quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

RISCOS



Prá isto basta querer. Lembra daquele sujeito que insistiu tanto que acabou conseguindo. É verdade que morreu, mas pelo menos conseguiu um feito. Bateu recorde, foi parar no Guiness.

Sobre isto existem outros relatos, vários, de pessoas que batalharam e chegaram ao intento. Sangue, suor e lágrimas não são sempre ingredientes para alcançar, mas fazem parte da maioria dos casos.

Eu mesmo fui vítima de uma situação. Quando eu cismei de subir no pé de jabuticabas que nós tínhamos lá no terreiro da minha infância. Um dia eu estava nas grimpas e resolvi saltar de lá mesmo.

O que de verdadeiro importa é que ou você se joga ou padece depois de arrependimento. Quase sempre é pior. Lamúrias corroem tanto o espírito que ditas próximo de outros chateia.

Eu mesmo fui vítima de uma situação. Quando eu cismei de ir jogar pelada em um campo longe de minha casa e minha mãe não deixou, dizendo que me daria uma surra se eu fosse. Claro que foi também na infância.

Eu não fui. "O que vale uma surra?", eu indagava a colegas que foram. "Eu podia ter ido, merda!" Até que eles começaram a me dizer: "Não enche, seu bolha!"

Quem faz geralmente arrisca, sempre. Senão fica parado e arrisca também. Lembra daquele caso que a mulher morreu com a queda de uma árvore no Parque Municipal? Dizem que ela estava pensando prá que lado ia.

Eu mesmo fui vítima de uma situação. Tínhamos feito uma bagunça geral e minha mãe saiu atrás de nós com chicote em punho. Gritava, parem que eu quero conversar com vocês. O único que parou fui eu.

Por isto todo mundo sabe que viver é estar em perigo. Quem já foi assistir ao filme Gravidade, principalmente. Às vezes com todos os recursos disponíveis algo acontece fora de controle e pá, já era.

Eu mesmo fui vítima de uma situação. Na infância eu tinha descontrole intestinal. Era uma merda, literalmente. Um dia, antes de sair, fui quatrocentas vezes ao banheiro e só não fui mais quando estava certo do intestino vazio. Na rua encontrei-me com um amigo, que me disse que estava louco para dar uma cagada. Com ele não aconteceu nada.

Tudo por causa do horóscopo para hoje:

“O silêncio protegerá você, faça dele seu melhor amigo neste momento. Prefira retirar-se, avançar seria se expor desnecessariamente neste momento. Durante alguns instantes se proteja, depois poderá avançar novamente”.


Até breve.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

TÁCULO



Trouxemos tudo de volta. Também já passavam das duas da manhã e ninguém mais faria uso daqueles apetrechos. Tolos.

Muitos de todo não eram, alguns apenas. Tolos. Sabem daquelas fantasias toscas, sobrando Idade Média e com penachos em demasia? Coloridos rotos e cheirando a armários. 

Houve uma época em que se brincava, era assim que se dizia, fantasiando de odalisca e Sheik, marinheiro, homem de mulher e mulher de homem menos, mas todo mundo saía de algo. Qualquer.

Só que nessa não tinha nada a ver com Momo. A coisa era outra. Uma encenação, tipo platéia restrita, somente convidados. Não se comemorava nada e nem era um evento assim tipo confraternização corporativa.

Em cena mesmo eram só cinco, dois homens, três mulheres e um ser hemarfrodita. Agora na retaguarda prá mais de quinze se empenharam para botar de pé, literalmente.

A platéia se formou muito rápido, todos chegando muito mais cedo do que se supunha, tomando assentos e sem muito alarido. Só de perguntas uns aos outros do que rolaria ali.

- "Eu vim porque não tinha nada prá fazer, mas não tenho a menor idéia do que seja".

- "Eu quero prestigiar o Zeca, ele quem mandou o convite".

- "Ele te falou algo."

- "Nada."

Souberam que havia terminado, quando os cinco deixaram à frente de onde se alojaram todos da platéia. Ninguém entendeu muito bem nenhuma parte do espetáculo (?).

- "Pô, hein"?

Depois um dos cinco voltou e disse: - "Seguinte: essa parada continua amanhã... Podemos contar com todos"?

