quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

envóLUCRO



“Ninguém sabe o que faz da vida, exceto, talvez, ganhar dinheiro para consumir, e esse é o mundo real da vitória do capitalismo. Solidariedade virou tema de ficção científica”.

Trecho de crítica escrita por Luis Carlos Merten publicada hoje em coluna do jornal Estado de São Paulo sobre o filme de Mateus Souza: Eu não tenho a menor ideia do que eu estou fazendo de minha vida.

A questão não me parece dizer respeito a futuro porque sempre foi incógnita. Ocorre que este futuro vivido de hoje me soa distinto de futuros anteriores. É que o presente, talvez, é que não estimule a projetos.

Reside aqui talvez nossa chance. Repensar o que está acontecendo agora, no instante. Nossos melhores tempos não estão adiante, mas agora. Este texto agora, não os vindouros. Este momento agora, não os de sonhos adiante.

Penso que o presente já está carregado de significado como algo de que se recebe. Dádiva. Fazemos pouco por ele, saudosos de tempos melhores vividos ou mirabolantes devaneios do que ansiamos por viver.

O presente fica sem se desembrulhar. Não reconhecido. Não sabido. Quase não vivido.

Estamos na quarta, pensando no próximo sábado, lembrando-se da última quinta ou de 1978, quando compramos o nosso primeiro fusquinha amarelo com placa AE1914.

No instante em que Noninha me pede colo para sentar-se conosco no café da manhã. Cena repetida inúmeras vezes em passado recente e futuro, mas que tem um doce de agora não necessariamente sorvido.

O olhar dela me assalta.

Esse café, essa fruta, essa chuva, esse papo da matina, esta ressaquinha de alcoóis da segunda e da terça. Esse agora, aqui e agora. Desse instante. Sem ontem ou daqui a pouco, quando iremos adentrar em outro instante fugaz e perdido.

Como se presente fosse lembrancinha que se ganha em aniversário e natais. Como se fosse algo apenas.

Não.

Viver é estar agora. Memória é para registro, futuro é para planos sem obstáculos, como se o real não o fosse.

Não.

Viver é olhar nos olhos, lá no fundo, dos que nos fitam. Tocar essa mão que me acaricia agora, beber este copo dessa água, evacuar este resto deste agora. Terminar este texto e somente este texto agora. E no mais dizer.



Até breve.

Um comentário: