabeça, ele leva uma vida
repleta de limitações, entre elas a de sair de sua própria casa – seus pulmões
aguentariam trabalhar sozinhos apenas por cerca de três horas. Mark leva a vida
com certo humor irônico, sem reclamar de sua situação. Entretanto, por jamais
ter tido uma experiência sexual, ele se sente incompleto. É a partir deste
ponto que o diretor Bem Lewin desenvolve
uma história delicada, não apenas pelo modo como é desenvolvida, mas também por
abordar questões que, ainda hoje, são consideradas tabus.
Tabus? Quais?
Parece-me residir aí a dor de ser, nos
tempos que correm. Quer, vá lá! Está a disposição.
Até breve.
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