- "Mas não entendemos nada".

- "Amanhã..."

- "Se você não der uma dica eu não volto..."

- "Amanhã..."

Não se sabe bem porque, mas a galera permaneceu na platéia se falando até mais de duas horas depois que havia terminado a coisa. Os cinco já haviam ido embora. Entre os quinze da retaguarda nós ajudávamos a entulhar cenário.

No dia seguinte não apareceu ninguém. Os cinco deram continuidade ao espetáculo (?) mesmo sem ter. Terminado, sobrou para nós recolher alguns apetrechos. Tolos.


Vocês.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

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Vamos combinar assim.

Quando tudo voltar ao normal a gente passa a vocês a nossa impressão sobre estas idéias. O momento não favorece opiniões, mesmo as menos abalizadas. Aliás, hoje, as menos abalizadas são as mais delicadas.

Outro ponto.

Nenhum de nós deverá tomar nenhuma atitude até que tudo esteja totalmente resolvido e claro. A ação já é de risco, portanto, não cabem precipitações e nem heroísmos atabalhoados.

Prudência e caldo de galinha já fizeram muito mal a mais de alguém.

No próximo mês, talvez dia dez, deve sair alguma orientação a respeito. Dizem alguns que já vazou na web, mas ninguém sabe exatamente qual das trinta confere. Então fica mais temerário apostar, mesmo que elas sejam as mesmas, sem tirar nem por vírgulas ou acentos. Mesmo os graves.

Quem quiser passar o tempo pode cometer abusos em vícios, menos os alucinógenos, porque não convêm normalidades face às circunstâncias. Melhor tornar menos visível e público estes assombros.

Aquele sujeito meio polaco que disse estar coordenando, não é bem ele. Dizem que entrou na história para confundir e testar todos que estão dentro. E que sabem exatamente do que se trata.

Toda hora faz perigo. Ninguém tem total segurança de posto. Disseram-me que é para desorientar. Como se não fosse preciso. Toda ordem mira o caos. Daí os porém.

Muitos têm me ligado no número antigo. Eu prefiro não atender porque vai que é para mim mesmo. Aí eu vou ter que dizer o que não sei e fica parecendo que eu estou querendo dar uma de entrega.

Tudo mescla.

Soube de um só que, afoito, mandou ver. Foi no último domingo. Logo depois compraram passagem prá ele, de ônibus, acho que para Planaltina do Assari, onde ninguém tem nem aparelho.

É perigoso, mesmo.

Vamos ficar assim, do jeito que está, até que mude. A gente explica com calma na medida em que for sucedendo. Pode ser pouco a pouco ou num repente. Tem vezes que é assim.

Agora podemos adiantar duas coisas: muita atenção com os sinais e não durmam com as janelas totalmente abertas. Não porque possa chover ou fazer frio. Nem por causa de pernilongos.


Não.

domingo, 26 de janeiro de 2014

PURAR



De direito num tinha nada que ficar brosgrolhando.

Importante de verdade nesse belíssimo domingo de sol é registrar o que verdadeiramente importa.

Hoje, pela manhã, saímos a passear com Noninha. Ela se propôs a conduzir uma cachorrinha na Praça da Liberdade e era só sorrisos e gritinhos. A vida olhada por esta lente fica limpa.




Agora de IMPORTANTE mesmo é que ontem ZEROUM completou o seu primeiro ano de VIDA.

V I V A    Z E R O U M !!!!!




Até breve.

GROSBROLHO



Eu não preciso muito estímulo para me desestimular. Sexta-feira, à noite saí meio que mais prá baixo do que (pense aí) do aniversário de um amigo.

Gente de calibre, nas esferas em que estão fazendo as trapaças, não aquela que concorre a Oscar, de graça e com detalhes me passou versões (para não dizer fatos, porque já não existem) que me deixaram embrugalhado.

Não fosse a infecção intestinal contraída no último domingo que me deixou zemisdérmico, eu ficaria bem pior.

É claro que não vou narrá-las aqui, porque soarão deja vu, este blog já dá náuseas de tanto falar no assunto, então não vou sequer citar qualquer uma das tramóias da república federal guestápica, ribaramense, lodórnica e, para usar uma expressão de Laterza, aquele amigo filósofo, morfética.

