Foi logo depois de desembrulhar os
ocultos amigos. Dispersávamos uns para aqui outros para ali, até que nós, os
homens, ficamos na varanda. M sentou-se
e do nada se lembrou de sua Lua.
Há 58 anos ocorreram as núpcias.
Ela abastada, filha de pai comerciante imigrante cheio da gaita e ele reles
vendedor do Grande Camiseiro, lá da Rua Rio de Janeiro. João, que ainda não era
Batista, quis que a Lua fosse passada na roça.
Uma dessas casinhas lá no fundo do
nada, colocada em lugar próximo do que hoje é Nova Serrana ou Pitangui. Purali.
João foi quem propôs, para economizar dos trocados para pagar os móveis do
barraco da Rua Amianto.
Viagem de trem, trec... trec...
trec..., depois à cavalo e chegaram. No fundão dos cantos. M olhava tudo com espanto. A casinha tinha cômodos separados por ¾ de
parede, de tal sorte que os incômodos e os remeixos de colchão de palha, dada a
época e as fomes, debruçavam por todos os cantos do aconchego.
E foi assim durante quinze dias.
Luz a lamparina com o querosene
escurecendo ares e cheirando ocre. Mas tudo valia a pena, eram os amores que
mudavam os cursos, não os teres. As promessas e, claro, os inhec, inhecs.
Rola (pronuncia-se rôla) do Kim,
casada com o tio de João, foi quem os hospedou. À noite os trancava, por fora,
no quarto e ia dormir. Rola foi, como todos dos matos, se entregue ao casal,
fazendo de um tudo para agradá-los. Matou porco, galinha, sobremesa de melado
de rapadura.
Não deu outra. Estômago e intestino
acostumados aos paladares de mamãe, a mocinha de M, desandou-se toda de um piriri noturno sem precedentes.
-“Vocês já tiveram, num já? Daqueles que solta um barulho tatatata...”
Na madruga de um dos quinze,
trancados, a coisa desapertou.
- “João, me deu uma dor de barriga...” Disse ela cheia de vergonhas. Ele
pegou o pinico, urinol debaixo da cama e M
aliviou-se ali mesmo.
E foi assim durante a maioria dos
dias.
Porco, laranja, mexerica, melado de
rapadura e de noite tatatata... De manhã João saia do quarto, passava pela
lateral e pegava o pinico tatarento das mãos de M, ela com o rosto virado para não ter contato com o tatatata. Ele
sumia com o pinico lá pelos matos e voltava com o vasilhame lavadinho no rio
que desaguava pouco abaixo da casinha.
Numa das noites ela correu pro
quarto, ameaçava-lhe o tatatata. Os homens conversavam na salinha e tomavam
pinga. No quarto, M pegou o pinico e
alternou largares na medida em que os homens tagarelavam. Quando eles
silenciavam ela travava, vindo o alarido da conversa largava tatatata. Até que não
foi possível o controle. Tatatata quando houve silêncio e de lá da sala soaram
gargalhadas.
Vergonhas.
E foi assim.
M está hoje com setenta e cinco anos. Contou-os outros viveres,
vários. Ficou em cena trazendo seus horrores e que em nós produziram gargalhas
de doer o estômago. Fui dormir com um gosto de melado na boca.
Foi uma noite de Luz.
Até breve.
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