quinta-feira, 28 de novembro de 2013

NIUDÊIS



Os meios passaram à fins. Observe.

O automóvel não serve à locomoção, mas ao grau. Assim como o vestido, a camisa, a calça, os sapatos não servem à vestimenta, mas ao grau. A casa e seus pertences não servem à moradia, mas ao grau.

Todas as coisas constituem-se no limite dos bens enquanto fins e não meios. Extensão de corpos que operam diante de outros em um balé frenético como se dançassem tangos.

A vida mesma vai se reduzindo a adquirir ou não os fins, que são objetos em grau. Observe. Há filas para promoções, quartas-feiras malucas, arrastões de eletrodomésticos, liquida ações, blecfraideis...

A felicidade “é” um objeto.

Vi na TV que meninas estão doulando um “aplicativo” em seus esmartes que enquadram em “perfis” os meninos. “Galinha”, “Brocha”, “Dengoso”, “Lindo”, e outros desains de estilo.

Eu mesmo, ontem, enviei para Pretinha por uatsap uma foto de sandalinhas que a avó comprou para Noninha e veio de Pretinha, também por uatsap, como resposta:

- “Ela vai arrasar”!

Não é mais: “Ser é ter”. Estamos arrasando em “Ter é ter”. O objeto é um fim em si mesmo.

*****

Por outro lado, ontem também, passeando com Noninha no colo, mostrei-lhe uma mosca varejeira que planava imóvel no ar. Noninha imediatamente absorveu a novidade e, depois mais tarde, quando eu a perguntava sobre o inseto ela fazia um olhar grave e:

- “Mô... Mô”...

*****

Em Belo Horizonte estão iniciando uma pesquisa social para a análise de como “vivem” os moradores de rua da cidade.

Hoje, pela manhã, assisti entrevistas com alguns “alvos da pesquisa”. Um deles disse:

- “As pessoas passam por nós como se fossemos coisas, pedaços de viaduto, restos do lixo, nada”.

Eles não têm.



Até breve.

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