Meu, fudeu.

Um dos caras que me cantaram pedras, disse que quem tá dentro num tem como pular fora e a coisa só tende a evoluir. Principalmente por força de tudo que já é antigo, mas a cada quatro anos cresce exponencialmente.

Dizem que vai rolar lei anticorrupção. Dessas que empresa que financiar campanha tomará multa da Receita Federal de 20% do faturamento anual bruto na constatação do delito sem julgamento nem nada. Pá!

Mais nóis parece bobo, manenão. Vem de longe nossa capacidade da burla. Dom João VI, nosso mestre, deixou muito de inventivo. A gente trameia e dispois travessa as lei.

Cequevê: “Depois de mais de nove anos, dois acusados de participar da chacina de cinco trabalhadores sem-terra em Felisburgo, no Vale do Jequitinhonha, foram condenados na madrugada desta sexta-feira, 24, a penas que, juntas, somam 205 anos de prisão. Francisco de Assis Rodrigues de Oliveira e Milton Francisco de Souza foram condenados por um júri popular a 102 anos e seis meses de prisão cada um por homicídio qualificado e tentativa de homicídio, mas vão poder aguardar o recurso em liberdade”. (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO,24.01.2014)

Um Conselho de Sentença, depois de nove anos do crime, dezenas de milhares de páginas de processo, inquestionáveis provas e testemunhas, três dias de julgamento aberto ao público, deliberam a pena e os criminosos saem para a rua leves e soltos.

Voltando aos amigos do aniversário, que são fontes mais do que fidedignas, desapaixonados e apartidários, prá eles a coisa está mesmo preocupante. O Brasil, à frente, encontrará algumas dificuldades importantes.

Não acredito. Não deveremos ter problema algum. As coisas continuaram funcionando ordeira, pacifica e nosso progresso no futuro está assegurado.

O mais é crítica descabida e sem fundamentadilidades crosnômicas globais textíveis do cenário transdológico face à sustentabilidade dos enunciamentos das melhores cadeiras suprenômicas.



Atré beve.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

APUPOS



Passados posts que lidaram com a devastadora solidão do Homem condenado à superficialidade da carne, arrasto comentário sobre que, nesse momento, existe um equilíbrio entre dois pensamentos: o de que nada poderá ser mudado, e igualmente, do outro lado, de que as coisas não podem continuar como são, têm de mudar.

Deste embate o que nos parece sobrar é de que estamos mudando tudo para ficar do mesmo jeito. A agravante do moderno (aqui dentro de um  conceito de que moderno é o que já era) é que não há mais mistério.

Li de que há repúdio por parte da classe teatral com os aplausos de pé. Hoje, indiscriminadamente, terminado o espetáculo ou mesmo na entrada dos atores, a galera fica toda de pé e aplaude. Pode ser qualquer texto, com qualquer qualidade e primazia.

Todos de pé.

São muitas as hipóteses: espectadores aplaudem para justificar o ingresso caro; outros, por não serem habituados ao teatro (a classe média aumentou); pelo alívio físico de se levantar; até para chegar antes à saída (as pessoas aplaudem já se levantando para ir embora, porque o estacionamento é um inferno), nas plateias lotadas.

Talvez resida aqui também o sinal de nosso tempo.

Comprei ontem um livro para dar de presente a um amigo: O Poder dos Quietos, da americana Susan Cain, fenômeno de vendas nos USA. No texto ela mostra que a introversão é ingrediente fundamental para a criatividade e a inovação. Embasada por estudos científicos, além de ter realizado um extenso trabalho de pesquisa, a autora afirma que nossa sociedade vem transformando escolas e escritórios em instituições dedicadas a extrovertidos — arquétipo que tem se revelado um grande desperdício de talento, energia e felicidade.

O sistema de valores contemporâneo segue a crença de que todos precisariam se sentir confortáveis sob a luz dos holofotes. A introversão vem sendo encarada como um traço de personalidade de segunda classe, praticamente como uma patologia. O que o leitor descobre em O poder dos quietos é que está cometendo um erro grave ao abraçar esse ideal. Algumas das maiores idéias humanas — da teoria da evolução aos girassóis de Van Gogh e os computadores pessoais — vieram de pessoas quietas que sabiam como se comunicar com seus universos interiores. Sem os introvertidos não haveria a teoria da relatividade, os noturnos de Chopin, o Google.

De minha parte, se estou na categoria, prefiro considerar como patologia a personalidade de segunda classe.

E por favor, se forem aplaudir, assentados.



Até breve.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

AMARRAS



Depois de a Amores Roubados, a mini-série da Globo encerrada na sexta-feira, assisti aos filmes Deixe a Luz Acesa e As Sessões, no domingo e ontem, respectivamente.

Esta sequência, obra do acaso, me fez construir, a partir dela, uma interpretação de momento.

Ninguém, nascido em meados do século passado, ficará impune. A explicitação da dor de ser, via a arte nunca nos permitiu tanto. Nossa infância e juventude foram permeadas pela imensa culpa, pelo mistério, pelo proibido essencial.

Passamos pela experiência com inúmeros e irreversíveis traumas, fomos forjados no corpo pelo medo, a transgressão e o fogo dos infernos, para não dizer dos perversos olhares de escárnio, preconceito e exclusão.

Este terceiro milênio abre com obras veiculadas na TV (especialmente a paga) levadas ao ar antes das oito da noite. Houve um tempo em que Ela mandava nossos filhos irem dormir depois do jornal, face aos absurdos relacionamentos expostos nas novelas.  Lá se foram vinte e poucos anos.

Ontem às 20:10 horas foi programada reprise de Deixe a Luz  Acesa, filme que retrata a trajetória emocional e sexual percorrida por dois homens que vivem experiências de amor, dependência e amizade. As 20:20 horas a telinha expunha uma das várias cenas de sexo explícito entre os protagonistas.
Antes do Jornal.
O documentarista Erik (Thure Lindhardt) e o enrustido advogado Paul (Zachary Booth) se conhecem casualmente em Nova Iorque. O que a princípio poderia ser apenas um encontro sexual fortuito, torna-se um relacionamento sério. Quer individualmente, quer como casal, Erik e Paul vivem intensamente todo tipo de riscos – compulsivamente e incitados pelas drogas e pelo sexo. Numa relação de quase uma década, marcada por altos e baixos e por padrões disfuncionais, Erik procura negociar os seus limites, enquanto busca a sua verdade.
Qual é a importância do sexo para a formação de uma pessoa? Em As Sessões esta questão é a aflição maior de Mark O'Brien, poeta e escritor que desde a infância está preso a um imenso aparelho, apelidado de "pulmão de aço", devido à poliomielite. Sem poder mexer os músculos do corpo, com exceção da cabeça, ele leva uma vida repleta de limitações, entre elas a de sair de sua própria casa – seus pulmões aguentariam trabalhar sozinhos apenas por cerca de três horas. Mark leva a vida com certo humor irônico, sem reclamar de sua situação. Entretanto, por jamais ter tido uma experiência sexual, ele se sente incompleto. É a partir deste ponto que o diretor Bem Lewin desenvolve uma história delicada, não apenas pelo modo como é desenvolvida, mas também por abordar questões que, ainda hoje, são consideradas tabus.
Tabus? Quais?
Parece-me residir aí a dor de ser, nos tempos que correm. Quer, vá lá! Está a disposição.


Até breve. 

sábado, 18 de janeiro de 2014

DESVARIO



Gostei de Amores Roubados, mini-série da Globo. Aliás gosto sempre do que fazemos com talento que não fica devendo a nenhuma produtora de entretenimento em qualquer parte do mundo.

Lamento apenas porque não se produz mais, quem sabe substituindo gradativamente as novelas, investimento tão caro e de contribuição duvidosa ao desenvolvimento da cultura do país.

Amores Roubados é de alto apuro cinematográfico com atuações deslumbrantes de todos os atores, especial atenção para os protagonistas Murilo Benício (que dramatiza o mal justificado pelos motivos do amor), Patrícia Pilar (magnífica) e Isis Valverde (deslumbrante).

Enredo, direção, locações espetaculares, tudo na mini-série deixa um gosto de quero mais, pelo menos em mim. O mocinho morrer no meio da trama, deixar um ponto de dúvida e confirmar no final, bacana.

