“Ninguém
sabe o que faz da vida, exceto, talvez, ganhar dinheiro para consumir, e esse é
o mundo real da vitória do capitalismo. Solidariedade virou tema de ficção
científica”.
Trecho de crítica escrita por Luis Carlos
Merten publicada hoje em coluna do jornal Estado de São Paulo sobre o filme de
Mateus Souza: Eu não tenho a menor ideia do
que eu estou fazendo de minha vida.
A questão não me parece dizer respeito a futuro
porque sempre foi incógnita. Ocorre que este futuro vivido de hoje me soa
distinto de futuros anteriores. É que o presente, talvez, é que não estimule a
projetos.
Reside aqui talvez nossa chance. Repensar o
que está acontecendo agora, no instante. Nossos melhores tempos não estão
adiante, mas agora. Este texto agora, não os vindouros. Este momento agora, não
os de sonhos adiante.
Penso que o presente já está
carregado de significado como algo de que se recebe. Dádiva. Fazemos pouco por
ele, saudosos de tempos melhores vividos ou mirabolantes devaneios do que
ansiamos por viver.
O presente fica sem se desembrulhar. Não
reconhecido. Não sabido. Quase não vivido.
Estamos na quarta, pensando no próximo sábado,
lembrando-se da última quinta ou de 1978, quando compramos o nosso primeiro
fusquinha amarelo com placa AE1914.
No instante em que Noninha me pede colo para
sentar-se conosco no café da manhã. Cena repetida inúmeras vezes em passado
recente e futuro, mas que tem um doce de agora não necessariamente sorvido.
O
olhar dela me assalta.
Esse café, essa fruta, essa chuva, esse papo
da matina, esta ressaquinha de alcoóis da segunda e da terça. Esse agora, aqui
e agora. Desse instante. Sem ontem ou daqui a pouco, quando iremos adentrar em outro instante fugaz e perdido.
Como se presente fosse lembrancinha que se
ganha em aniversário e natais. Como se fosse algo apenas.
Não.
Viver é estar agora. Memória é para
registro, futuro é para planos sem obstáculos, como se o real não o fosse.
Não.
Viver é olhar nos olhos, lá no fundo, dos
que nos fitam. Tocar essa mão que me acaricia agora, beber este copo dessa
água, evacuar este resto deste agora. Terminar este texto e somente este texto
agora. E no mais dizer.
Até breve.
Uau...parabéns.
ResponderExcluir