segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ADIANTE



Alguém me cobra que escreva para por fim ao ano. Para dar de nascer a outro. Como se palavra pudesse mesmo se converter em carne e habitar entre nós. Jamais haverá sentido sob a pele da palavra.

Só escrevo porque não me é possível conjugar na primeira pessoa o verbo doer.

Talvez faça mesmo urgente uma parada para avaliar, por valor no tempo. Abrir as gavetas do passado ano, ir ao encontro de algo que tenha verdadeiramente valido a pena.

Um gesto, um encontro, uma viagem, um dia, um olhar, um dizer, um ouvir que tenha marcado história e que as paredes do coração ainda contêm. No alarido dos dias não se tornou corrente a tarefa.

Talvez não seja mesmo isto que caiba. Melhor apropriar materialidades, tangíveis que possam se expressar absoluta e comparativamente, do tipo: em 31.12.2012 minhas aplicações financeiras eram de R$ e agora estão na faixa de R$ vezes 1,09786 ou, para os menos afortunados, minhas dívidas eram de tanto e agora são de quanto.

Quem sabe, localizar endereço profissional e particular, companheiro (a), lugar onde maravilhou-se com fogos de colores vários.

Fazer uma lista de pessoas que não se encontrou e de outras que conheceu no ano que se encerra.

Lembrar-se de seu peso e o de agora, do número de fios de cabelos brancos em diferentes regiões do corpo.

Olhar-se no espelho e dizer, honesta e francamente: -“Foi bom passar/estar contigo”.

Mesmo sem se olhar no espelho revelar a si seus segredos guardados, intensas promessas não cumpridas, metas propostas não alcançadas, condutas elaboradas e, no entanto, não incorporadas.

E, então, projetar-se.

Fazer uma lista das pessoas que irá procurar no próximo ano.

Fixar como propósito atingir 1,1236% vezes as aplicações financeiras ou, em outros casos, reduzir à metade a dívida.

Definir um plano de medidas físicas, entrar para uma academia, contratar um personal. Trocar desodorante, baton, estilo.

Ou nada disto e nem de tantos outros prometeres. Ocupar-se apenas do gesto, do encontro, de um novo lugar, desse dia, deste dito e deste escutado, que as paredes do coração quase não contenham.

VIVER, intensa e deliberadamente, será o plano. E, ali, surpreender-se.



Até breve.

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