A alternância dos amores, ao dinheiro, ao poder, ao patrão, aos sonhos todos de alguma forma desviados pelos desígnios da vida, me deixaram bastante interessado em acompanhar o programa.

A indústria cultural, limpa, sustentável e, sobretudo transformadora poderia ser a peça estratégica para uma grande reviravolta no desenvolvimento do país. A geração de empregos de diferentes formações, especializações, a aplicação de variados e inúmeros materiais, enfim a dinâmica econômica da indústria nos faria um dos maiores exportadores de produtos de entretenimento.

Poucos países têm originalmente tantas riquezas, um único idioma, locações naturais de perder o fôlego, extrema capacidade de autores, diretores, atores, técnicos e, sobretudo, algo só nosso, a alegria.

Gostaria muito que Hollywood fosse aqui, a Cinecitta, o Canal +, que tivéssemos estúdios, empresas como El Desejo de Almodóvar, gostaria muito que pudéssemos realizar no Brasil um Oscar, um Quiquito, um Ipê, prêmio com seus tapetes azul, verde e amarelo.

Gostaria muito que Cannes fosse aqui.

Gostaria muito que tivéssemos cinemas em cada bairro das nossas grandes cidades, com matinês aos domingos, depois da missa da manhã, as duas, quatro e seis da tarde. Sessões com censura para quatorze, dezesseis e dezoito anos às vinte e outra às vinte e duas horas.

Todos lotados.

Nas telas nossos quereres, nossos trejeitos, nossos dramas, nossas músicas, nossas naturezas, nosso idioma, nossa mais profunda e extraordinária cultura popular.

Gostaria muito que voltasse o cine-grátis, vejo a Praça Duque de Caxias com telão, carrinhos de pipoca, quermesses, gincanas, barraquinhas, pedido de música para a dama de cabelos encaracolados de vestido com bolinhas azuis. Quem pede é o rapaz de casaco e calças jeans, com o cabelo dando nos ombros, de chinelos de dedo com solado de pneu.

Gostaria, mas nossos amores foram roubados.




Até breve.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

TESÓIDES



Eu aqui de minha parte fico misto de impressionado e com um ou mais pontos de inveja, que certa pessoa não me ouça, claro.

O cara foi casado com uma das mulheres mais interessantes da Europa com quem tem quatro filhos, convive com outra que lhe é de um faz tudo sem limite e vai de moto para o apartamento de outra nas cercanias do palácio.

Jesus Cristíssimo, ainda dá conta de parecer ser Presidente?!!! Será por isto que quando ouvimos o nome da fera a gente ouve mais rolande.

Num sei, prá mim é marketing, que ninguém mesmo com capacete de galo, naquela idade, teria colestorol e homoglobina para tanto. Se bem que em sendo francês, aquela língua cheia de tilimbares, pode ser.

O mundo do noticioso tem mesmo que dar flashes para essa prosopopéia, como se fosse um refresco, em tantas outras matérias.

Nós tivemos um meio assim. Eu só num conto pra não suscitar intrigas e maledicências e mais invejas em cidadãos desprovidos de preciosidades testosterônicas.

Deve ser que o presidente francês não pode ver ainda Amores Roubados, a série da Globo. Tivesse visto, num sei, mas ele ia pensar uns rolandes. É que Cauã, um José Mayer da série, come todas as que aparecem independente de vínculos e parentescos.

E isso no nordeste, com machos que matam as mulheres gaieiras.

Eu vou dar um conselho de graça ao galo-doido francês. Fosse ele, se bem que não cabe esta idéia. Melhor, eu não iria de moto visitar a segunda que está enferma em um hospital, vítima das crises ciumílticas.

E nem de capacete.



Até breve.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

LIGHT



Ando muito preocupado com meus posts. 

Não é possível que meu olhar ocupe-se somente do trágico, afinal a Vida não se resume a horrores. Há no Real algo de que todos nos comprazemos. Palavra danada, através da qual quis dizer que há também prazer nas atualidades.

Senão, vejamos. E eu não vou à minha intimidade porque vivo um momento importante de ganhos e expressivos da Vida.

