quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

POLÉN



Versão de astrólogo:

"Planetas são entidades vivas compostas por inúmeras espécies orgânicas e inorgânicas. Mundos são versões dessas realidades, pontos de vista que, tendo um número de entidades concordado silenciosamente a respeito, se transformam em realidades inquestionáveis. Porém, no fundo continuam sendo versões e, como tais, sujeitas a serem alteradas a qualquer momento.

Que momento seria esse? Quando essas versões não forem mais necessárias e, pelo contrário, ocuparem o lugar das visões imprescindíveis que libertam e providenciam combustível para continuar progredindo, então se autodestroem sob seu próprio peso.

Vivenciamos isso na época atual, o mundo desmorona, se mantém como um morto-vivo porque ainda há gente suficiente que acredita que a realidade é o que é, e não apenas uma versão".

É mais do que evidente minha corujisse por Noninha. Que ninguém duvide disso. Então tudo que vir dela será extraordinário. Minha neta é ímpar. E isso não se trata de versão, isto é fato inconteste e ninguém ficará silenciado para confirmá-lo.

Voltei de viagem e a encontrei com uma palavra mais do que nítida. É verdade que ela já fala com graça vovó, vovô, papa e mamã. A palavra que ela incorporou agora ela já tinha em gesto.

- “Não”.

Assisti a bordo do avião em que retornei para o Brasil ao filme NO, candidato ao Oscar 2013 na categoria de melhor filme estrangeiro, protagonizado por Gael Garcia Bernal. René Saavedra (Gael) é um publicitário exilado na época da ditadura chilena, filho de um dos desaparecidos pelo regime, é convidado para fazer a campanha em prol do NÃO no plebiscito que escolheria pela permanência ou não de Pinochet no comando da nação.

Relutante, descasado de uma militante contra a ditadura instalada há quinze anos, pai de um menino de cinco anos, René acaba aceitando fazer a campanha. A equipe inicialmente constituída faz os primeiros programas televisivos de 15 minutos que eram levados ao ar com uma abordagem dramática de tudo o que significava o regime: fome, assassinatos, desaparecimentos, censura.

René propõe, apesar da resistência de alguns integrantes da equipe, que deveriam deixar de lado a crueldade e produzir uma ideia positiva daquilo que viria a significar o NÃO ao regime. A palavra ícone para todos os programas foi ALEGRIA.

A Alegria somente seria possível com o resgate da identidade e da possibilidade de cada um escolher o seu futuro. A campanha durou vinte e sete dias e o resultado do plebiscito foi de pouco mais de 56% a favor do NÃO.

Ver Noninha com seu gesto com o dedinho indicador da mão direita e agora adicionado à fala do NÃO, a mim enche de alegria. Por mais banal que isto possa parecer na formação da identidade de minha netinha, ela me dá sinais que saberá sim dizer aquilo que quer e aquilo que não quer.

Mesmo que possa parecer aos adultos que aquilo será melhor para ela.



Até breve.

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