Assisti ontem ao filme ELAS, da diretora polaca
Malgoska Szumowska, protagonizado pela sempre surpreendente Juliette Binoche.
Anne (Juliette Binoche), jornalista da revista ELLE, prepara um artigo de
fundo sobre prostituição de jovens universitárias em Paris. É dessa forma que
conhece Charlotte e Alicja e que vai tentar perceber aspectos como as suas
escolhas, as suas experiências, a relação com os clientes e com os namorados.
Surpreendentemente, estes encontros vão ter consequências na sua própria vida
familiar.
- “A
mentira”.
Responde Charlotte, que se apresenta aos
clientes como Lola, quando perguntada por Anne o que mais a incomoda na vida
clandestina que leva como garota de programa. Ter que viver mentindo aos
parentes e ao namorado.
- “O
que nos adianta ler Flaubert ou Proust, se nossa vida não mudará nada com
isto”.
Diz a universitária Alicja, que cobre férias
como garçonete em uma lanchonete, para simular aos parentes de onde vem o
dinheiro para se manter.
- “Não
vês a sorte que tens? Há tanta gente a lutar”. Pondera Anne ao filho
adolescente que começa a faltar à escola.
- “Do
que você me fala? Por que você lutou, mãe”? Responde o jovem a uma mãe que
se cala.
Não é possível passar por este filme sem
refletir sobre a condição humana. Transcende e em muito a questão de superfície
do enredo no que tange à condição feminina, especialmente aquela, que por
questões sociais, justificaria a escolha pela prostituição.
É, em minha opinião, muito mais do que isto.
O drama da existência contemporânea, os fins
justificando os meios, a dor de cada um segundo suas fragilidades e a imensa frustração
coletiva envolta em papel celofane. As aparências enganando os propósitos, a profunda
e cruel necessidade de homens e mulheres buscarem um simulacro de poder.
- “É
como os cigarros, eu não consigo parar... De repente eu tenho dinheiro”. É
uma das falas de Lola, ou melhor, Charlotte.
-“Você
está muito esquisita depois que começou a escrever este artigo sobre putas”. Diz o marido a
Anne.
-“Não
sei se são putas”. Rebate Anne.
- “Uma puta é sempre uma puta”. Continua o
marido.
- “Parece
que você sabe sobre o que fala.” Conclui Anne.
Este diálogo se passa dentro do quarto do
casal enquanto na sala estão os chefes do marido de Anne para participarem de
um jantar de conveniência da política corporativa.
Anne serve Coq aun vin regado com Riesling. O mesmo cardápio que Alicja serviu
ao seu primeiro cliente.
- “É
como os cigarros, eu não consigo parar... De repente eu tenho dinheiro”.
A arte, às vezes, é cruel. Como em Flaubert
e Proust.
Até breve.
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