Inúmeras descobertas em todos os campos do conhecimento humano têm ocorrido e trazido à saúde, ao entretenimento, ao trabalho, às artes, à engenharia, à química, à física, enfim descobertas que se proliferam exponencialmente "melhorando" a operação da Vida. 

As facilidades de acesso às informações têm ampliado em muito as possibilidades, a um número cada vez maior de pessoas ao desenvolvimento, proliferando ainda mais as condições favoráveis para o viver.

As liberdades são mais francas, amplas, em diferentes aspectos da vida social. Os poucos tabus que ainda pairam não são determinantes para fazer temer, como no passado, a existência.

O Estado, ainda que por suas excrescências nos irrite e envergonhe, não conseguirá mais se constituir como totalitário. 

As relações de afeto são menos encanadas dos que já foram e os vínculos, embora mais tênues, sugerem melhor aceitação entre as partes. Senão, dissolvem-se. Há, no popular, um jargão que explicita isto: "A fila anda".

Acho que estou influenciado pela leitura de NU, DE BOTAS, delicioso relato de sua infância que escreveu Antônio Prata (Companhia das Letras). Leio o livro fazendo minha interpretação do título: Nu, desvestido dos rigores de tudo que é institucional e de botas, como quando na infância, todos os heróis usavam botas.

Assim, se olharmos na perspectiva destas lentes poderemos concluir que afinal as coisas não estão tão críticas como eu mesmo tenho apontado em alguns posts.

Basta fazer como Noninha em sua santa ingenuidade.





Até breve.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

DARK



Previsão horoscópica para o dia de hoje:

“Quando os assuntos corriqueiros degringolarem e o mau humor quiser emergir através de sua presença, seja maior do que as circunstâncias, domine a situação, solte uma risada cristalina que desbarate esse circo”.

Eu, imagina, porque estragaria meu dia com a notícia de que foi descontado do benefício da minha aposentadoria no pagamento pelo INSS o percentual de 1,0%. Tal valor será transferido para a CUT-Central Única de Trabalhadores como pagamento pelos trabalhos prestados através dos deputados do PT a favor dos aposentados.

Eu, ficar PUTO da vida por causa desse ASSALTO. Quéquéisso???!!! De maneira nenhuma eu vou ficar ruminando porque a bandalha chegou a esta desfaçatez. Os caras merecem. São talentosos, inteligentes, merecem isto e muito mais pelo que andam fazendo.

Eu até acho que é pouco. Deveriam cobrar o percentual cobrado pelo IPVA, que mantém nossas estradas no padrão de primeiro mundo. Deveriam mesmo lançar como lucros operacionais, o fechamento de contas de poupança inativas nos últimos cinco anos. Afinal não acharam os poupadores.

Quem quiser que vá procurar seus esquerdos na Justiça.

Ontem assisti ao filme NA ESCURIDÃO. Mais um relato contundente dos horrores da Segunda Grande Guerra quando da invasão da Polônia um grupo de judeus da cidade de Lvov refugiou-se nas galerias de esgotos e lá permaneceram até o fim do conflito durante dezessete meses.

O submundo dos esgotos poloneses foi retratado sem encantos cinematográficos, criando uma atmosfera imunda, infestada por ratos, cadáveres, sujeira e muita tensão. 
    
O pior: não é ficção, são relatos históricos de uma das sobreviventes que na época tinha perto de dez anos de idade.

Nos últimos dias observei que familiares de vítimas da violência urbana em entrevistas na mídia têm comentado: “A gente vê notícias todo dia e agora como aconteceu conosco é que a gente sente quanto amigos e parentes sofrem com situações semelhantes como estamos vivendo agora”.

Comecei este post orientado pela previsão horoscópica para concluir em gargalhada cristalina. Os paralelos entre a ficção e a realidade claro que são desproporcionais, mas também tem razão aquele de quem recebi email, alertando-me para o furto do INSS, onde deixou citação de Benjamin Franklin.

"Quando todas as armas forem propriedade do governo e dos bandidos, estes decidirão de quem serão as outras propriedades".

Uma coisa e outra não me permitem de forma alguma ter motivos para rir destes circos de horrores, muito antes pelo contrário. 



