Alguém me cobra que escreva para
por fim ao ano. Para dar de nascer a outro. Como se palavra pudesse mesmo se
converter em carne e habitar entre nós. Jamais haverá sentido sob a pele da
palavra.
Só escrevo porque não me é possível
conjugar na primeira pessoa o verbo doer.
Talvez faça mesmo urgente uma
parada para avaliar, por valor no tempo. Abrir as gavetas do passado ano, ir ao
encontro de algo que tenha verdadeiramente valido a pena.
Um gesto, um encontro, uma viagem,
um dia, um olhar, um dizer, um ouvir que tenha marcado história e que as
paredes do coração ainda contêm. No alarido dos dias não se tornou corrente a
tarefa.
Talvez não seja mesmo isto que
caiba. Melhor apropriar materialidades, tangíveis que possam se expressar
absoluta e comparativamente, do tipo: em 31.12.2012 minhas aplicações
financeiras eram de R$ e agora estão na faixa de R$ vezes 1,09786 ou, para os
menos afortunados, minhas dívidas eram de tanto e agora são de quanto.
Quem sabe, localizar endereço
profissional e particular, companheiro (a), lugar onde maravilhou-se com fogos
de colores vários.
Fazer uma lista de pessoas que não
se encontrou e de outras que conheceu no ano que se encerra.
Lembrar-se de seu peso e o de
agora, do número de fios de cabelos brancos em diferentes regiões do corpo.
Olhar-se no espelho e dizer,
honesta e francamente: -“Foi bom passar/estar
contigo”.
Mesmo sem se olhar no espelho
revelar a si seus segredos guardados, intensas promessas não cumpridas, metas
propostas não alcançadas, condutas elaboradas e, no entanto, não incorporadas.
E, então, projetar-se.
Fazer uma lista das pessoas que irá
procurar no próximo ano.
Fixar como propósito atingir
1,1236% vezes as aplicações financeiras ou, em outros casos, reduzir à metade a
dívida.
Definir um plano de medidas
físicas, entrar para uma academia, contratar um personal. Trocar desodorante,
baton, estilo.
Ou nada disto e nem de tantos
outros prometeres. Ocupar-se apenas do gesto, do encontro, de um novo lugar,
desse dia, deste dito e deste escutado, que as paredes do coração quase não
contenham.
VIVER, intensa e deliberadamente, será
o plano. E, ali, surpreender-se.
Até breve.
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