Até breve.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

EXPLÍCITOS



O jornal "Guardian" prevê que 2014 será o ano em que o mundo vai bater recordes no número de fotos tiradas: qualquer coisa como três trilhões. A facilidade com que hoje tiramos fotos é diretamente proporcional à facilidade com que nos esquecemos delas. No fim das contas, é como se não tirássemos uma única foto que realmente importe.

Vem por aí. (A intenção é a de que o som diga mais do que as letras)

Outro dia vi uma foto publicada nos jornais. Era a de um pirex contendo um fígado humano - um fígado criado por uma impressora 3D. A foto, apesar do realismo, era uma simulação do que ainda está por vir: a reprodução de um órgão humano a partir do zero – uma "bioimpressão". A notícia é a de que um laboratório americano em breve conseguirá imprimir células reais de um fígado, com os competentes sangue, nutrientes e outras gosmas, camada por camada, até formar um órgão capaz de exercer todas as funções de um fígado real. Que, num primeiro instante, não servirá para transplantes, mas é questão de tempo.

Nas telas maiores chegam cinco filmes: “Azul É a Cor Mais Quente”, “Jovem e Bela”, “Tatuagem”, “Um Estranho no Lago” e “Ninfomaníaca”. Os filmes não estão nos pulguentos cinemas para exibição de filmes pornográficos, e sim em circuito nacional.

A “Arte” também foi deflorada.

A sexualidade não é angústia, felicidade, gozo. Não é nada, a rigor. É um ato desprovido de sentido, embora sempre em busca de sentido. É o que refletem os filmes em cartaz, pelo menos vistos aos olhos de críticos, já que eu não assisti ainda a nenhum deles.

Não deverão chocar vulvas contra vulvas, oitenta e nove vezes dita a palavra cú em uma única película, nem cenas de homos em profusão, muito menos o desejo exposto desde a mais tenra idade.

Foda-se, já que se pode, o mistério.

Mais do que proibido deveria ser a enxurrada de armas e aparatos bélicos em cena. Qual o problema de vulvas, cús, peitos e outras carnes? Que se libere geral, caralhos!

Por outro lado, há a improbabilidade absoluta de uma nova guerra europeia como aquela que completa este ano cem anos. Os recursos técnicos e humanos à disposição de cada país eram tão vastos que qualquer conflito seria suicídio: mesmo a nação vitoriosa emergiria dele totalmente arruinada e destruída.

Num mundo interessado no lucro, quem apostaria em prejuízos de tal monta?

Tudo pela não existência de Deus, a crença das novas religiões dispostas a espalhar a "palavra" (mas qual "palavra"?) em adoração ao "não-deus". O fenômeno é interessante e só confirma o que os clássicos da ciência política sempre escreveram sobre o assunto: a negação da religião estabelecida não liberta os homens da sua condição de "animais religiosos". Que o diga o filósofo Raymond Aron, por exemplo, para quem o nazismo e o comunismo não eram mais do que "religiões seculares", dispostas a oferecer aos seus "fiéis" o Reino da Raça (ou do Proletariado) em substituição ao do Reino dos Céus.

Afinal que nos venha outro feiticeiro, que sabe que não faz nada, exceto quando encontra o impotente sofredor que, com uma fé absurda, o procura em busca de cura.

Ô LÁ... LÁ...


Até breve.


Nota: Este post foi escrito pós-bacanal letral com João Pereira Coutinho, Roberto DaMatta, Ruy Castro, Marcelo Coelho, Contardo Calligaris e Chico Felitti em “leitos” publicados pelos mesmos hoje na Folha de São Paulo.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

DILEMA



ALGUMAS, POUCAS, DAS OCORRÊNCIAS DOS ÚLTIMOS DIAS (*):

1ª. O corpo da menina Íris Cardoso, 8, morta a facadas em Mococa (262 km de São Paulo), foi achado com roupas limpas e sem marcas de sangue. Para a polícia, quem a matou limpou o corpo e trocou a roupa da garota antes de jogá-lo em um terreno. Mãe e padrasto estão presos.

2ª. "Tem que ajeitar o foco", diz um preso a um colega que acabara de ligar a câmera do celular em meio a um grupo de detentos rebelados. Vencida a discussão técnica, o que se segue é um documento explícito do horror praticado no complexo de Pedrinhas, em São Luís, no Maranhão, onde 62 presos foram mortos desde o ano passado. São dois minutos e 32 segundos em que os próprios amotinados filmam em detalhes três rivais decapitados. E se divertem exibindo os corpos - ou o que restam deles.

3ª. Um homem foi preso suspeito de matar a facadas a noiva, no Jardim Oratório, em Mauá (Grande São Paulo), na noite de segunda-feira (6).O corpo de Janaína da Silva Evangelista, 25, foi encontrado pelo pai enrolado em um cobertor embaixo da cama da casa onde ela morava na travessa Itaparica.

4ª. Internada com queimaduras no corpo após ataque a ônibus em São Luís (MA) na semana passada, a mulher de 22 anos que perdeu uma filha no atentado implorou aos criminosos para que poupassem as crianças. "Ela gritava para que ele não jogasse combustível nas meninas, mas não adiantou", disse Jorgiana Carvalho, 25, tia de Ana Clara Santos Sousa, 6, que morreu nesta segunda-feira (6) em decorrência de queimaduras por todo o corpo.

Perdoem-me, mas faço registro. Algo se passa e é de todo grave. Não se trata apenas da barbárie em si, mas, sobretudo, da sua frequência diária. Nossos olhos, corações e mentes não podem continuar alheios.

Sei que de novo apenas denuncio. Deveria ir fazer parte das manifestações pelo esgotamento destes episódios, solidarizar-me com os mais próximos dos familiares das vítimas, agir de alguma maneira e não ficar a todo o momento apontando massacres.

Sim, seria mais digno.

Ou então ocupar-me de meus pensares outros, até cômicos, ou minhas absurdas narrativas de um cotidiano sem graça, ou de meus diálogos com Valentin e antes com Noninha.

Comentar filmes diversos que estão aí para quem quiser vê-los. Escrever ficções ainda que respaldadas naquelas crueldades expostas pela desnuda realidade.

Alienar-me e gozar a vida, mais íntima, que é sem reparos.

Ocorre que minha péssima memória ainda registra algo de Trotski: “Devemos dar um fim, de uma vez por todas, à fábula acerca do caráter sagrado da vida humana".

E me desespero.


Até breve.

(*) Publicadas no jornal Folha de São Paulo, edição de hoje.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

PAVÃO



Previsão horoscópica para o dia:

“Há coisas que só você sabe e isso deve continuar assim. É desnecessário que você divulgue o conhecimento que detém só para que outras pessoas achem que você sabe mais do que elas. Isso é apenas vaidade”.

Mais de inúmeras vezes questionei aqui os astros. Hoje, no entanto, volto a fazê-lo. Sou obrigado a não admitir a correção da interpretação do posicionamento dos planetas e a minha casa austral em confluência com Plutânio e Arquimédia.

Há coisas que só eu sei? Digam-me pelo amor de Deus quais são, caramba. Vai que é por causa de não saber que eu sei que tantas coisas fiquem nebulentas sob minha ótica difusa.

Vaidade? Eu não precisaria saber de nada que só eu sei para ser mais vaidoso do que já sou. Aliás, não sou só vaidoso, eu sempre me achei o sujeito mais humilde do mundo, sempre.

Se bem que eu poderia arriscar, mesmo não sabendo que eu sei, algumas sapiências que só eu e ninguém mais sabe:

1.      Quantos clips eu guardo no meu porta-clips;

2.      Quantas canetas e folhas de blocos de notas brindes de hotéis por onde andei;

3.      Quantos grampos em utilizo para dar carga ao meu grampeador;

4.   Quantos passos eu dou desde que desço de minha cama até o vaso sanitário do banheiro do apartamento onde moro. (da casa de Santa Luzia eu não sei);

5.      Onde estão os 56 milhões de reais que ganhei na Megasena da virada.

É ou não é para ficar revoltado com estas previsões horoscópicas? Quem poderia nutrir vaidade por estes saberes aí de cima? Só se for por aquele do item dois.

Eu dou mesmo um valor tremendo a cada história que veio junto à caneta ou à folha do bloco que ganhei de brindes pelos hotéis pelos quais passei ao longo dos últimos trinta anos.

Isto eu não digo.

Perdoem-me, mas vai continuar assim.



Até breve.